quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Especialistas: no ar 2a. Onda de Covid ?

Enquanto na Europa - e em especial na Itália - grassa terrível onda da cruel Covid, os cariocas se divertem nas praias do Rio. Do meu distante ponto de observação, eu me preocupo com a inconsequência e a álacre displicência da gente que acorre em grande número às praias da Zona Sul. E sem embargo as aglomerações sao demasiado reais para serem ignoradas. O jogo de faz-de-conta multiplicou as aglomerações - que é o ambiente recomendado por dona Covid. Não se poderá ter ambiente mais conducente à propagação deste mal, de que muitos só tomarão consciência quando jogados em uma UTI. Quando li sobre a reação do Povo italiano e da maneira como o seu Governo se tem esforçado em sufocar o espasmo epidêmico - para que dramas como o da Lombardia não se repitam - eu apreciaria que um pouco desse espírito nos venha de ultramar, para que os intentos de vencer esse flagelo possam transmutar-se em imagens realistas de combate efetivo a tal desgraça moderna, que mais me parece - pela sua álacre inconsequência - querer imitar as tragédias do Medievo. Mas naquele tempo, a ignorância e a estupidez predominavam, pavoneando-se em meio a ameaças que lhes ficavam ocultas pela majestade das respectivas ignorâncias. A Peste era o emblema terrível do desconhecido, do ignoto, e de tudo aquilo a que a gente miúda ou grande não podia ter acesso. Atualmente, a ignorância primeva cede lugar à álacre displicência. Seja numa travessa do Leblon - que funciona como o redivivo convívio dos bons tempos da incúria - seja nas aglomerações irresponsáveis das praias - estejam em Copacabana, em Ipanema e nos lados mais próximos de São Conrado - na verdade elas se espalham como se imbuídas por espíritos pretéritos, que fazem de conta, ao que parece, aos montões de avisos municipais e até federais, todos,ao que parece, imbuídos daquele espírito que pelo visto ainda nos vem dos tempos álacres do Império, em que a nossa gente dizia que eram anúncios para inglês ver. Como se a gente brasileira carecesse de valer-se ainda daquelas ameaças para inglês ver, vale dizer o poder imperial no século XIX, que seria o único válido para infundir respeito no ignavo zé-povinho. Como se vê, pragas e pestes não são apenas criaturas do Medievo, sob as mantas da santa ignorância das multidões. Elas continuam muito vivas, agindo como se a praga maldita existisse para o Outro, e não para os próprios, que guiados pela displicência e a incúria, pensam poder navegar sem medo, nos mares - e praias - infestados por males que se pensa ameacem a outrem, mas nunca aos próprios, guiados que estes são pelos ares de uma sólida e acintosa ignorância. Antes, as multidões temiam forças espaventosas, de que cuidavam de estar ao largo. Hoje, para eles e elas o arrojo e a estulticie passa a valer como escudo. Outrora, a peste era o sinal terrivel que espaventava as gentes. Hoje, elas se acreditam acima dela, enfurnada que teria sido nos distantes campos do Medievo. Enquanto não for possível utilizar a vacinação em massa, os cortes nas inúteis e estúpidas aglomerações serão a única maneira de contra-arrestar essa praga da póa-modernidade. Mas como infudir-lhes aquele terror que votavam às casas e aos núcleos da peste ? A modernidade - ainda que lhes prive dos meios necessários e indispensáveis - não me parece ser uma boa professora, daquelas mestras de antigamente, que infundiam resspeito às classes com um mero fungar. Hoje, essas entidades são fumaças do passado. E como toda fogueira a que recobrem as cinzas da indiferença, nada há a fazer, eis que onde estão as autoridades de antigamente que vendiam caro o próprio abençoado medo que encarnavam ? Democracia é respeito à autoridade do Povo. O que fazer se não mais a escutam nem a obedecem ? Os vates do Medievo nos falam das neves de antanho. Où sont les neiges d'antan ? Ora não há neves nessa terra, nem nunca as houve. Quando irão acaso reinventar a velha autoridade de antigamente ? Essa autoridade que se aceita vira juízo e melhor do que isso, se trasmuta em saúde e esperança ! (Fonte: experiência cotidiana...)

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