quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Perspectivas de governo na Alemanha


                           
               Na CDU (União Cristã Democrata) e no SPD (Partido Social Democrata) - crescem as dúvidas de que vá persistir a aliança - a chamada grande coalizão - entre os cristãos democratas e os sociais democratas. Há dois fatores que carecem de exame: a próxima aposentadoria de Ângela Merkel (e quem irá sucedê-la) e o crescente desconforto dos sociais democratas em exercerem um papel júnior dentro da chamada grande coalizão.
           
             Com a partida de Ângela Merkel e a sua considerável experiência - e o decorrente peso político - não há mais valores que se avantajem no que concerne ao outro parceiro da coalizão. Tais lideranças não são feitas por decreto. Uma coisa é ceder, por consenso, a presidência da aliança entre CDU e SPD, a um valor como a Merkel; outra será reconhecer a precedência da representante da CDU, enquanto nova, como se tal exigisse os termos precedentes que eram atribuídos à Merkel.
                   A SPD está cansada de ser o parceiro júnior da coalizão. Por isso, a resposta da nova líder da CDU, Annegret Kramp Karrenbauer - o acordo de coalizão com a SPD deve permanecer intacto, ou os sociais democratas devem deixar o governo -  é um prato que semelha bastante indigesto para a liderança do SPD - Saskia Esken e Norbert Walter-Borjans.
                   A posição subalterna do SPD -  que poderia ser aceita pelos líderes anteriores, dada a autoridade política da Merkel - se torna agora de mais difícil adequação. O próprio partido social-democrata, ao escolher a dupla de centro-esquerda acima referida, rejeitou o grupo rival, que incluía o vice-chanceler alemão, Olaf Scholz, defensor ferrenho  de uma coalizão com a chanceler Ângela Merkel.
                     A SPD - berço de Willy Brandt e outros expoentes da política alemã - encontra dificuldades com a nova liderança da CDU, a par de como partido político afirmar-se na vanguarda, e, por conseguinte, não ficar a reboque de líderes que não tem a projeção  da Merkel e de outros grandes nomes da CDU no passado.
                       Nesse contexto, Walter Borjans e Esken são mais céticos , apesar de não defenderem por ora o rompimento com a CDU. Eles desejam maior afirmação do respectivo papel na coalizão, e por isso querem a renegociação de questões como o valor do salário mínimo, proteção climática e investimentos, ainda que não esteja claro quão profundas sejam as exigências sociais-democratas.
        
              Assim, o Congresso da SPD, que começou na sexta-feira, deverá mostrar o que exatamente querem os sociais democratas para continuar na grande coalizão. E tal ocorre a cerca de dois anos das próximas eleições na Alemanha. O foco da SPD tem sido a queda nas pesquisas, que muitos atribuem ao fato de que o partido transcorreu dez dos últimos catorze anos como um partido júnior na coalizão de governo.
                          Na hipótese de que os sociais-democratas venham a decidir pela ruptura da aliança com a CDU, ainda não está claro como a situação evoluirá.
                         O bloco de Ângela Merkel poderia tentar com um governo minoritário, ou então partir para a eleição antecipada. Com o crescimento da extrema direita  e o enfraquecimento do partido aliado - a CSU - as perspectivas não seriam das mais animadoras, ainda mais quando se tenha presente a disposição de Angela Merkel de que este será o seu ultimo mandato...

         (  Fonte : O Estado de S. Paulo )       

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