O
editorial de hoje do Estado de S. Paulo toca em uma distinção importante a ser
feita e que se reporta a editoriais ditos de fim de ano, do New York Times e do Financial
Times, grandes e importantes jornais de Nova York e de Londres.
Segundo
o jornal paulista, as matérias em tela ilustram dois fenômenos opostos que não
se excluem, ao contrário se retroalimentam."Por um lado, a imprudência
(sic) do presidente Jair Bolsonaro em relação às preocupações ambientais que,
oscilando entre a indiferença e a hostilidade, está não só estimulando
infrações, como arruinando a imagem do País junto à opinião pública
internacional. Por outro lado, a extrema suscetibilidade desta opinião."
Dado esse contexto, o editorial do Estadão
sinaliza tópicos que me parecem de grande relevância, e que, por conseguinte, carecem
da atenção de todos os brasileiros (meu o grifo): " comparativamente,
o País tem índices respeitáveis de proteção ambiental. Na Amazônia, a lei determina
que 80% das propriedades devem ser preservadas. Além disso, as terras indígenas
e unidades de conservação correspondem a 24,2% do território nacional. Tudo
somado, mais de 66% do território é de vegetação nativa. A lavoura ocupa 7,6%
das terras brasileiras. No Reino Unido, por exemplo, são 63,9% e na Alemanha,
56,9%. Ainda assim, o Brasil é o segundo maior exportador agro-pecuário do
mundo, em vias de se tornar o maior. Nas últimas duas décadas, a área plantada
cresceu apenas 30%, mas a produção de grãos dobrou.
"Conquistas como estas, que colocam o Brasil na vanguarda ambiental
e agrícola, têm sido obnubiladas, contudo, por um excesso de insensibilidade -
por parte do governo brasileiro - aliado a um excesso de sensibilidade - por parte
da opinião pública internacional.
"O retrocesso na preservação da floresta em 2019 é
irrefutável. O desmatamento aumentou
quase 30%, e justamente nas áreas federais protegidas cresceu, entre agosto de
2018 e julho de 2019, 84%. Enquanto isso, entre janeiro e setembro, as autuações por crimes florestais caíram, em comparação com o mesmo período de 2018,
40%. Mas, por mais preocupantes e reprováveis que sejam esses números para o
governo, é preciso considerar que, historicamente, o País vem reduzindo
consistentemente o desmatamento. Entre 2002 e 2004, por exemplo, a média anual
de área desmatada foi de 24,6 mil km2. Desde 2009, contudo, a média está na
casa de 6,4 mil km2."
A seguir, o editorial, perseguindo na sua linha de pretensa
equipolência, ora se aventura em outras áreas: "O desmatamento da Amazônia
é grave e deve ser combatido com rigor. Mas se é insensatez ser cético em
relação às mudanças climáticas, é ainda mais não ser cético em relação ao seu uso demagógico. A
preservação da Amazônia é um capital importante. Quando,por exemplo, o
presidente francês Emmanuel Macron se
vale de uma imagem sentimental como "nossa casa em chamas" para
insinuar uma intervenção internacional ou o bloqueio do livre comércio, ele não
só capitaliza votos com os jovens ambientalistas à esquerda, mas com os velhos
agro-industriais à direita.
"Vale lembrar que 80% do bioma amazônico
no Brasil está preservado. Além disso, por mais dolorosas que sejam as imagens
das queimadas e por maior que seja o seu efeito sobre o regime das chuvas, em
termos de impacto ambiental não há comparação com as toneladas de gases
tóxicos lançados na atmosfera pelos
maiores poluidores do mundo: China, Estados Unidos, India e Rússia. Apesar
disso, é o Brasil que, em 2019, fica com a fama de facínora ambiental
planetário, sendo ameaçado de boicote por governos e empresas.
"Nada disso escusa a falta de políticas ambientais de Bolsonaro. Em
certa medida, ainda mais reprovável é a sua logorreia anti-ambientalista -
contra ONGs, popstars, chefes de estado, bispos católicos -, justamente porque
inflama artificialmente, a troco de nada, a opinião internacional, cobrindo
com espessas nuvens as virtudes ambientais
do País, e ameaçando o seu dínamo econômico: a agropecuária."
(Fonte:
O Estado de S. Paulo)