terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A derradeira trapalhada da Theresa May ?


                          
           Ao retomar o contato com as notícias - oportunamente, esclarecerei os motivos do silêncio que me trouxe  a abrupta interrupção - devo confessar ao leitor amigo que não me surpreende o início de derrocada da Primeiro Ministra.
              Indicada, ao que me consta, pelo seu antecessor David Cameron, derrubado este por um referendo que ele próprio ineptamente convocara, a May não tardou em impressionar pela respectiva sólida mediocridade.
               Fala-se que pretenderia convocar novas eleições e o escambau, mas para mim - ou muito me engano - o seu baú de truques já se encontra falto de belos tecidos e brilhantes, luzentes oferendas, não decerto como os encontrara nas suas arcas  o velho rei Príamo, ao preparar a própria bagagem de dádivas para propiciarem a comiseração do cruel Aquíles.
                 Por isso, a Primeiro Ministra eis que se descobre como que posta em sossego, adia a votação do Brexit no Parlamento, e, em consequência, o seu barco joga desarvorado, o velame descomposto, logo ela que, de pronto, se vê mais agarrada, do que a empunhar o timão de tantos outros, que ao arrostarem os mares encapelados das maiorias adversas, terão a boreste, por cautela e providência, os refúgios que pulsos fortes e mentes claras sabem discernir.
                  Seria como que o rei Príamo, na sua jornada de dor e humilhação, não dispusesse de outro dom que a respectiva dignidade, a par da aura das cãs que ornam o sábio soberano, que sofre a sorte severa de ter de resgatar das mãos de Aquiles os restos de quem em vida fora Heitor, o bravo ainda que humano campeão dos troianos.
                   E ao invés do soberano de Tróia,  a May tem as mãos vazias. Chamada por outrem, que, seja por displicência, seja por afinidade, pensara nela dispor  de alguém que tivesse as virtudes da prudência, comete o erro de quem confia na própria capacidade, a May será a enjeitada da sorte.
                   Não há fado mais cruel do que aquele reservado aos que, a princípio, ignoram as respectivas deficiências, e incorrem no destino daqueles que, ao desconhecê-las, perdem contato com a realidade e pagam o alto preço cominado aos que se lançam por ínvias e ignotas veredas.
                     O pior de tudo é que essa gente traz consigo muito sofrimento, que sói golpear mais forte aos infelizes que, menos por querer, são arrastados pela torpeza alheia à sorte madrasta com quem pensavam nada terem a ver.    
                     Chamem as carpideiras: que venham chorar suas ressecadas lágrimas pelos pássaros das pardas penas do poleiro de Cameron e May!
 


( Fontes: Homero, llíada (livro XXIV); Luiz de Camões, Lusíadas )                 

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