terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Pobre Petrobrás

  

         Quando os males são muito grandes, faltam as lágrimas. Submetidos à saraivada de más notícias sobre a maior empresa nacional, a Petróleo Brasileiro S.A., pode revelar-se uma estranha síndrome. O ruim diante do pior e mesmo do péssimo passa a parecer, se não normal, pelo menos quase aceitável.

         O cinismo da atitude daqueles que entoavam loas à grande empresa, enquanto, à socapa, a submetiam a toda espécie de crimes e velhacarias, foge, pela sua desproporção, a reações cabíveis e comensuráveis com a debochada largueza da atividade delituosa.

         Nunca se terá visto tal concentração de todo tipo de velhacaria, a ponto de tornar os mal-feitos do artigo 171 como cousa de criança.

        E será quem sabe a desmesura da ganância criminosa, assim como a desbragada ousadia – como se o Brasil houvesse virado imensa Nigéria, e o assalto, roubo e furto ganhassem a insana certeza não do perdão, mas de funda e extrema ignorância que nada vê e tudo deixa passar?

       A cada jornada, os dias desfiam nas páginas de jornais e revistas a insolente parada de todo tipo de falcatrua. A vítima é uma só e se chama Petrobrás. Há poucos heróis e heroínas nesta estória. Nada mais próprio do que a perseguição da funcionária honesta da Petróleo Brasileiro S.A. Venina Fonseca. Em tal sociedade, que respostas poderia receber, senão o especial tratamento que a consignaria aos corredores e as salas sem espera ?  Espantará acaso que a tenham tratado como pesteada?

        Em tal casa, em que tudo virara de ponta-cabeça, como se poderia ter qualquer esperança quanto a atitudes sobranceiras e honestas?

        E haverá  homenagem maior a esta grande criação da boa política e da brava gente brasileira que a dessa choldra em que os de dentro e os de fora semelham dar as mãos na faina indigna de despojar o carro-chefe da missão Brasil ?

        Por isso tampouco há de surpreender a demora em reagir diante de tanta desfaçatez e desonestidade.

        Estará podre acaso a estrutura e a tal ponto, que temerão nela mexer, com as medidas que se impõem, pois no ar permanecem grandes dúvidas, a que se agarram, como nos transes do afogamento, aqueles e aquelas a quem dilaceram as incertezas.

         Pensam ganhar tempo, mas se tudo vai à breca, a começar pelo valor das ações que despencam tanto no Brasil, quanto no Norte maravilha, e nessa queda impõem cruel, imundo e desbragado castigo àqueles cujo único erro foi confiar na promessa de uma grande empresa, surgida da mão de talvez o nosso maior estadista, e hoje em aparência consignada ao ferro-velho e a campo imenso de muambas e embustes.

        Quem antes muito falava, e até tingia as mãos inequívocas com o petróleo que antes diziam cá não existir, hoje está calado em sepulcral silêncio. Chô! Eis que nada teria a ver com esse maldito escândalo.

        A começar pela Presidenta, continuando pela boa amiga, e com elas toda a choldra reunida – empreiteiras, a imensa e laboriosa diretoria, os representantes do partido hegemônico, os delatores, premiados ou não, e por aí afora, na terra das mamatas, maracutaias e boquinhas – que bom e imenso trabalho para o juiz Sérgio Moro, o Procurador-Geral Rodrigo Janot e os que a eles se associam. Eia pois, quem sabe, se poderá fechar esse ralo imenso da corrupção.

       E antes de tudo, procuremos, como o mendigo-filósofo, o severo, intemerato juiz que suceder possa ao Ministro Joaquim Barbosa, que interrompeu o bom combate, tangido sabe-se lá por que ameaças.  

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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