sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Diário da Mídia (XXXIII)

                            
 
A posse de Eurico no Vasco

 

     O anterior tratamento dispensado ao Vasco da Gama, na calamitosa presidência do Senhor Roberto Dinamite, deverá mudar radicalmente, se se pode julgar pela cobertura da posse de Eurico Miranda pelo Globo.

     A despeito das restrições que se fazem a Eurico, e algumas dessas transpiram  na reportagem de O Globo, não há negar pela sua folha de serviços ao clube, e aos campeonatos conquistados, que estava na hora de virar a página da triste gestão do senhor Dinamite, que, entre outros, assistiu impávido – e com pífios, inúteis reclamos – à manobra paulista de gatunar o CRVG em campeonato nacional. Ao invés de tomar a seu devido tempo as indispensáveis providências, o Senhor Roberto Dinamite nada fez, deixando que as diversas obscuras jogadas tivessem êxito pontual, para ao fim do certame viesse pateticamente a público declarar que o Vasco era o vencedor moral do certâmen (quem ganhou, à custa desse suposto favorecimento, foi o Corinthians). Como tal não existe – a lista inclui os reais vencedores, e não os supostos ganhadores morais – os louros foram para o Corinthians, graças aos tópicos (e muitos) gols anulados contra o CRVG em diversas partidas, além de pênaltis não vistos por peculiares árbitros, etc. Tudo isso correspondeu a cerca de 7 a 8 pontos perdidos, e sobre esse leite derramado o  caberia  a reivindicação pontual e enérgica, para matar no nascedouro a estranha manobra oriunda ao que tudo indica de São Paulo.

       O senhor Dinamite reservou, outrossim, ulterior surpresa ao Vasco. No penúltimo dia da gestão desse senhor, foi assinado entre o clube e advogado acordo judicial, com confissão de dívida, e tal apressada assinatura precedeu mesmo a própria citação do CRVG pela Justiça.  E – ainda segundo o artigo – Eurico, ao convocar a entrevista e ao reportar-se ao que denominou de ‘denúncia de conluio’,  foi tornado transparente uma questão pelo menos dúbia, eis que toda a pressa que cercou o reconhecimento da dívida – prescindindo até da citação judicial – forma  atmosfera para esse conciliábulo de ultra fim de reino que se torna, no mínimo, dúbia, pela pressa demonstrada para a firma desse ato, literalmente ao cerrar das cortinas da sua inglória gestão.

      A cerimônia da posse demonstra, por outro lado, que a presidência do Vasco volta a ser ocupada por alguém que, a despeito das reservas que provoca, merece respeito, como o evidenciam as presenças do vascaíno Prefeito Eduardo Paes e do Ministro dos Esportes Aldo Rebelo, palmeirense, mas dito simpático ao CRVG no Rio de Janeiro.

      Há a notar, a propósito,  reportagem publicada em ácida linguagem, como se de correspondente de presença forçada em  solenidade de clube adverso. Ao contrário do sabujismo com que a Rede Globo e afiliados tratam o Flamengo, a parcialidade evidenciada reponta em muitos parágrafos, que se assinalam por má-vontade e tendência de ressaltar os supostos aspectos negativos da cerimônia. Tal se deveria  à citada atitude pregressa, que desfaz do Vasco em qualquer conexão.  O Globo parece esquecer que uma organização como a sua não deveria agir e manifestar-se de forma tão acintosamente favorável a um clube, que por acaso é tido como o de maior torcida. Como veículo público que são, as Organizações Globo não seriam a sucursal do Flamengo, nem a parcial observadora do esporte no estado do Rio de Janeiro. Quem  sabe, a agressiva atitude da reportagem se deva a uma subjetiva reação contra o novo Vasco, que voltará para ocupar o seu lugar no esporte (e futebol) carioca, e não o posto lamentável em que a desastrosa gestão do Senhor Dinamite o colocou nesses últimos anos. Será que isso incomoda aos coleguinhas de O Globo ?

 

A intensificação da repressão política na China

 

           O livro de Evan Osnos, recentemente resenhado neste blog, já demonstrara que a chegada ao poder de Xi Jinping – a despeito das esperanças de turno – não se traduzira em qualquer mudança para melhor na política repressiva e no férreo controle da censura sobre os meios de informação.

          Verifica-se, de resto,  pela análise do jornalista americano – que esteve por cinco anos, de 2008 a 2013 na China – onde aperfeiçoou o seu conhecimento do mandarim, além de viajar para todas as áreas que possam ser visitadas pelos correspondentes estrangeiros, da importância desse momento na trajetória da atual segunda potência mundial econômica.

        Não sei se o livro de Osnos será traduzido para  o português, mas a amplitude de sua cobertura da realidade chinesa – e em especial as expressões do dissenso – estaria por merecer tal atenção.

         De certa forma, malgrado as expectativas e o esforço hercúleo (e corajoso) de chineses que lutam para trazer uma parecença de democracia para o chamado Império do Meio, essa porfia será necessariamente longa e cheia de percalços para os que nela se empenhem. Liu Xiaobo, a quem coube o dúbio galardão de ser metido em masmorra por propor reformas democráticas bem-comportadas (no que sucede ao seu longínquo predecessor Carl von Ossietski, a quem Hitler e os nazistas jogaram em campo de concentração, além de não permitirem que o dissidente ou representante seu fosse a Oslo). Como se vê os extremos, tanto o de direita, quanto o de esquerda têm atitudes parecidas. O fundamento delas é o medo.

        A ritual esperança que cerca os novos governantes não constituíu exceção para Xi  Jinping, no tocante ao antecessor Hu Jintao. Na verdade, ambos são expressão de uma direção burocrática, imposta por um partido, cuja ideologia se restringe – depois do desastre de Mao Zedong – ao poder repressivo e no consequente autoritarismo.

       Osnos mostra que existe uma vivaz presença na internet – onde se expressa com mais desenvoltura o dissenso, malgrado as muralhas de fogo e os vetos do PCC a tudo que possa revelar oposição à direção verticalista dessa ditadura cuja ideologia se cinge à repressão. Como Zhao Ziyang – o alto dirigente partidário mandado prender pelo então líder supremo Deng  Xiaoping  - havia intuído a grande reforma na China deve passar pelo PCC, que na sua presente versão funciona como virtual preservante da corrupção.

       Desde o começo de sua gestão, Xi Jinping incentivara ‘confissões’ em encontros com populares chineses, escolhidos a dedo  para estranhas reuniões. Se a prática – que se inspira em Mao – não progrediu com  Xi,  bastaria o seu aparecimento fortuito para afastar quaisquer ilusões liberais de possíveis mudanças na direção política.

       Na internet, se expressam, com precauções variáveis, os potenciais dissidentes. Dado o temor pânico manifestado pelo PCC quando da primavera árabe – e de outros fenômenos correlatos – se tem idéia da inconfessa fraqueza do regime, que tem o medo  paranoico do novo e sobretudo da democracia, que seria a antítese da ordem atual, que pode evidenciar em diversos planos com os dissidentes – como Ai Weiwei, artista respeitado e de alta linhagem na ordem comunista, e Chen Guangcheng, o advogado cego, que por orientar os camponeses de sua vila padeceu cruel repressão, e foi salvo pela própria coragem e artifício, na sua fuga rocambolesca que o levou, sob as bênçãos da então Secretária de Estado Hillary Clinton para o exílio em New York – que fora do Partido não há salvação (excluídas pouquíssimas exceções... devidas sobretudo à intervenção da potência americana).

         Agora, Xi Jinping mostra como o ‘liberalismo’ (que lhe fora esperançosa e ritualmente pespegado em início de mandato) não passa de uma ilusão, eis que em um acirramento ponderável na repressão,  o governo mandará doravante profissionais de tevê, cinema e rádio para a ‘reeducação’ para a respectiva reeducação na campanha chinesa. Não se sabe se essa prática seguirá a cartilha de Mao ou a de outros regimes comunistas, como o cambojano. De qualquer forma, temos pela frente um cruel, bárbaro retrocesso nas poucas liberdades permitidas na área da cultura e da comunicação, e de que o livro de Evan Osnos um quadro veraz, ainda que esperançoso em certos aspectos.

          A liderança chinesa teme sobretudo a ameaça da democracia, em todos os seus avatares. Por isso, é previsível que os dissidentes que atuam na internet estarão mais expostos às bárbaras práticas repressivas dos órgãos de controle, que pelo simples fato de não terem endereços formais pensam retrair-se para melhor invadir a privacidade dos infelizes que acreditam no desejo irrepresso da liberdade, esse flagelo das ditaduras, que por causa dele perdem o sono, enquanto se lançam na busca frenética da repressão sem limites.

            Sabemos como tudo isso há de terminar. O problema está nos prazos.

 

( Fontes:  O Globo, Evan Osnos (em Age of Ambition) )    

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