sábado, 6 de dezembro de 2014

O Legado de Dilma

                                       

       Dilma I está por terminar, e num cenário normal, com a sua reeleição por cerca de dois milhões de votos, a mídia deveria estar pululante de notícias acerca do novo mandato recebido pela candidata do PT.

       E, no entanto, não é o que está acontecendo.

       Seria como se o primeiro mandato, com os seus erros de gestão, teimasse em não sair do quadro.

       Pois, para alguém que chegasse de fora, há de parecer estranho que as questões oriundas do Dilma I continuem não só a ocupar o noticiário da imprensa, mas, o que bem é mais estranho, persistam a exigir uma atenção que muitos definiriam como prioritária.

       E não estou só me referindo às questões da inflação, que avança 0,51% em novembro, e nos últimos doze meses, acumula alta de 6,56%. Pelo quarto mês seguido, ela estoura o teto da meta de 6,5%, e há fortes indícios de que essa pressão inflacionária entrará em 2015, de novo arrebentando com esse teto.

      Eis uma das ‘conquistas’ da candidata de Lula: trouxe o dragão de volta! De resto, são quase dispensáveis esses cômputos do IPCA. Qualquer brasileiro, adentrando um supermercado, ou percorrendo uma feira-livre, verá que a carestia voltou mesmo, com aquele imposto cruel de que acreditávamos estar livres, com a realização do Plano Real.

      Lula e Palocci preferiram não brincar com a carestia. Com Mantega e as capitalizações, o quadro não estava brilhante, mas de um jeito ou de outro, a inflação parecia sob controle.

      Dilma, de forma irresponsável, trouxe de volta um desenvolvimentismo ultrapassado, e sobretudo modos de aprendiz de feiticeiro, que não sabe com o que está brincando. Nos primeiros tempos, pensou até em controlar o fenômeno com fórmulas retóricas, que logo trouxeram lembranças desagradáveis de tempos que julgávamos superados. A carestia não se doma com slogans nem com ameaças vazias, como nos tempos dos ministros fazendários que chegavam com seus planos heterodoxos, para em seguidas caírem nas garras do dragão.

      A Presidenta foi reeleita por uma coalizão à qual a bolsa-família e o assistencialismo desenfreado eram os valores primordiais a serem preservados. A outra metade do Brasil pensou mais neles, porém para essa apertada maioria pesou mais quem era suposto controlar a boca do caixa.

      A palavra esquizofrênico tem sido muito usada no noticiário. Em termos de voto sufragante em aprovação ao suposto legado do Dilma I, diante da série de problemas na economia – excluída a inflação, temos a estagflação, esse peculiar vocábulo do economiquês, em que juntamos o dragão com a mesmice, ou, se querem, a falta de confiança dos empresários.

       Como estará o mercado agora, depois que o Ministro-designado Joaquim Levy viu mais uma operação de ‘empréstimo’ ao BNDES, justamente o que precisara não mais seria feito ?  E continua a inchar a dívida bruta da União, a par do desrespeito escrachado à Lei da Responsabilidade Fiscal. A posteriori, dá até para entender melhor a frenética oposição do PT à sua aprovação pelo Congresso, chegando mesmo a contestá-la no Supremo ...  A LRF, nesse governo que institucionaliza o jeitinho e a contabilidade fiscal criativa, não tem mesmo espaço, nem credibilidade. Não é de hoje que o governo tem contribuído – apesar de afirmar o contrário – para torna-la uma legislação pra inglês ver, com a sua implementação desfigurada sobretudo pelo espírito que preside a operação desse governo. A LRF era a chave da abóbada da responsabilidade fiscal do Governo. Como ela parece não mais estar entre nós, abriu-se a  temporada de caça...

        Mas o dito de Aporelly  continua válido. Há muito mais  coisas no ar, além dos aviões de carreira. Pronunciado na República Velha, pelo padroeiro dos humoristas políticos em Pindorama, quem há de negar a validade desse diagnóstico de dias de crise?

        O Brasil sofre um ataque brutal da corrupção. E ela, criatura nutrida na Petrobrás durante o primeiro mandato de Dilma, continua a assustar.

        De Curitiba, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Brasil, continua a trabalhar. Foi apreendida no escritório do doleiro Alberto Youssef uma planilha com lista de 750 obras públicas de infraestrutura, tocadas por 170 empresas. Essa planilha relaciona valores que, somados, chegam a R$ 11,9 bilhões. Do total dessas obras listadas, 59% estão ligadas à Petróleo Brasileiro S.A.

        Por isso, tal planilha, descoberta no escritório do doleiro, indica que o esquema  criminoso pode englobar outras estatais e empreiteiras, no Brasil e no exterior.

        Diante desses novos elementos de prova,  o juiz Sérgio Moro é levado a sustentar que “o esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além da Petrobrás”.

        A par disso, coube ao Ministro do Supremo Gilmar Mendes, que é um dos atuais representantes do S.T.F. no Tribunal Superior Eleitoral – ao lado de seu Presidente, o Ministro Dias Toffoli -  a atribuição por sorteio do exame da contabilidade da candidata vencedora Dilma Rousseff, no último pleito. Para tanto, está sendo assistido por inúmeros técnicos em contabilidade dos órgãos interessados.

       É um trabalho aturado, mas relevante, para determinar da lisura dos procedimentos relativos à última eleição presidencial.  Como compete nesses casos, cabe silêncio ao observador, enquanto o magistrado trabalha.

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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