quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Petrolão vira Impeachment ?

  

          Se abstrairmos os impedimentos éticos – e o quadro nos força a essa conclusão - o escândalo da Petrobrás terá surgido por misto de húbris e de simples obtusidade mental. A mais elementar prudência – dentro da norma ibérica de que até por velhacaria convém a uma pessoa ser honesta – foi abandonada pela malta dos companheiros petistas, guindados por demasiado tempo a posições de mando a cujas tentações obviamente não estavam psicologicamente preparados.

         As sereias de Brasília não se aninham, com o seu canto enganoso nas ondas azuis do Egeu, mas em outros rochedos que dispõem de uma tão falsa quanto atraente construção que infunde aos que nela caem a fugidia impressão de um poder sem travas e limites, prometendo através de seus sinuosos encantos miríficas riquezas sem os alicerces do trabalho.

        Se a esta falsa onipotência, os caprichos das eleições agregarem as inopinadas oportunidades que a sorte ou a incompetência do adversário carrearem para as mãos ávidas dos companheiros, as probabilidades de que as ocasiões  de ganho ilícito  vão crescer não mais aritmética mas geometricamente.

        Como no jogo da roleta, a fortuna é má conselheira tanto para o aprendiz quanto para o mestre. Cada um no seu poleiro se deixa docemente vencer pela tentação do acréscimo. Se por vezes negaceia, aí está a voz macia a desenhar miríficas riquezas.

        Afastadas as barreiras éticas, a corrente dos sucessos tende a transformar o ganho ilícito em simples acidente de percurso, daqueles que se contemplam à distância, por trás da vidraça bem cerrada da limusine que corre não se sabe bem para onde.

        E assim o poder corrompido envolve peões, soldados rasos, mas também a chefetes e executivos, até alcançar quem pensa desenhar as grandes linhas do Leviatã.

       A corrupção, quando o poder se torna absoluto, se deforma em um crescimento sempre mais rápido e invasivo. A desmedida, assim como está na máxima do Lord inglês,  se acha também nos seus mais modestos operários. Do amo e senhor ao criado, a distância e a necessária culpa podem ter dimensões diversas, mas  a autoridade que soube evitar esse sórdido amasso na obscuridade ambiente há de brilhar com a forte luz que marcará posições e demarcará perante a opinião pública as companhias de culpados, tanto grandes, quanto pequenos.

       É a hora da justiça, que é serva do momento. Aqui não tem valia as senhas, as palavras de ordem, o aparelhamento do estado, as ilusões de um poder acima das contingências. Ao mudar de vestes, trocando as rotas da oposição pelo fastuoso veludo do mando, terão esquecido a norma simples do bom governante.

       Bem administrar é gerir a coisa pública como ela o é, sem distinções entre companheiros e não-companheiros. Não há, nesta república, senão cidadãos, e todos eles comuns.

       As crises – e as revoluções – são as fábricas de um futuro mais justo e mais igual. Não podemos ser nem surdos aos seus clamores de justiça, nem cegos à exigência de separar o joio do trigo.

         A falha do Mensalão foi que ficou pela metade. É hora de justiça e não de meias-medidas.

         As revoluções traídas são feridas que ficam expostas aos pósteros. E, por desdita,  trazem mais sofrimento. Depois de mostrar-nos o paraíso, ao permitirem que de novo se cerrem os portões do desengano, recriam todo o mal que se julgara possível vencer.   

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