domingo, 21 de dezembro de 2014

Colcha de Retalhos B 47

                               

Obama e o embargo

 
        No dia dois das novas relações  Estados Unidos – Cuba,  o presidente Barack Obama tem pela frente o dragão do embargo. Com a perda da maioria democrata também no Senado – a Câmara de Representantes é outra estória, e só poderá ser aí encaminhada a respectiva normalização, vale dizer, a alternância democrática, quando for possível corrigir o maciço gerrymander que um conjunto fortuito de circunstâncias engendrou. E isto vai demandar tempo – à primeira vista o quadro para a aprovação de medidas que terminem com o embargo se afiguraria bastante complicado.

        No entanto, uma análise mais aprofundada da questão – e do jogo de interesses na sua aprovação - há de indicar que este embargo, por não ser inexpugnável,  pode  ser até afastado por um Congresso de maioria republicana. Explico-me: enquanto o bancada do partido democrata no Senado votará, sem maiores dissidências,  em prol de sua derrogação, já o majoritário GOP não nos apresenta a frente maciça contrária, como antes se pensava. Não há dúvida que Marco Rubio e outros republicanos tendem a  expressar-se a favor da manutenção do embargo, mas ao contrário dos democratas – que apoiam a sua abolição – a frente republicana não está coesa e, ao que parece, tem representantes favoráveis à tese do Presidente Obama.

         Por outro lado, há interesses comerciais e empresariais na balança, e a cercania topográfica da ilha com os Estados Unidos continental igualmente trabalham a favor de se afastar essa considerável barreira ao desenvolvimento do intercâmbio entre as duas economias.

         Todos esses fatores, portanto, somam a favor de eventual  derrubada dessa portentosa barreira – ainda que a batalha possa ser longa. De qualquer forma, por circunstâncias políticas e econômicas há um conjunto de forças que poderá vencer a resistência do núcleo-duro da comunidade cubano-americana. Os interesses econômico-financeiros deverão, pela sua força inercial, derrubar a resistência advinda desse núcleo que congrega os primeiros opositores à revolução de Fidel Castro.

 

A Lista do Delator P.R.Costa

 

        A lista de Paulo Roberto Costa, o ‘Paulinho’ de Lula, ex-diretor da Petrobrás, apresenta 28 nomes de políticos, como recipiendários de propinas, dentro do esquema investigado pela Lava-Jato.

        Pode ser interpretado como um retrato sem retoques da política, neste governo petista de Dilma Rousseff.

        Além de Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado,  Henrique Alves (PMDB), presidente da Câmara, Antonio Palocci (PT- ex-Ministro da Fazenda), Tião Viana (governador do Acre reeleito –PT), Humberto Costa (líder do PT no Senado), Edison Lobão (Ministro e Senador Licenciado – PMDB), Sérgio Cabral, ex-governador do Rio - PMDB; Roseana Sarney (ex-governadora do Maranhão – PMDB), Lindbergh Farias (Senador – PT), e Mário Negromonte (Ministro das Cidades – PP), Sérgio Guerra (PSDB – falecido), e Eduardo Campos (PSB – falecido). A lista não para aí: estão também relacionados - do PT: Gleisi Hoffmann, Senadora; Delcídio do Amaral, Senador; Vander Loubert, deputado federal; e Candido Vaccareza, deputado federal não reeleito;  do PMDB:  Valdir Raupp, Senador, Romero Jucá, Senador; e Alexandre Santos, Deputado Federal, não se reelegeu; do  PP:  Ciro Nogueira, presidente do PP e Senador, Senador Benedito de Lira, Nelson Meurer, deputado federal, e Simão Sessim, dep. Federal. Por fim no PP,  Luiz Fernando Faria, Dep. Federal, José Otavio Germano, Dep. Federal, e os deputados federais não-reeleitos João Pizzolatti  e Aline Lemos e o ex-deputado Pedro Corrêa.

            Deverão, de resto, ser melhor esclarecidos os casos de Eduardo Campos e Sérgio Guerra, ambos falecidos.

 

A situação de Graça Foster

 

          Apesar do comovente apoio que lhe vem sendo prestado pela Presidenta Dilma Rousseff, a situação de Graça Foster na Petrobrás está longe de ser esclarecida. Muitos comentaristas consideram que ela não tem mais condições políticas de se manter na presidência da Petróleo Brasileiro S.A. A lógica no caso é simples: espera-se de uma chefe de empresa de tal importância na economia nacional uma atitude mais alerta às realidades circundantes e existentes na companhia sob sua responsabilidade.

            E a sua situação perante a atuação da corajosa Venina Velosa da Fonseca continua a piorar. Em depoimento de cinco horas, a ex-gerente da Petrobrás reafirmou a dezenove do corrente, que a presidente da Petrobrás, Graça Foster, e toda a diretoria da empresa sabiam de irregularidades nos contratos da Diretoria de Abastecimento, chefiada por Paulo Roberto Costa.

            Em tal sentido, e consoante seu advogado,  Venina entregou  cópias de documentos e e-mails que afirma ter enviado a integrantes da cúpula da companhia. Neles, Venina Fonseca alerta sobre desvios em contratos de comunicação e nas obras da Refinaria Abreu e Lima. A funcionária da Petrobras entregou igualmente ao M.P. o seu computador, onde estão gravadas as ditas comunicações.

 

Rio de Janeiro: onde está a Polícia?

 

           A Polícia Militar, subordinada ao Secretário José Mariano Beltrame,  volta a pautar-se pela ausência na Linha Vermelha, que é  uma das principais e mais movimentadas artérias de acesso ao centro do Rio de Janeiro, assim como para o aeroporto do Galeão.

            Na sexta-feira, novamente, os motoristas de carros particulares e de taxi, foram assaltados por bandidos que ingressam nessa via rápida através de buracos nos espaços laterais, buracos esses que são feitos pelos próprios meliantes. Além de apontar para a incúria das autoridades responsáveis – que não providenciam a reposição das lâminas – durante o ataque (que em geral ocorre de manhãzinha), os facínoras dispõem de inteira liberdade para assaltar os motoristas, eis que a polícia prima pela ausência, malgrado a repetição de tais práticas.

             Não é só na Linha Vermelha em que o braço da lei não aparece.  Ontem, por exemplo, ao sair para algumas compras do cotidiano, pude verificar que, na extensão de quatro quarteirões, todos eles próximos da praia de Ipanema, não havia vivalma com uniforme da PM.

             Dada a presença anterior de policiamento intensivo nesses locais – o que se deve a repetidos assaltos e tentativas  – julguei assaz estranho que a área estivesse totalmente desprovida de agentes da lei, justamente na tardinha, ao cair da noite, hora da preferência dos grupelhos da mala vita para o assalto dos transeuntes.

 

A Entrevista Anual de Putin com o Povo Russo

 

                Seguro de sua popularidade junto ao povo russo – que chegaria aos 75%  a favor, embora palavra de cautela se imponha, porque a Federação Russa não é exatamente uma democracia, nem os institutos de opinião se afiguram confiáveis – Putin enfrentou a maratona de três horas em que responde às questões dos cidadãos russos.

                 A sua postura foi a do negativismo. Segundo ele, não existe crise alguma na economia russa. Pela faccia tosta, como diriam os italianos – a tradução mais aproximada para o português seria cara de pau -  pensa Vladimir Vladimirovich refutar a presença de qualquer crise. Se terá impressionado o cidadão comum, como ele está lidando com uma situação factual, o seu engenho não terá boas perspectivas de vencer a realidade a médio prazo, e através disso, convencer os seus ouvintes.

                Pela ousadia e até desfaçatez, o presidente Putin pode lograr algum sucesso, mas qualquer impressão arrancada pela força de suas negativas tenderá a dissipar-se, quando cada cidadão tiver a oportunidade de verificar no dia a dia, que as coisas não estão assim tão bem quanto apregoa o presidente.

                 Outra promessa feita por Putin e sem qualquer perspectiva de ser aceita pelo governo de Kiev, é a oferta de apresentar-se como mediador para a crise ucraniana. Nem como humor negro um tal despautério pode ser conjuminado. Em outras palavras, que possibilidades tem alguém que invadiu a Ucrânia, que se apossou da Crimeia, e que tudo tem feito para desestabilizar o governo de Kiev – agora com a cara lavada vir a apresentar-se como mediador nessa crise ?

                  Esse cinismo na proposta só pode existir em ambientes como o do encontro anual com o povo russo. Apesar de a guerra não-declarada com a Ucrânia já tenha sido associada aos body-bags[1] de soldados russos mortos nesse conflito fabricado por Putin, a grande maioria da população ainda ignora a margem de envolvimento (e de dispêndio) com tal aventura imperialista, que reedita moldes do século XX, como os ‘movimentos espontâneos’ dos nazistas e de suas quinta-colunas. Está na base do controle da informação que essa jogada anual do interrogatório do Presidente pela população pode ser encenada.

              Mas uma crise com a seriedade e a potencialidade da presente não semelha suscetível de ser escamoteada do povo russo, a despeito da audácia de gospodin Putin. Como a mentira terá sempre as pernas curtas, a negação da realidade não terá fôlego de apresentar as coisas como elas não são. No médio prazo, se não intervierem outros fatores que o favoreçam, as perspectivas apontam para dificuldades crescentes na manutenção de um teatro de faz-de-conta.

 

( Fontes:  Rede Globo, Site do Globo )



[1] O body-bag – um plástico negro que recobre o cadáver – é o procedimento dito usual para expedir ao país natal o saco com o cadáver do soldado vitimado em combate. Foram os body-bags e seu volume que apressaram o fim da aventura americana no Viet-Nam.

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