segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Governo Dilma Rousseff

                                  
          Devendo exclusivamente sua presença na sala presidencial do Palácio do Planalto ao seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, e já visivelmente empenhada em preparar o quadro político mais consentâneo para a sua tentativa de reeleição, a pergunta que se impõe ao eleitor e observador político será a de que títulos e realizações Dilma Rousseff dispõe para pleitear um novo mandato.
         Não só o fato de achar-se presidente do Brasil que ela  deve ao seu criador Lula da Silva. O ex-presidente continua muito presente em seu governo. Não reedita, é verdade, literalmente o maximato mexicano, em que Plutarco Elías Calles sufocava os respectivos sucessores, verdadeiros títeres no palácio, até que Lázaro Cárdenas o tenha despachado por via aérea para o estrangeiro, pondo fim à inconstitucional presença de don Plutarco.
         As coisas não chegam a esse ponto na administração da antiga gestora – como chefe da Casa Civil – do governo Lula. Para tanto, Dilma semelha singularmente dotada, mas em termos de presidenta – como gosta de ser chamada – continua pendente a pergunta a que veio.
         Não é que careça de autoridade – tem até demais – mas a questão ainda não respondida será a da utilidade prática desse poder. Em um gabinete inchado aos limites do despropósito – acaba de nomear o seu trigésimo-nono ministro – nunca a quantidade se mostrou tão inimiga da qualidade.
         Todos são muito tementes aos destemperos de dona Dilma, mas tanta personalidade não se tem convertido em administração que encha os olhos da opinião pública. Além dos critérios de escolha, o número excessivo, além do inútil peso orçamentário, não sói ser sinônimo de bom governo.
        Há pouco falava de Lula da Silva. Em verdade, se não existe formalmente o maximato mexicano, o fundador do Partido dos Trabalhadores está em toda parte nesse governo.
        Dele é a discutível orientação de formar essa descomunal base partidária, de fome insaciável em termos de prebendas e vantagens, mas que se mostra relutante a aportar a  respectiva (e imponente) maioria parlamentar em apoio às medidas desejadas pelo governo de Dilma Rousseff. A sucessora de Lula,neste capítulo coleciona derrotas, como no Código Florestal, e agora na M.P. dos Portos. Diante da velha máxima de que só a recíproca é verdadeira, torna-se sempre mais candente a indagação de que serve tão inchada maioria, se ela tem por hábito tomar o freio nos dentes e fazer o que bem entenda, desrespeitando os recados da inepta assessoria parlamentar do Palácio do Planalto.
        Se a serventia para a Nação brasileira de tal criação lulesca se afigura mais do que duvidosa, a pergunta seguinte concerne aos efeitos do dílmico propósito de reeleger-se. Os meus leitores sabem o que penso sobre essa mais do que discutível contribuição de FHC. A reeleição é um instituto pernicioso, que em nada favorece o bom governo e muito menos o combate à corrupção. Essa camisa envenenada de Nesso disforma as administrações sejam federais, estaduais ou municipais. Se há referendo urgente neste país é o da consulta à Nação sobre a continuidade dessa dádiva maldita.
        Politicamente, Lula da Silva é a grande presença no governo Dilma Rousseff. Decerto presidirá à estratégia de viabilizar a reeleição de sua discípula. Para quem disso alimentasse dúvidas, basta ver a propaganda de Dilma, em que o ex-presidente comparece de forma avassaladora, com o que se frisa subliminarmente a mensagem de que o grande guia político continua a ser o fundador do P.T.
        Por enquanto, os adversários de Dilma são muitos, mas não amedrontam pelo peso. Aécio Neves não se inspirou no antepassado Tancredo Neves para preparar a base da própria candidatura. Tudo fez para enfraquecer a postulação de José Serra na eleição passada (negou-se a compor a chapa do PSDB; e o cristianizou em Minas). Agora, fica-lhe difícil unir o tucanato. Eduardo Campos tem carisma e encanta o eleitorado feminino. Mas a sua postulação pode ser um tanto prematura. Marina Silva é um nome simpático, e se apóia na magnífica performance da eleição passada, em que converteu ridículo tempo na propaganda em mais de dezoito milhões de sufrágios. A sua base partidária, minada por apparatchicks verdes, se afigura, contudo, débil, e  sua Rede por ora tampouco promete.
        É de estarrecer, por conseguinte, que Dilma e a situação se empenhem em enfraquecer no tapetão ainda mais o quadro político adversário.
        Será que o seu medo se deve aos tropeços do respectivo governo (volta da inflação, medíocre gestão fazendária, com queda do PIB, incremento da dívida, e desorganização na gestão, com a consequente paralisia nos investimentos) ?
       Lula mais Dilma funcionaram nos governos do fundador do P.T.  Menos do que Primeiro Ministro, Dilma seria a gestora administrativa, enquanto Lula cuidava de viabilizar politicamente a administração, permitindo que a política econômico-financeira (a cargo de Antonio Palocci e Henrique Meirelles) se desenvolvesse sem interferências.  As coisas começarem a não andar tão bem com a vinda de Guido Mantega.
       Agora, Lula da Silva paira, mas decerto não governa. E é aí que mora o perigo.

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