domingo, 5 de maio de 2013

No Vermelho

     O turismo é apenas uma das facetas de nossas transações que está fazendo água. Como não se ignora, com o real ainda supervalorizado, há maiores incentivos para as viagens de brasileiros ao exterior.
     As passagens aéreas, geralmente indexadas em dólar, ficam mais acessíveis. A par disso, a maior atração comparativa das compras nos Estados Unidos e na Europa compõe  o quadro negativo.  Seja dito, outrossim, que os impostos a gravarem as mercadorias no Brasil, muito mais elevados do que os americanos, contribuem de forma não intencional para aumentarem as desvantagens nas contas externas.
     Dessarte, os brasileiros gastaram no exterior US$15,6 bilhões do que os estrangeiros aqui. Tal resultado deficitário pelas razões acima expostas (e os altos custos nacionais ) é a presente conformação deste importante ítem do balanço de bens e serviços.
     Assinale-se, por oportuno, que foram fatores determinantes na diminuição na vinda de estrangeiros ao Brasil em 2012 a crise na Europa, assim como a recessão na Argentina, eis que os nossos vizinhos constituem o contingente externo mais numeroso dentre os turistas que nos visitam.
     Por outro lado, a balança comercial que no passado representava o trunfo principal do Brasil - com os seus vultosos superavits acumulados nas trocas comerciais de mercadorias - não tem ora contribuído com saldos significativos que contrabalancem os déficits sofridos nas transações financeiras.
     Há muitas causas que explicam o porquê do aumento. Dentre elas não é das menores o chamado 'custo Brasil'. Crescem as remessas de lucros de empresas estrangeiras (especialmente as das montadoras de veículos sucursais de matrizes estrangeiras, eis que o Brasil deixou há muito de produzir veículos automotivos nacionais). Além disso, há outras remessas, muitas originadas da desnacionalização de determinados setores da indústria e de serviços.
      Como reporta a Folha de S. Paulo, o déficit nas transações correntes - viagens, aluguéis, remessas de lucros, pagamentos de juros, entre outras - deve ser coberto com dólares estadunidenses oriundos de empréstimos, aplicações financeiras ou investimentos de empresas multinacionais.
      No passado, os IEDs - investimentos estrangeiros diretos - cobriam integralmente o déficit. Infelizmente, isto não mais valerá para este ano.
      Não melhora decerto o quadro o ulterior aumento da dívida externa - agora ascendeu a trezentos bilhões de dólares - puxada pelo endividamento privado.
      Como o Banco Central acumulara vultosas reservas em dólares e os juros internacionais estão muito baixos, o cenário se afigura por enquanto dentro dos parâmetros da normalidade.
       Se, contudo, mudar o andor da carruagem - assumindo que a política do governo Dilma Rousseff permaneça substancialmente inalterada (falta de reforma fiscal, manutenção da pesada carga tributária existente),incremento das compras de combustível (gasolina) apesar da disponibilidade de recursos energéticos dada a autosuficiência da Petrobrás - a perspectiva seria que as reservas acumuladas no Governo Lula tenham de ser utilizadas de forma crescente.
       Nessas condições, se a gestão economico-financeira continuar a pautar-se pelas atuais características e a consequente falta de política estruturada tendente à criação de saldos em nossas transações com o exterior, se reforça de forma marcada a probabilidade que os tempos da bonança do governo Lula desapareçam.  Nesta hipótese, voltaria, assim, o desfavorável cenário financeiro que prevaleceu em passado não tão distante.


( Fonte:  Folha de S. Paulo )






  

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