domingo, 19 de maio de 2013

Colcha de Retalhos A 17

                                           
A Maldição do Segundo Mandato

          De repente, o céu de brigadeiro que Barack Obama atravessava, nos meses iniciais do segundo mandato, como que pela ação malévola de alguma divindade menor, se enegreceu, com portentosos cúmulos-nimbos saídos não se sabe bem de onde.
          Três questões se colocam, a primeira, egressa do ano anterior, relativa ao ataque de 11 de setembro à missão estadunidense em Benghazi, na Líbia, de que resultou a morte de quatro americanos, incluído o Embaixador  J. Christopher Stevens. A despeito de a matéria haver sido examinada por comissão de alto nível, os republicanos continuam insatisfeitos com as conclusões apresentadas. 
           As cem páginas de e-mails liberadas na quarta-feira, quinze, mostraram um desacordo entre David H. Petraeus, então Diretor da CIA, e seu segundo, Michael J. Morell, sobre o que se deveria revelar nos talking points a serem utilizados pela Embaixadora Susan E. Rice, nos contatos com a mídia quando de sua candidatura à Secretária de Estado.
            Servindo-se de objeções de funcionários do Departamento de Estado às inserções propostas, no que tange a avisos da CIA sobre ameaças extremistas, sob o argumento de que transmitiriam uma má impressão, republicanos da Casa de Representantes saudaram a divulgação dos e-mails. Aparentemente, há um viés faccioso de parte do GOP, que quer ver mais nos e-mails do que eles efetivamente contêm. No entanto, lembranças de passados castigos pelos eleitores de excessivo zelo do GOP nas inquisições têm igualmente motivado um grão de cautela de seus próceres.
           Por outro lado, a Administração Obama tem sublinhado a parte relativa a cortes nas dotações de segurança, alguns de iniciativa de comitê da Câmara sob liderança republicana. Em toda a discussão, não repontam, além das tentativas de interpretação negativa da oposição, nada que seriamente implique a direção do Departamento e a própria Secretária Hillary Clinton, como se desejou apresentar.
          Acossado por repórteres no jardim da Casa Branca, na recepção formal ao Primeiro Ministro turco Recip Erdogan,  o presidente Obama rejeitou a idéia de nomear um promotor especial (à moda de Watergate, o escândalo que forçara Richard Nixon a renunciar à presidência) para examinar o escândalo concernente ao IRS (Serviço da Renda Interna), o presidente frisou que “certamente nada sabia sobre” a atenção (targeting) dada a grupos conservadores pelo I.R.S., antes de ler o noticiário de imprensa da semana passada. Ao ser inteirado, assinalou que ‘o seu foco principal foi em resolver a questão’. Nesse sentido, na quarta-feira anunciou, que pedira e aceitara a exoneração do comissário em  funções, Steve Miller.
             Obama recusou-se a comentar sobre a avocação de fichas de chamadas telefônicas de jornalistas da Associated Press pelo Departamento de Justiça. Tal iniciativa, segundo foi especulado, teria sido motivada por notícia da A.P. acerca da obstrução (foiling) de um ataque terrorista partido de grupo ligado a Al-Qaida, e baseado no Iemen.  Sem embargo, Obama expressou “integral confiança” no Procurador-Geral, Eric H. Holder Jr., dizendo que ele conduzia o Departamento de Justiça com integridade e que continuaria a fazê-lo por algum tempo. Nesse contexto, o presidente sublinhou a necessidade de proteger o livre fluxo da informação, mas também enfatizou que vazamentos de informações de segurança nacional podem ameaçar as missões e as vidas de membros das forças armadas e do serviço de inteligência.
           Segundo as regras informais da política, a expectativa seria de que a Casa de Representantes, sob domínio do GOP, intentará levantar informes e declarações que possam vir a causar problemas para a Administração Obama. Quanto à ação do IRS no que concerne a grupos conservadores (Tea Party), já lograram a cabeça do encarregado do IRS. Especula-se que outras incursões da oposição se concentrem sobre o Departamento de Justiça e o Attorney General, no intuito de levantar mais material potencialmente comprometedor.  Quanto ao incidente de Benghazi, que já fora objeto de investigações no Senado e na Câmara, semelha difícil alvitrar, dada a passada insistência, se os elementos colhidos serão de molde a satisfazer o partido Republicano. O quadro, para os republicanos, se complica um tanto, todavia, dadas as lições pregressas. A intenção de alguns de seus líderes é de passar impressão de correção e responsabilidade, o que, se confirmado, é um dado bastante positivo.
 

Aécio Neves na Presidência do  PSDB   

           O Senador Aécio Neves (MG), o provável candidato tucano à presidência da república em 2014, declarou em seu discurso na reunião de que participaram as principais lideranças do PSDB, que o partido errou ao não defender o legado dos dois governos FHC (1995 a 2002).
            Seria o caso de perguntar aos dois principais interessados – José Serra, candidato em 2002 e 2010, e Geraldo Alckmin, candidato em 2006  - se estão de acordo com essa postura.
           A notar que Serra, em sua alocução, observou que já viu “muita água passar por debaixo da ponte” e que atuará pela união do PSDB e das oposições.  Dado o comportamento de Aécio na última eleição, em que criou óbices à candidatura José Serra, e notadamente se negou a integrar a chapa, com o que muito contribuíu para enfraquecê-la, é fato público e notório que as relações entre o Senador mineiro e o hoje militante do PSDB não são das melhores.
            Daí, alimentada pelas sibilinas observações de José Serra, a sua intervenção foi interpretada como a de alguém  que se mantém na disputa ao Planalto, a despeito dos obstáculos existentes e da convergência das alas tucanas – excluída a sua – para a candidatura Aécio. De resto, no seu discurso, o provável candidato do PSDB, utilizou linguagem mais dura quanto ao governo Dilma, reportando-se a um Brasil estagnado, que precisa de reformas estruturais.
 

Indiscrições de Angela Merkel ?

            Conforme assinala a imprensa, a cada quatro anos , quando se aproxima a data das eleições que decidirão sobre a sua continuação ou não à testa da Chancelaria Federal,  Angela Merkel mostra ao público uma versão quiçá mais soft e não tão reservada quanto é o seu hábito arraigado, enquanto Chanceler Federal.
            Merkel postula um terceiro mandato. Não há dúvida quanto à sua popularidade – tem nível de aprovação de 65% - e por seu bom senso e reserva, goza de grande aceitação pela opinião pública alemã.
            Nisto, a Chanceler difere bastante do principal opositor nos comícios de setembro, o ex-Ministro Peer Steinbruck, da SPD, cujas indiscrições lhe têm criado problemas seja junto ao público feminino, seja quanto a políticos italianos.
            Como sói ocorrer em véspera de eleição, foram lançados vários livros acerca da Merkel.  Aquele que levantou celeuma foi “A Primeira Vida de Angela M.”, em que os autores (Ralf Georg Reuth e Günther Lachmann) se reportam a supostas declarações de antigos colegas que dizem ter ela servido como secretária de agitação e propaganda (agit-prop). 
            A nova polêmica sobre o seu passado tem o respectivo alcance assaz redimensionado pelas assertivas de Gregor Gysi, o chefe parlamentar do Partido da Esquerda, herdeiro do Partido comunista: “Certamente não me cabe defender a Chanceler, mas em um certo momento tem de se pôr um fim a tal absurdo (non-sense)”.
            Malgrado as avaliações pessoais favoráveis à Angela Merkel, uma série de derrotas da CDU (União Cristã Democrática) nos estados (Länder) apontam para as dificuldades que ela deverá arrostar nas eleições de setembro p.f.  Como se sabe, a CDU  é o partido da Chanceler, como foi no passado de Konrad Adenauer e Helmut Kohl. Em geral,  a formação da maioria carece do aporte de um segundo partido, eis que a CSU, é a versão bávara da CDU. O FDP (liberal) tem sido o membro júnior da coalizão e de seu eventual satisfatório desempenho depende um tanto a permanência de Angela Merkel na Chancelaria.
            Somente em uma data mais próxima, se poderá ter melhor ideia das perspectivas da  Chanceler Angela Merkel.

 

(Fontes: International Herald Tribune, Folha de S. Paulo,  Globo on-line )   

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