segunda-feira, 15 de abril de 2013

Vitória Apertada de Maduro

                                    
        O pleito de ontem, catorze de abril, com todas as dúvidas que levanta, deixa uma única certeza: o pós-Chávez já começou.
        A despeito das inúmeras vantagens, oficiais e para-institucionais, gozadas por Nicolás Maduro, o substituto do Comandante, com seu  respectivo carisma (ou falta de), acrescido de todos os instrumentos advindos do longo interinato, da caução do coronel, pouco antes da morte e até de artifícios que mais constrangem do que ajudam (como o do passarinho amestrado) o pleito de ontem, em colégio eleitoral da magnitude do venezuelano, se saldou com estreitíssima maioria  (235 mil votos ou 1,6% de diferença percentual a maior sobre o candidato da frente das oposições, Henrique Capriles).
         O apertado triunfo se traduzirá em contestações e prováveis recontagens de sufrágios, como já se prefigura nas primeiras reações do campo adversário.
         O encolhimento da votação obtida pelo ‘filho político’ de Chávez – para quem contava com diferença em torno de dez por cento – constitui por si só um dado relevante, que coloca muitas dúvidas quanto à solidez do ‘mandato’ conferido ao presidente-interino da Venezuela.
         A Nicolás Maduro se defronta um período de incertezas e contestações. Sem o carisma de Hugo Chávez, a sua esquálida vantagem dará margem não só a uma postura mais agressiva de Henrique Capriles, que se firma como a alternativa ao presente regime, senão à própria legião de apoio no campo chavista.
         Faltando a Maduro votação maciça e prevalência incontestável, não é necessário nenhum curso de futurologia para antever o surgimento em breve de outros pré-candidatos ao legado chavista. Com a sua base castrense – que foi na política a sua plataforma de lançamento, como forjada no putsch contra o eterno viajante Carlos Andrés Perez, na prisão relativamente breve, e na sua irrupção como a alternativa para o regime – o coronel Chavez teve a retaguarda protegida para a progressão da própria candidatura
         Após a eleição e a implantação de novo regime, o aprendizado de Chávez passou até por uma deposição branca de dois dias, de que sairia enrijecido. Na história política da Venezuela, marcada pela prevalência de caudilhos, o Comandante forjaria uma ideologia com ambições (e subvenções) continentais.
         O legado de Hugo Chávez é uma realidade cujos partidários e adversários conhecem bem, nas suas ambições, realizações e deficiências.
         Estará o herdeiro, surgido ao apagar das luzes, em condições de mantê-lo e empolga-lo, é uma pergunta que só ele poderá responder. Carece de fazê-lo com a necessária presteza, pois decerto não fruirá de longos e benevolentes prazos de afirmação.
         Se a circunstância de que, no apagar das luzes, soube avançar e colher a indicação do caudilho moribundo, não deve predispor os rivais, manifestos ou não, a subestimar-lhe o engenho, tampouco estarão aqueles do fogo amigo predispostos a ensejar-lhe a respectiva consolidação do poder.
       Por isso, a grandeza de Chávez – como a imponência das árvores na floresta – se mais impressiona quando já prostrado por terra, ela será o parâmetro a ser arrostado por Nicolás Maduro.
        Sem o aval de um sufrágio inconteste, o diádoco[1] da vez não disporá de muito tempo para consolidar-se no mando. Dentro e fora dos muros da cidadela chavista, a sua mensagem carece de ser ouvida, com persuasão e força.
        E por isso, ao ex-caminhoneiro Maduro incumbe não só contentar os companheiros chavistas, militares e civis, senão a outra metade do país.
        E não será com truques grotescos, como o do passarinho, que o novo presidente há de lograr seu intento.

 

(Fonte subsidiária:  O Globo on-line).



[1] Um dos sucessores de Alexandre, o Grande; herdeiro.

Nenhum comentário: