sexta-feira, 19 de abril de 2013

Radicalização no Campo Chavista

                                    
       Órfãos do Comandante, e empoleirados em todas as posições do poder federal na Venezuela,a decepcionante da abismal performance do filho Nicolás Maduro, cujo medíocre campanha terá apenas refletida não só a própria indigência de recursos, senão a incapacidade de colher no eleitorado um saldo apreciável de confiança no herdeiro de última hora.A  casta chavista dá evidentes sinais de nervosismo.
       Se a falta de credibilidade dos órgãos estatais, monopolizados ao longo do poder de quase década e meia do caudilho, lhes retira a legitimidade, mas não a legalidade.O nervosismo causado pelo crescimento do apoio a Henrique Capriles –nervosismo esse que pode ser maior, aguilhoado por motivações tão só do conhecimento dos atuais gerarcas – os leva a reações impensadas, que se inserem no maquinal intento de auto-preservação.
       Por força da escassíssima maioria de Maduro, e de sua rudimentar capacidade intelectual – haja vista constrangedoras apelações, como a do passarinho – Capriles não é mais um dos potenciais candidatos da oposição,  mas se descobriu guindado pelo corpo eleitoral como válida alternativa e, quem sabe, mais que do válida, como parece demonstrar a negação automática de qualquer recontagem pelos nervosos chavistas – o que dadas as ínfimas diferenças em muitos estados dá no que pensar.
       Nesse gênero de regime, em que as instituições do Estado não são mais do que diferentes carantonhas de uma mesma realidade oficialista, a sua aparente unicidade não passa de uma fachada cuja unidade é ilusória, e só contribui para corroborar de que não são mais do que um alter-ego do poder. O que é importante para o governo ela não fornece, vale dizer a neutralidade das instituições que se pretendem apolíticas, ou, de forma mais próxima do exequível, da neutralidade.
       A imparcialidade, característica primacial das instituições estatais – como a Corte Suprema, o Conselho Nacional Eleitoral e o Ministério Público, em não existindo na tosca construção de república adjetivada (no velho estilo do Leste Europeu sob o tacão soviético), tais instituições perdem qualquer condição de arbitrar os conflitos entre as forças políticas.
       Como seria de esperar, outra não tem sido a reação do Conselho Nacional Eleitoral, denegando qualquer recontagem de sufrágios, do Ministério Público, inculpando Capriles e a oposição pela responsabilidade das mortes ocorridas nos choques entre militantes, e até pela voz da Chefa da Corte Suprema.
       Fragilizado pela medíocre campanha, Maduro pode falar grosso para consumo interno, e dispor no entretempo do fraco e condicional apoio dos demais caciques do chavismo. Como não tem o carisma de Chávez – nem a liderança castrense – a sua presença pode ser tão fugaz quanto a de Richard, o filho do Lord Protector Oliver Cromwell, no seiscentista parêntese republicano da Inglaterra.
       Entrementes, sem dar qualquer tento à tradição diplomática de Estado do Brasil, Dilma Rousseff se apressou  em prontamente cumprimentar Nicolás Maduro e elogiar o clima de normalidade (sic) da votação.
        À reunião extraordinária da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Lima, no Peru,  comparece Nicolás Maduro, ainda como  Presidente interino da Venezuela. O apoio com maior ênfase a Maduro virá da Bolívia (Evo Morales), Equador (Rafael Correa) e Argentina (Cristina Kirchner), com a previsão adesão de Dilma Rousseff. As dúvidas estarão com Colômbia (Juan Manuel Santos) e Chile (Sebastián Piñera). Ollanta Humalá, do Peru, também parece ter optado pela cautela. Felicitou Maduro, mas não garantiu presença em Caracas. Na capital peruana há manifestações contrastantes entre chavistas e partidários da oposição de Capriles.
        Os dois primeiros são autênticos clones de Hugo Chávez e integram a Alba. A petista Dilma Rousseff deverá seguir de Lima para Caracas, a fim de marcar presença na posse do Presidente interino na Assembléia Nacional, presidida pelo chavista Diosdado Cabello.  Haverá mais espaço para os que comparecerem, pois a oposição do MUD (mesa da unidade) não estará presente.
          Não há de surpreender a falta da força de 48,97% que votou em Capriles. Dentro do molde duro e radicalizante dos gerarcas do chavismo, Cabello resolveu vetar a palavra a deputados da oposição, além de destituir-lhes da presidência de quatro comissões  e quatro vice-presidências das quinze comissões da Assembléia.
           O documento de Unasul, se lograr a necessária equanimidade, poderá conter  o conselho de Ollanta Humala de que se restabeleça o diálogo entre Maduro e a oposição de Capriles.  Sobre tantas reuniões há de pairar a imprevisível inconstância  do espirito do subdesenvolvimento, que se metastiza amiúde nessas múltiplas sessões sem que se altere a realidade prevalente.

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )                        

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