terça-feira, 9 de abril de 2013

A Inflação e os convidados de Dilma

                                  

        A foto em O Globo de hoje parece de outros tempos e, na verdade, de uma certa forma o é.
         É um carro em que se vêem o ex-ministro Delfim Netto, Luiz Gonzaga Beluzzo, ex-secretário de Política Econômica do governo José Sarney, e o professor Yoshiaki Nakano, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
        Segundo informa o diário, eles estão indo para um almoço com a Presidenta Dilma Rousseff, e embora não conste da foto, o Secretário do Tesouro do Ministério da Fazenda, Arno Augustin, também participou do ágape.
        O prato servido na aludida refeição palaciana foi pesado, eis que a ideia foi fazer avaliação sobre a atual conjuntura econômica, com foco no crescimento e na disparada da inflação desde o início do ano.
         D. Dilma está preocupada com o andor da carruagem, e notadamente com a aceleração da carestia. Não lhe faltam razões para tanto e, pesa-me dizê-lo,  seu governo tem muita responsabilidade no capítulo.
         De início, me despertou estranheza que a sua forma inicial de lidar com o dragão tenha vincado o sulco retórico, do tipo não admitirei o retorno da inflação etc. etc. Tal enfoque me causou espécie, porque, como não se desconhece, a carestia se lixa solenemente para esse tipo de discurso.
        Desde cedo, Dilma Rousseff não dava a impressão de inquietar-se com a ameaça da inflação. Por isso, se a economia se aquecia, a ênfase se voltava sempre para não prejudicar o crescimento.
        Existe nesse campo uma grande falácia. Não combater a inflação sob pretexto de que, ao fazê-lo, se corre o risco de prejudicar o crescimento econômico, é um erro crasso, típico do chamado desenvolvimentismo (que semelha ser a tese predileta da presidenta). A razão é simples: a inflação precisa ser dominada porque se não o for, ela inviabiliza o crescimento econômico. Qualquer observador que tenha anos bastante para ter vivido as décadas perdidas do reino do dragão há de concordar com essa premissa.
       E qual a arma de que o governo dispõe para conter o eventual surto inflacionário ? Ela está no Copom e no Banco Central. Já se disse, com precisão que a administração dispõe de uma única bala na sua batalha contra a carestia. A autoridade financeira terá de recorrer à taxa de juros, com vistas a controlar o crédito e, assim, conter eventuais excessos na oferta monetária, que se traduzam em pressão sobre os preços.
      No capítulo, é forçoso assinalar que as notas do governo Dilma não são muito animadoras. De saída, mandou para o mercado sinal de que o maestro da orquestra tinha outras ideias, ao afastar Henrique Meirelles da presidência do B.C. pela circunstância de haver ousado pedir alguma autonomia na gestão do banco. Não é questão de lana caprina tal autonomia, que é a de que dispõem os bancos centrais do mundo desenvolvido, com o Federal Reserve Bank à frente.
      Por outro lado, apesar de técnico respeitado, Alexandre Tombini não pôde até o presente utilizar essa única bala na agulha do revólver anti-inflacionário. Convocado, só lhe resta acenar para uma possibilidade de que o mando supremo da Presidenta torna assaz improvável, vale dizer, qualquer elevação, por módica que seja, na taxa Selic.
      Há outros motivos, quiçá ainda mais sérios, para que aumente no observador a sua inquietude quanto à seriedade da presente situação, e da vontade presidencial de enfrentá-la.
      O que faria alguém interessado em realmente dominar a inflação ? Não tenho dúvidas quanto aos títulos e a capacidade dos convidados ao almoço presidencial. No entanto, apesar de todo o seu acúmen e brilhantismo econômico-financeiro, nenhum deles, a começar por Delfim e Beluzzo, com todos os seus méritos, inclui na sua fé de ofício, salvo erro ou omissão, a participação em um plano que haja realmente ferido de morte o dragão da inflação.
       Na lista dos convidados – que não incluíu os Ministros Guido Mantega e Tombini – repontam novas estrelas na constelação presidencial. Sem embargo, pesa-me dizer que, a despeito de toda a válida preocupação da Presidenta Dilma, não sei de nenhuma consulta a quem participou do único Plano que funcionou contra a Inflação.
       A Presidenta Dilma continua a preocupar-se com o surto inflacionário, mas pelo visto os condicionamentos de partido são mais fortes. O Plano Real, com todo o seu brilho, não se sentou à mesa do Palácio.
       E é isso que me preocupa deveras.

 

( Fonte subsidiária:  O  Globo )  

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