domingo, 21 de abril de 2013

Inflação mais quê ?

                                         

                O F.M.I. no passado mandava missões ao Brasil, então seu devedor assumido, para examinar, com suposta arrogância tecnocrática, o estado de nossa economia, enquanto colhiam compromissos das autoridades, compromissos esses que ambos sabiam – Fundo e ministros dos governos sucessivos – serem mentirosos, coisa para burocrata internacional ver e arquivar.
                Agora, em que por uma feliz sucessão de superávits, o velho Clark Kent brasílico saíu da cabine telefônica com as vestes de Super-homem, podendo até virar credor do FMI, a questão não é mais agitar o lenço do orgulho lulista e patrioteiro, despedindo como se fora para sempre, o espectro da missão de inspeção.
                Depois que assumiu o poder federal, das mãos e gesto comovido de seu criador, dona Dilma, decerto embalada pela petista certeza de que tudo continuará pelo melhor dos mundos,  não se dará conta que a temida peripeteia dos gregos – quando as coisas viram de ponta cabeça – pode tornar a visitar-nos.
                O último exame do FMI não é nada lisonjeiro com o governo Dilma Rousseff. Nos últimos três anos, nenhum avanço significativo foi feito para remover obstáculos à expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Como se sabe, o baixo nível de investimentos é característica induzida pela Administração petista, que, em 2010, subira para as alturas de 7%, graças à escalada nas cotações dos produtos de base (commodities) e pela explosão dos investimentos.
                 Posto que esses ledos eventos não fossem da responsabilidade direta do governo, eis que eram precipuamente o efeito benfazejo de forças externas sobre as quais não tínhamos controle direto, ao manter sob Lula da Silva os balanços em regra o Brasil dispunha de condições favoráveis para valer-se dos bons ventos de além-mar.
                 Ao invés disso, Dilma enjeitou as reformas – quando poderia ter ousado, no discurso de posse – sem qualquer esforço seja no campo da política, seja no fiscal. Ao contrário de reforçar a economia, o seu incentivo ao consumo, com as desonerações fiscais, além de aumentar a inadimplência, envolveu a atividade fabril com véu mágico, eis que só a Presidenta e seus harúspices sabiam para onde iria o toque da varinha de condão. Disso – como bem assinalou Mailson da Nóbrega – só poderia advir a paralisia nas inversões dos empresários, não podendo adivinhar aonde cairia o maná da desoneração.
                 Se me permitem a comparação, dá a impressão de que Dilma prefere pulverizar a atividade industrial com suas tópicas benesses, do que moldá-la por reformas coerentes e abrangentes.
                 Talvez o problema do Brasil – e deixarei de lado o constrangedor terceiro-mundismo do gabinete ministerial que breve explodirá no simbolismo dos quarenta, ou a inútil sobrecarga de empreguismo desvairado, com o lastro inútil da inchação dos gastos correntes - esteja em haver esquecido a mensagem do governo de Juscelino Kubitschek.
                JK, com seu plano de metas, a que agregou a meta-símbolo, Brasília, jamais pensara em burocratizar o planejamento e a reforma. Foi por esta singela razão, que as suas programadas reformas saíram do papel, não para meter-se em gavetas, ou para engordar burocratas, como é hoje a prática.  
                 Elas se transformaram em realidades – do seu tempo, é claro – mas concretas. Ninguém irá negar a realidade da Belém-Brasília, da indústria automobilística – e do seu flamante ramo nacional (hoje extinto – quem se lembra do Aero-Willys, que rodava muito bem, obrigado, e cuja robustez podia salvar vidas) e de tantas outras benesses que, num exíguo punhado de anos, ele, um dos nossos maiores presidentes e democratas, teria de explicar para um punhado de arrogantes IPMs.
                   A desgraça ou a maldição para o Brasil foi que, mesmo sem razão, os governos verde-oliva e os sucessivos colheram a palma, transformando o que era vetor de progresso e de melhoria em geral, em um enorme ralo, a cargo de ‘n’ ministérios, na hipertrofia burocrática, que se pavoneia na Esplanada, esquecida da carga brutal de tributos e impostos, da qual se locupleta.
                   O contribuinte – que enxerga a corrupção crescer à sua volta – já se cansou de perguntar para onde vai todo o impostômetro. Ele aguenta as inanidades não só dos partidos grandes, médios e pequenos  mas também as  legendas de aluguel que vêm desrespeitar, não digo mais a privacidade do eleitor, mas a sua própria capacidade-limite de tolerar infindas e improváveis mutações ideológicas, importuná-lo, além de ofender-lhe a inteligência, com as suas ocas e cínicas promessas.
                   Talvez uma sugestão para ‘resolver’ os problemas e as mazelas do Brasil seria brincar com o relógio, e ao invés de antecipar na propaganda a mirífica realidade de reformas e  maravilhas prometidas, deixar para depois do três de outubro a sua efetiva realização, que de perene engodo ao cidadão havido como trouxa, se transmutaria no cumprimento da palavra e a concretização do esboçado sonho pós-pleito. Perderia o mandato no espaço de um ano o candidato mentiroso, pela simples causa de que não se deve iludir o eleitor.   

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