quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Bastão de Obama

                                 
        Como Presidente, Barack Obama tem mostrado resolução e coragem em momentos nos quais outros teriam titubeado. Determinou, sem a absoluta certeza da individuação do alvo, a arriscada operação dos comandos da Marinha, que deram cabo do inimigo público nº 1 dos Estados Unidos, Osama bin Laden.
       Fê-lo com determinação e, com o êxito, calou muitas bocas. Malogros em tais empresas podem manchar uma presidência, como ocorreu com o intento aprovado por Jimmy Carter de salvar os reféns na embaixada estadunidense em Teerã.
      Tampouco o 44º presidente tem hesitado em autorizar intervenções letais dessa nova arma da tecnologia americana, o drone,  que é mensageiro da morte; para muitos suspeito de terrorismo (e para os infelizes que porventura estejam à sua volta). Posto que a polêmica continue – e os recentes debates no Senado são prova disso - esse novel instrumento continuará a ser empregado, com fundamento em investigações da CIA.
      Sem embargo, Obama atravessa agora momento que semelha reminiscente do biênio perdido (a despeito da Lei da Reforma da Saúde (Affordable Care Act), da Lei Dodd-Frank de controle da Wall Street e dos Estímulos à economia que, malgrado o fogo da oposição republicana, foram medidas mais do que acertadas. Então, a aparente irresolução e falta de comunicação alimentaram a revolta ultra-direitista do Tea Party, que desaguou no shellacking (tunda) da eleição intermediária de 2010, com a consequente perda da maioria democrata na Câmara de Representantes.
      Dada a falta de qualquer espírito de respeito à primazia do interesse nacional – o que importa para o GOP e sua ala de direita, o Tea Party, é o maniqueísmo anti-Obama – ficam inteligíveis os episódios subsequentes com a utilização da burocrática aprovação da elevação do teto fiscal para a tentativa de extorsão de leis sob medida republicana (preservação dos baixos tributos para os riscos, e retirada dos programas voltados para o público mais necessitado, i.e., pobres e idosos).   
       Se no primeiro embate, o presidente se enfraqueceu, a experiência terá sido benéfica para ele, ao transmitir nos meses seguintes à opinião pública a visão de um outro líder, que apesar de alguns tropeços (como a estranha performance do primeiro debate) se iria recuperar amplamente, transmitindo ao povo americano imagem de todo diversa daquela dada pelo George W. Bush ao ensejo do Katrina, quando do furacão Sandy, a ponto de ser profusamente elogiado por Chris Christie, republicano governador de New Jersey. O opositor Christie, a quem coubera o prestigioso encargo de apresentar à Convenção de Tampa, na Flórida Mitt Romney como candidato a presidente, reconheceu a proficiência e o apoio manifestados por Obama diante da catástrofe. O presidente transmitiu então à sociedade americana o que deveria ser a reação de ocupante da Casa Branca em tais circunstâncias, o que traçava contraste destruidor para a anterior benigna negligência de Bush jr.
      Se o segundo mandato, por tradição histórica, não sói ser generoso com os presidentes – excetuado FDR -, Barack Obama parecia melhor afinado com a realidade, como o deixara claro quando das tragédias de Newtown e da maratona de Boston.
      Despertou perplexidade até na bancada minoritária do GOP no Senado que o presidente não haja logrado sessenta votos em uma questão onde tinha o apoio de noventa por cento da opinião pública.
      Pensar que a emoção baste para arregimentar votos é fazer prova ou de inexperiência política, ou de singular incapacidade de obter apoios, não para ele, mas para o interesse do próprio povo americano.  Como presidente em segundo mandato, e vindo do microcosmo do estado de Illinois, não se pode atribuir a amadorismo ou a ingenuidade, uma tal derrota.
     De nada serve rotular de vergonhosa a situação, se o presidente n­ão se valeu da plenitude do poder presidencial.  Sentar-se no gabinete oval, não é só para distribuir as rituais canetas quando da assinatura de leis importantes. Com a paralisia no Legislativo – que se deve ao controle republicano da Câmara baixa -, espanta que, em um Senado onde detém maioria, não possa interromper mais uma filibuster porque a bancada da N.R.A.  (Associação de portadores de armas) consegue impedir-lhe de atingir o número regimental de sessenta votos.
      O poder – como já ensinara Theodore Roosevelt – depende não só da cenoura, mas também do bastão.  Se Obama se recusa a utilizar o bastão,  sua influência não será levada a sério. Corre o risco de tornar-se uma figura patética, cuja liderança não motiva, nem atemoriza, a seus próprios correligionários. A imprensa estadunidense individuou entre os senadores democratas – e até os republicanos – muitos que ,ou lhe devem préstimos, ou esperam dele recebê-los em breve prazo.  
      Nâo adianta congregar coalizões que contem com pessoas do nível e do sofrimento da ex-deputada Gabrielle Giffords, que vem lutando até hoje para livrar-se das sequelas que lhe foram causadas por um atirador demencial, que semeou, com as armas que o atual descontrole enseja, a morte e a incapacitação, em um comício no Arizona. Há outras maneiras, mesmo para os energúmenos, de expressar a respectiva discordância política.   
     O Presidente – V. FDR e Lyndon Johnson – para ser seguido e obedecido não pode circunscrever-se a piedosas expressões de compadecimento. Ele carece de personalizar o respectivo cargo como vetor das aspirações da sociedade. Nada obterá dos políticos e ainda mais dos senadores, se eles não se derem conta que uma traição, um voto negado, pode custar-lhes caro.
     Ou será que Obama prefere circunscrever-se ao papel de compadecedor oficial, como se fosse um ator encarregado de expressar empatia e tristeza diante de  calamidades ? Uma espécie de mestre de cerimônias de alto bordo ?
      O 44º Presidente, em uma Washington marcada pela divisão partidária e pela ausência do espírito do bipartidismo, se continuar a proceder dessa forma, corre maior perigo de o que ver contrariados os próprios objetivos.  Ao mostrar-se  incapaz de motivar até os democratas a votar pelas suas causas, que neste exemplo, eram também as da sociedade americana, Barack Obama corre risco bem maior. Não apenas o de um eventual malogro, mas de ser visto como figura quase patética, que enjeita exercer a plenitude do cargo. O temor é uma das faces do poder. Omitir-se nesse campo é debilitar a respectiva capacidade de fazer o bem, como, por exemplo, no que respeita às  armas, estabelecer um regime menos permissivo, que estabeleça limites para a sua aquisição, com o intuito de evitar massacres tão bestiais quanto foi o de Newtown, no estado de Connecticut, e a longa lista dos Columbine que o antecederam.
       

 
( Fonte: International Herald Tribune ) 

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