quinta-feira, 22 de março de 2012

O Franco-Argelino Mohammed Merah

                        
        A etnia, as transgressões na menoridade, as preferências ideológicas, o comportamento social e o próprio fim de Mohammed Merah se inserem em uma lógica socio-política que mostra claramente não se tratar de exemplo isolado na atual sociedade francesa.
        Nascido em Toulouse  em outubro de 1988, Merah tinha, portanto, 23 anos de idade. Tentara no passado alistar-se no exército francês e depois na Legião Estrangeira, mas fora recusado por seus antecedentes criminais.
       A colônia argelina constitui um segmento da população que pode ter características de um proletariado interno, segundo a terminologia do historiador Arnold Toynbee. No caso, ele se referia aos grupos bárbaros acolhidos pelo antigo e já decadente Império Romano, os quais não se sentiam como parte daquela sociedade.
      Mutatis mutandis, existem na França uma parcela desse grupo social que se considera parte integrante da sociedade francesa, e uma outra que por diversas razões tem atitude adversarial no que tange à antiga metrópole.
      Pelo seu histórico, Mohammed Merah faria parte daquilo que o antigo Ministro do Interior francês, Nicolas Sarkozy, chamou de racaille (ralé), quando dos distúrbios na periferia parisiense, com  incêndio sistemático de centenas de viaturas.
     Com efeito, os dados divulgados acerca de Merah não o diferenciam de outros franco-argelinos que pela sua ficha de repetidas transgressões juvenis foram sendo progressivamente empurrados para a contestação e a marginalização social.
     Cresceu no subúrbio de Les Izards. A despeito da presença da droga nesta área, os seus problemas com a justiça se devem a uma série de pequenos assaltos (Merah compareceu a quinze audiências na corte para menores de idade).
     O advogado Christian Etelin defende Mohammed desde 2004/2005, nos seus diversos entreveros com a justiça.
     Recentemente Merah viajara para o Paquistão e o Afeganistão. Ali teria tomado contato com os salafistas[1] e a Al-Qaida, em que seria treinado sobretudo no manejo de armas e explosivos. A sua permanência na região foi interrompida ao ser flagrado em controle de tráfego pela polícia afegã. Deportado para a França, continuou a sua travessia pelos tribunais. Assim, a 24 de fevereiro último, sempre defendido por maître Etelin, foi condenado a um mês de detenção, por dirigir sem licença,  provocando acidentes em que houve feridos.
      A sentença ficou em suspenso – deveria comparecer em abril à audiência em que o juiz a confirmaria ou não.
     No entanto, Mohammed Merah não mais se circunscreveu às transgressões menores que tinham marcado a sua ficha policial até então. A partir de onze de março, Merah, agindo sempre sozinho, matou três militares de origem norte-africana, que haviam participado de ações do exército francês no estrangeiro.
    Em seguida,desfechou  o ataque à escola judaica de Toulouse, em que matou, com tiros a queima-roupa, três crianças e um adulto.
         Agindo de forma solitária, sem qualquer contato com grupos, mas movido por um mortífero ódio, Mohammed Merah semelha representar  forma de ação que infelizmente não parece constituir  exemplo isolado.
         Foi possível, no entanto, seguir-lhe a pista por meio da lambreta utilizada. Cercado no seu apartamento, Mohammed impressionou os policiais pela ferocidade com que resistiu. Ainda não estão esclarecidos os pormenores do seu cerco e posterior morte, mas houve tiroteio com os agentes da policia francesa, ferindo  dois. Há versões de que, após prolongado cerco, a polícia de choque invadiu-lhe o refúgio, trocando tiros com Mohammed, que teria, inclusive, tentado sair através de uma janela.
         O Ministro do Interior da França, Claude Guéant, confirmou a morte de Mohammed Merah que teria  dito que o seu propósito fora o de vingar as crianças palestinas assim como as intervenções estrangeiras do Exército francês.
         Foram detidos pela polícia francesa, para ulteriores investigações, a mãe de Mohammed, Zoulika Aziri, e o irmão Abdelkader, de resto um nome bastante comum na Argélia, pelo qual se homenageia o chefe carismático da primeira resistência no século dezenove, da sociedade argelina à colonização francesa.



( Fonte:  CNN )     



[1] corrente radical do islamismo.

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