sexta-feira, 16 de março de 2012

As Interrogações da Campanha Presidencial

                              
        A cerca de oito meses dos comícios de terça-feira, seis de novembro, nos dois campos do do Partido Republicano há poucas certezas e abundam as dúvidas.
        Entre os republicanos, se há um  líder do pelotão, Mitt Romney não conseguiu ainda firmar-se como o candidato a ser ungido na Convenção de Tampa, na Flórida. Desde o início da  corrida, o ex-Governador de Massachusetts se definira como o principal rival na longa campanha para a nomination. Dispunha do apoio de um núcleo duro de cerca de 25%, além das preferências do estamento dirigente do GOP.
       No entanto, uma série de pré-candidatos de estampo conservador impediram que a sua progressão se tornasse inexorável. Nesse papel, se sucederam Herman Cain, um afro-americano bem-sucedido nos negócios, mas com muitas denúncias de acosso sexual; Rick Perry, governador do Texas, que ascendera rápido nas pesquisas, para cair em seguida, vítima do mau desempenho nos debates; e Newt Gingrich, a demonstrar notável resistência a escândalos passados, a ponto de ser comparado ao monge Rasputin, e que tecnicamente continua na porfia (venceu as primárias da Carolina do Sul)
       De uns tempos para cá, o principal adversário de Romney tem sido o ex-Senador Rick Santorum. Católico do Opus Dei, conservador de boa cepa, Santorum vem impendindo, por ora, que o avanço do líder ganhe em movimento inercial e passe  a impressão de que a marcha de Romney se transmutaria em progressão inelutável, com o consequente processo das adesões para o candidato com aura de vencedor.
      Santorum com a sua mensagem que semelha autêntica para os conservadores republicanos, vem colhendo vitórias nas primárias (dez até o presente), contra as dezoito de Romney. Por outro lado, mesmo nas derrotas – como em Ohio, estado considerado chave na eleição presidencial – o triunfo no photo-chart pelo ex-governador tira muito do impacto dessa conquista, ao exibir a maciça rejeição ao pré-candidato na dianteira.
      Muitos dos militantes da base republicana não têm confiança em Mitt Romney. Tal se deve menos à  religião mórmon, do que a sua tendência moderada, que faz os conservadores duvidarem de seus propósitos. Se não lhe faltam recursos financeiros e tem a organização de campanha mais bem estruturada, muitos republicanos relutam em aceitá-lo como candidato. Santorum parece ser o contendor mais consistente, enquanto o também dito conservador Newt Gingrich se obstina em prosseguir atuante nas primárias. Até o presente, sómente logrou vencer na natal Georgia, mas tem amealhado boas votações em outras primárias, o que lhe tem permitido laboriosa sobrevivência política.
     Quanto ao outro pré-candidato republicano, o libertário Ron Paul, corre em faixa própria, que mais se insere em chegar à convenção com razoável número de delegados para buscar maior influência na elaboração da plataforma. Tudo leva a indicar, portanto, que a corrida no GOP se limita entre, de um lado, Mitt Romney, e de outro, os dois conservadores, Santorum e Newt.  De resto, a força dessa facção não pode ser minimizada, eis que, mesmo dividindo o voto da direita  entre Santorum e Gingrich, tal não tem impedido diversas vitórias do ex-Senador pela Pennsilvania.
    Se os domínios democratas não carecem de primárias para determinarem o respectivo candidato, não é nada fácil a trajetória do Presidente Barack Obama na sua busca do segundo mandato.
    Não há dúvida de que a situação de Obama melhorou eleitoralmente. Indício seguro disto é a disposição dos candidatos democratas ao Senado e a Câmara, em se associarem de certa forma ao atual ocupante da Casa Branca.
   Ao tornar-se mais afirmativo – em traço quiçá reminiscente da vitoriosa reação do Presidente Harry Truman, ao batalhar contra a corrente pela sua reeleição, enfatizando a do-nothing (a que nada faz) maioria republicana no Congresso – se Obama está longe da pugnacidade do sucessor de Roosevelt, ele vem ultimamente batendo com êxito em teclas que o diferenciam da impopular maioria republicana na Casa de Representantes.
   No entanto, persiste ainda muito volatilidade nas pesquisas, para que a vitória de Barack Obama se afigure como certa. Logo depois de ter ultrapassado os cinquenta por cento nas preferências, o presidente voltou a cair para os 41%, por força sobretudo da elevação súbita do preço da gasolina, a que os rivais republicanos lhe atribuíram a responsabilidade.
   Se isso é bastante discutível, parece mais do que certo que as probabilidades de reeleição dependem dos índices da economia  e, em especial, do nível do desemprego em novembro vindouro. É a timida melhoria nessa situação, que tem garantido a precária predominância do Presidente contra os candidatos republicanos.
   É um quadro, contudo, necessariamente instável, com as imprevisíveis mudanças que se sói esperar das condições atmosféricas.
   Obama pode, assim, torcer para que Santorum seja o candidato – a escolha de um nome pelos magnatas republicanos que não esteja[1] ora nas primárias semelha perspectiva longínqua, mas que não pode ser descartada – posto que, a despeito de tudo, Mitt Romney se prefigura com o provável nominee (designado). Se indicado, o ex-governador de Massachusetts, pela sua habilidade na campanha negativa, e pela falta de alternativa conservadora para o militante republicano, a que se agrega a sua moderação (que o torna palatável para os independentes), representaria um concorrente difícil para o atual presidente.
   A sorte do  44º  presidente, todavia, está dependurada em boa parte nos índices do desemprego. Se houver um súbito revertere, e tais índices voltarem a piorar, as suas possibilidades de reeleição tenderão a diminuir dramaticamente.



( Fonte subsidiária: International Herald Tribune )       



[1] É a chamada Convenção negociada (brokered Convention), a que, por vezes,  se recorreu em passado remoto.

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