sábado, 17 de março de 2012

Chávez no poder até 2030 !

      O coronel Hugo Chávez Frias regressou ontem, sexta-feira, 16 de março, de seu refúgio médico. Procurou impressionar o povo venezuelano – que terá pago quatro milhões de dólares pela  estada em Havana, junto com a consueta comitiva de mais de duzentas pessoas – com as costumeiras fanfarronadas, incluída a implícita promessa de ficar no poder até 2030.
      Nessa peculiar linha de pensamento, disse o caudilho: ‘Devo continuar com bastante disciplina no plano da recuperação, mas já me sinto bastante recuperado.Ninguém creia que tudo já passou. Estamos vencendo, mas devemos continuar rigorosamente disciplinados. Disciplina de recruta. Rumo a 2021. Rumo a 2030.’
      Sorridente, o presidente venezuelano distribuíu abraços. No entanto,  o seu rosto nédio é evidência do emprego de corticóides, prescritos em geral para combater os efeitos debilitantes da enfermidade.
      Como se terá presente, Chávez foi operado em Havana, em junho último, de  câncer na região pélvica, que assumira proporções só atribuíveis à negligência do paciente. Desta feita, a ‘lesão’ na área do pélvis seria de tamanho menor.
     Somente a húbris presidencial pode explicar a circunstância de que o primeiro tumor haja atingido as dimensões mencionadas pelo próprio Chávez. O aparecimento de outro, em cerca de sete meses, não é decerto um bom prenúncio. A palavra metástese, posto que adrede evitada, não deixa de repontar.
     Charles Fuchs, professor da escola médica de Harvard, perguntado, asseverou: ‘Quando existe reincidência (recurrence) de câncer como neste caso, o prognóstico tem de ser muito cauteloso.’   
     A doença de Chávez coloca um problema que sói atenazar os regimes caudilhescos, vale dizer, a falta de sucessores ostensivos e indiscutíveis. Se dúvidas havia no particular, a recente ausência de 22 dias de Caracas do presidente volta a sublinhar tão incômoda circunstância. Ao viajar, o coronel preferira não transferir o interinato para o  vice, Elias Jaua. Optou pela ficção de continuar à frente do governo, mesmo tendo de submeter-se à delicada operação cirúrgica, sob a necessária anestesia.
     Desde os tempos da antiguidade clássica, as cruéis e indiferentes Parcas presidem ao destino dos humanos, sejam eles orgulhosos dinastas, tiranos, tribunos da plebe, sem falar da turba ignava dos idiotas, que então não era designação ofensiva, por meramente referir-se a indivíduos comuns, sem poder.
     Como há poucas coisas novas debaixo do sol, as circunstâncias relativas à saúde do homem forte da Venezuela (desde 1999) não se assinalam pela originalidade. É característica de todo o regime autoritário e carismático a obsessiva dependência da pessoa do chefe. Nesse aspecto, o cabeça é paradoxalmente insubstituível para as múltiplas camarilhas que dele visceralmente dependem. Daí, todo gênero de mistificação, a começar pelo próprio capo que semelha sentir  inteligível desconcerto em lidar com os descaminhos da respectiva mortalidade.
     Os exemplos são tantos – e até da Santa Madre Igreja, como aqui já citados – que me dispenso de aborrecer o leitor com essa tão humana condição,  que alguns aparentam dificuldade em gerir.
 



( Fontes:  O Globo,  CNN )  

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