sábado, 3 de março de 2012

Ditador sírio barra acesso da Cruz Vermelha

                        
       Será que Bashar al-Assad pensa que o veto russo o protege também da Cruz Vermelha ? A brutal recusa à passagem do comboio humanitário da Cruz Vermelha para o distrito de Baba Amr, após haver prometido autorizá-lo no dia anterior, dá a impressão de que o ditador acredita prevalecer-se das condições em que seu pai, Hafez al-Assad, pôde, em 1982, indisturbado, massacrar a população de Hama.
          Como amplamente divulgado, há cerca de mês Baba Amr estava sob bombardeio. Nesse distrito de Homs se concentrou o ataque da famigerada 4ª Divisão Blindada, comandada pelo irmão do déspota, Maher al-Assad. O bombardeio se tornou tão intenso que forçou o destacamento do Exército Livre da Síria a abandonar o bairro.
            Das características do assédio, as próprias mortes de jornalistas ocidentais não deixam muitas dúvidas. A esse respeito, o refrão que acompanha as imagens tomadas por celulares de resistentes – segundo alguns não existem condições de confirmar-lhes a autenticidade – é uma joia da hipocrisia das fontes de informação.
          Por que os repórteres ocidentais não podem ingressar legalmente na Síria ? Simplesmente pelo fato de que não interessa ao tirano – que se pauta pelo modelo iraniano – a presença de testemunhas isentas para documentar todos os excessos que vem assinalando a repressão à revolta do povo sírio.
        O medo que Bashar tem pela informação não-domesticada se estende à Cruz Vermelha.   O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), Jakob Kellenberger declarou: “ Permanecemos em Homs nesta noite, na esperança de poder entrar em Baba Amr no futuro imediato. Muitas famílias já fugiram de Baba Amr, e nós os ajudaremos logo que possível.”
         O comboio – que traz alimentos e  assistência médica emergencial – teria tido impedida a entrada no distrito assediado para ocultar atrocidades. Há indicações de execuções sumárias (14 civis foram fuzilados em Homs, além de outras dezesseis fatalidades,  quando a artilharia de Bashar alvejou uma multidão de manifestantes).
        Como essa ajuda humanitária tinha sido validada por decisão unânime do Comitê de Segurança das Nações Unidas, na quinta-feira o comboio de caminhões da Cruz Vermelha e de ambulâncias do Crescente Vermelho teve autorizado o deslocamento para a área de Homs. Sem embargo, após chegarem à entrada da cidade, houve  contraordem da autoridade militar.
        O escândalo humanitário – agravado pela recusa de qualquer ajuda in loco,  só se atribui à preocupação de que fiquem ainda mais flagrantes o massacre e os atentados aos direitos humanos pelo regime – foi denunciado pelas consuetas condenações. O porta-voz do Alto Comissário das Nações Unidas qualificou de ‘muito, muito alarmante’ o quadro.
       No usual coro de reprovações se destacam as palavras do Primeiro Ministro David Cameron, do Reino Unido, que definiu a situação naquele país como ‘absolutamente execrável (appalling)’. No entender de Cameron – que falou para a imprensa quando de reunião de líderes da União Europeia, em Bruxelas – “o que acima de tudo importa são as provas e o quadro que nos habilitam a responsabilizar esse regime criminoso pelos crimes que está cometendo contra o seu povo”.
        Por sua vez, o Presidente Nicolas Sarkozy anunciou nessa sexta-feira que a França vai fechar a embaixada em Damasco. Por outro lado, a U.E. reconheceu o Conselho Nacional Sírio como legítimo representante do povo sírio.
        A truculência do regime alauíta de Bashar  parece fiar-se na antiga indiferença do Ocidente  com que foi tratado seu pai, Hafez al-Assad, ao trucidar a oposição islamita em Hama. Eventual  mudança no panorama internacional pode tornar insustentável a rigidez de Bashar, eis que até mesmo para o Kremlin existirão limites às transgressões de um ditador sob a sua asa.
        A situação internacional pode, por conseguinte, evoluir, se houver firmeza da parte ocidental, e se a recusa de acesso a Baba Amr persistir, em flagrante violação do direito internacional humanitário e de determinação do Conselho de Segurança.



( Fontes: CNN, Folha de S. Paulo )

   

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