terça-feira, 27 de março de 2012

A Gafe Política de Obama

                                 
        Os microfones indiscretos constituem um dos maiores perigos que rondam os políticos na atualidade.
       A experiência tem demonstrado que toda cautela é pouca ao lidar com esse tipo de equipamento. Os frequentes descuidos dos seus operadores – não desligando o aparelho após sua utilização para alocuções públicas – deveriam tornar mais prudentes os estadistas, em suas amiudadas reuniões internacionais. Afinal, tanto esquecimento assim pode parecer missa encomendada.
       Obama já tinha sido apanhado pela indiscrição dos microfones no ano passado, em conversa com o presidente Nicolas Sarkozy, em que ambos se queixaram de Benjamin Netanyahu: ‘Você está cansado dele ? E eu que tenho de lidar com ele todos os dias ?’ desabafou o presidente americano para Sarkozy.
       Aquela, no entanto, foi uma observação light, porque são sabidos os desacertos  dos presidentes estadunidenses com Netanyahu (e quem for o primeiro-ministro de Israel). Dada a especial relação do cliente Israel com o estado-protetor Estados Unidos, Bibi Netanyahu não hesita em contrariar a Casa Branca, fiado na sua força política em Washington, e na dificuldade, em termos de política interna, de o presidente entrar em rota de colizão com aliado clientelar que a partir dos anos setenta assumiu certa  preponderância nesse relacionamento.
       Dessa feita, após reunião em Seul com o presidente Dmitri Medvedev – cujo mandato vence em abril próximo – com relação ao chamado escudo anti-mísseis, Barack Obama, em voz baixa que o sensível microfone captou, pediu compreensão a Medvedev no que tange à questão (que é um irritante para os pruridos da ressurgente Rússia): ‘É a minha última eleição. Depois dela, terei mais flexibilidade’.
       As estações televisivas americanas, a que aproveitam sobremaneira os tropeços de Obama – dado o viés republicano de sua maioria – montaram  apresentação  com mal-disfarçada hipocrisia sobre a pretensa gravidade da ‘promessa’ do presidente (a compreensão solicitada foi entendida por Medvedev que se comprometeu a repassá-la a Vladimir (Putin) ).
       Dessarte, o âncora Wolf Blitzer, da CNN,  após transmitir a um exultante Mitt Romney o clip da gafe, perguntou de sua impressão. Romney, deleitado em ser posto no mesmo nível que o presidente americano, se disse horrorizado com a leviandade de Obama, e a sua intenção de desrespeitar os interesses do povo americano. Levado pela impetuosidade, Romney carregou nas tintas, a ponto de considerar a Federação Russa o inimigo geopolítico dos Estados Unidos, inimigo este a quem Obama pedia compreensão. Mesmo para Wolf Blitzer foi um pouco demais. ‘O Senhor considera a Rússia o inimigo dos  Estados Unidos ? E como ficam o Irã, a Coréia do Norte ?’
     Sem dar-se por achado, Romney aludiu a outras imprudências de Obama nas relações externas, como nas negociações de desarmamento.
      O vice-assessor de Segurança Nacional, Benjamin J. Rhodes, procurou contextualizar a observação de Obama. Segundo Rhodes, o presidente está empenhado, não obstante as objeções  russas, em criar um sistema de defesa missilística na Europa central. Por isso, as suas palavras  simplesmente frisavam que um ano de eleição não é o melhor momento para negociar esse delicado acordo (compromise) com Moscou.
           Resta determinar qual a será a vida remanescente dessa indiscrição colhida, adrede ou não, por microfone deixado em funcionamento. Será aquela colimada por Mitt Romney e os demais republicanos em liça, uma daquelas gafes que ganham virulência com o passar do tempo, ou uma calinada de somenos, que não mais será julgada daqui a uns dias bastante para atender à fome midiática de Washington e arredores ?
          Sem embargo, semelha recomendável que no futuro Obama deva ter mais cuidado com as insídias da tecnologia. Que tal o mineiro conselho do verso de Drummond, que para grupo de tagarelas encarecia ‘boca presa’ ?




( Fontes:  O Globo, CNN, International Herald Tribune )

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