quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A Bovespa campeã mundial em 2009

À primeira vista, os dados da Bovespa são muito positivos. Foi acumulada no período uma rentabilidade de 142,7%, a maior valorização entre as treze principais bolsas do mundo. Após a brasileira, seguem em valorização as bolsas da Rússia, com 126,5%, Shenzhen (China), com 115,7%, Índia, com 97,0% e Xangai, com 79,1% (China). Assinale-se que dentre as grandes bolsas tradicionais (Nasdaq e Dow Jones, New York; Tóquio; Frankfurt; Londres e Paris) a de melhor performance foi a Nasdaq, em oitavo lugar mundial.
Em termos de país, a relevância atual da economia chinesa fica bastante evidente (além das duas bolsas já citadas, Hong Kong é a sétima em crescimento, com 49,3%). Assim, apenas a China (com três) e os Estados Unidos (com duas) se distinguem das demais economias, que se limitam a uma bolsa cada uma.
Quais são os fatores que determinaram o incremento na valorização relativa dos papéis na Bovespa ? Há três a ressaltar: o fato de o Brasil ter sido menos afetado pela crise financeira internacional; a alta das matérias-primas em 2009 (puxada pelas retomadas compras da China); e a apreciação do real em relação ao US$, em 33,91% (a mais alta no mundo). Em termos de valor de mercado, de US$ 588 bilhões, dezembro de 2008, a Bovespa atingiu US$1,326 trilhão, em dezembro de 2009.
Há mais dados positivos – que contribuem para aumentar a confiança do investidor estrangeiro e, por conseguinte, para a valorização dos ativos brasileiros : na parte comercial há um saldo agregado de U$ 9,848 bilhões e na parte financeira, de US$ 19,050 bilhões. Esses dois totais perfazem em 2009 um saldo geral de US$ 28,898 bilhões. A par disso, a compra de dólares no mercado à vista elevou as reservas internacionais em US$ 2,927 bilhões, com um estoque de US$ 238,735 bilhões.
Conquanto a supervalorização do real em relação ao dólar estadunidense tende a ser considerada excessiva, dificilmente pode ser atribuída exclusivamente à especulação. Os altos juros relativos ainda pagos no Brasil contribuem com maior rentabilidade para as inversões estrangeiras – e será por tais considerações materiais que investidores como Paul Krugman hajam decidido privilegiar os papéis da Bovespa.
Dessarte, os economistas têm de relativizar as respectivas caracterizações de ‘bolha’ quanto às oportunidades oferecidas pela Bolsa de São Paulo, eis que muitos dos sinais da economia brasileira são favoráveis e proporcionam vantagens comparativas ao investidor internacional, em relação às concorrentes estrangeiras.
Para o professor Antônio Corrêa de Lacerda, ‘a desvalorização cambial intensa não é recomendável. A médio e longo prazos, há perda de emprego. O dólar barato estimula importações, criando empregos em países como a China. Assim, pode haver substituição de empregos locais por empregos no exterior.’
Entende-se facilmente, portanto, a preferência das autoridades fazendárias por um real não tão valorizado em relação ao dólar estadunidense. Recorde-se que o Ministro Guido Mantega expressou não faz muito o seu voto de um real cotado a 2,70 com respeito ao dólar. No entanto, entre desejo e realidade costuma haver boa distância. Assinale-se, a propósito, que no entender de especialistas, se o Banco Central não interviesse no mercado, o dólar hoje valeria R$ 1,50.

( Fonte: O Globo )

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