sábado, 19 de dezembro de 2009

Cegueira quase total

A COP-15, ou Conferência de Copenhague, que terminou ingloriamente ontem, com a reunião dos Chefes de Estado ou de Governo, nos faz pensar sobre a eventual mensagem por ela deixada para a posteridade.
Terá sido a conferência vítima das excessivas expectativas que provocou, inadvertida ou propositalmente pela mídia implacável ? Precediam-na toda uma série de comportamentos irresponsáveis, matizados aqui e ali por elogiáveis atitudes nacionais, proveitosas não só individualmente, senão de igual modo pelo efeito constrastante que proporcionam, uma espécie de moldura que, ao ressaltar os aspectos negativos e vergonhosos, os apresentam da forma sóbria que soi ser mais impiedosa e convincente do que as condenações retóricas.
Os fracassos são geralmente órfãos. Seus causadores – e sobretudo os principais culpados – os enjeitam com a frieza que os pais, na antiga Hellas, reservavam aos recém-nascidos deformados, quando os expunham à intempérie. Embora o grau de responsabilidade varie, seja pela contribuição efetiva, seja pela importância relativa do país respectivo, todos eles se irmanaram na ânsia de se livrarem do constrangimento da foto que surgia menos como ícone de uma empresa, do que como virtual peça acusatória de imaginário processo de perplexa posteridade.
No passado, temos formulado diversas reservas e mesmo increpações ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não há negar-lhe tanto a capacidade de liderança – e até em circunstâncias pouco favoráveis - , quanto a instintiva generosidade. Chamado a discursar duas vezes no plenário da conferência – e na segunda, por convocação de seus homólogos – Lula não hesitou no improviso em mostrar-se aberto a concessões a que sua delegação, pela palavra da diligente Dilma Rousseff, fizera antes questão de recusar, até com reprimenda ao alijado Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente.
Se a sua grandeza foi reconhecida uma vez mais pelo Presidente Barack Obama que, ao participar do encontro dos emergentes, solicitou fazê-lo sentado ao lado do mandatário brasileiro, é deplorável que não haja sido bastante para que também o imitasse na magnanimidade.
Infelizmente, malgrado a sua abertura e inteligência, Obama sabe que é, de certa forma, prisioneiro de seus próprios domínios. Aqueles ridículos 4% concedidos pela Câmara de Representantes como limite nas emissões americanas refletem postura nacional decerto egoista e negativista, mas que não pode ser ignorada ou tratada sobranceiramente. O próprio Franklin Delano Roosevelt, para lograr vencer o contumaz isolacionismo do povo americano, teve de enfrentar longo e paciente trabalho de indoutrinação para afinal estar em condições de enfrentar o desafio das potências do Eixo.
O egoismo paroquial das diversas potências, grandes e pequenas, com as exceções de regra, tem marcado a penosa caminhada da Humanidade diante do desafio do meio ambiente. Cada um aferrado ao respectivo feudo pensa, dentro das escalas da própria inteligência, na possibilidade de que, de algum modo, venha a escapar das consequências das respectivas práticas. Todos ou quase todos pensam nas supostas vantagens imediatas ao incentivar políticas deletérias (as usinas termo-elétricas da Min. Dilma, os impunes desmatamentos dos ruralistas), sem cogitar na amarga cobrança de um futuro não-mais longínquo.
Será que a desertificação e a sua precursora savanização, o súbito ressecamento das antigas geleiras nos Andes, a ameaça de submersão de Maldivas e Tuvalu, a desgraça da Amazônia só afetará a uns poucos, poupando aqueles falsos espertos que os desencadearam, movidos pela absoluta ganância e por nenhuma percepção de sua insanidade e de entranhada tendência auto-destrutiva ?
O percurso do ambientalismo e todos os males de Gaia,mãe natureza escarnecida, desfrutada e desrespeitada, com secas, inundações, furacões, tornados que ora se pavoneiam hediondos por onde nunca andaram, nos tem mostrado, e com excesso de exemplos, que nos está fugindo a hora das negações, burras e interesseiras, à la Bush e congêneres, para a irrupção do tempo em que não mais cabem espertezas, politiquismos timoratos ou meias generosidades, esquecidas do flagelo geral mas lembradas dos esquálidos votos de corruptos políticos.
É fundamental que os nossos esquecidiços políticos – com o presidente Lula à frente – não se olvidem que em matéria de meio ambiente se acabou o tempo das verdades localizadas e das soluções ditas hábeis. O ambientalismo, pelo estágio a que levamos o planeta, não é uma religião, mas tampouco admite meias medidas, tapeações e jogos de cena. Ou se está com ele, ou contra ele.

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