Do BRT da Avenida Brasil à infraestrutura de bairros da Zona Oeste,
passando pela construção de clínicas da família e escolas, cerca de trezentas
obras abandonadas pela Prefeitura Crivella espalham-se espectralmente pelo Rio
de Janeiro.
Após dezoito meses, tais obras fazem
parte do desleixo e do conformismo que caracterizam a hodierna prefeitura carioca.
Essa falta de presença da Autoridade municipal - pois me recuso a admitir que
alguém comprazer-se possa com o desinteresse e a negação das próprias
obrigações - que deparamos em quase todas as ruas, eis que se reflete nas
faixas pedonais, em geral já meio-apagadas no asfalto, restos pouco
perceptiveis de administrações passadas, que respeitaram a população, e
atendiam aos cuidados que os munícipes fazem por merecer.
O geral abandono pela Autoridade
municipal dessa que não faz muito ainda podia ser chamada de Cidade Maravilhosa. Na gestão do Senhor
Crivella, persistir em tal designação seria abusar daquele humor pesado, que se
compraz em desfazer a contrariu sensu as características do Rio de
Janeiro, não temendo a grosseira, sardônica ironia, que acompanharia a antes
bela cidade, como cruel epíteto. Hoje conspurcada pela desídia conjugada com a
falta de empenho - como se ela ainda correspondesse às imagens evocadas pela
marchinha-símbolo de André Filho, o carioca a sente em toda a parte.
Enquanto o ex-Prefeito Eduardo Paes,
que realizou o magno desafio da Olimpíada, se caracterizou pelo ativismo - em
alguns pontos decerto excessivo - - à antiga Cidade Maravilhosa tem havido na
gestão do Senhor Crivella apenas algo que relembrar-nos possa o zelo empenhado
pelo seu antecessor diante do magno desafio de uma Olimpíada - a ausência da
presença da autoridade municipal, que vemos na infestação de camelôs postados
junto ao comércio, na falta de manutenção dos principais logradouros públicos e
no consequente ar de abandono - e mesmo de desleixo - que ora se espalha pelo
Rio de Janeiro.
Permita-me, senhor Crivella, dizer-lhe que se o senhor gosta de viajar -
como o demonstram as numerosas viagens a Europa (desconheço se também aos
Estados Unidos) - e as suas passagens pela Cidade-Luz,
devo confessar-lhe que me deixa estarrecido a pouca utilização prática de seus
afastamentos no Velho Continente.
Se prestasse um pouco de atenção às
características do trânsito em Paris, veria que lá a maioria dos ciclistas
utiliza uma espécie de casco de fibra protetora para a cabeça, e - o que é
muito mais importante - dispõe de pista adequada nas principais ruas e avenidas
que lhe são próprias. Lá, senhor Crivella, não há ciclistas nas calçadas - como
aqui, ao invés de abundarem, deveriam valer-se dos logradouros para tanto
adequados. Cá, a falta de autoridade
se exprime no pandemônio dos ciclistas e das bicicletas motorizadas que já por
aqui abundam - e não nas ruas, onde deveriam estar - mas nas calçadas ameaçando
a vida dos pobres pedestres, que não tem lugar que possam considerar seguro e
próprio.
Essa ausência da autoridade,
Senhor Crivella, que se nos depara em toda a parte, se reflete para o comércio
na infestação de camelôs, no tráfico, causada pela falta de
pardais, vemos os veículos (sobretudo os ônibus, mas também os táxis)
furando sinais,_impune e perigosamente para os pedestres que acreditarem no
verde como autorização para a travessia da rua.
Pelo visto, hoje às voltas com as
obras paradas - que são evidência de sua inação, que antes já se sentia, mas
que agora se afirma com toda a força que
a sua disposição para a lassitude nos faça prever - o carioca há de
perguntar-se o que o senhor pretendeu ao candidatar-se à prefeitura dessa nobre
Cidade, que tantos cuidados exige, mas que a memória abraça Prefeitos com pê
maiúsculo, gente que enfrentou e resolveu grandes problemas, fez grandes obras
viárias, e até acolheu, entre outros certamens, a Olimpíada, que apesar dos pesares foi levada a inteiro
contento pelo Prefeito Eduardo Paes.
E o Senhor, como se vê nessa
companhia, em meio a tantas obras abandonadas, a tais demonstrações de
incapacidade de afirmar-se como Prefeito? Chegou a fugir do Carnaval, como se a
sua religião o proibisse. Portanto, implicitamente o Senhor Crivella mostrou a
gregos e troianos que acha apropriado inventar uma viagenzinha às Europas, onde
chegou a declarar em um dos pontos visitados que vinha em viagem oficial, tendo de aguentar a avania de um
desmentido revelado, veja só! pelo
sistema de som, que crua e desapiedadamente pôs a nu o seu caráter de
Pinóquio...
(
Fonte: O Globo )
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