quinta-feira, 7 de junho de 2018

Caminhoneiros: frentes da Crise


                               

          Não surpreende, decerto, que as concessões dados  aos caminhoneiros abriram frentes de crise. Dada a complexidade dos temas envolvidos, ministérios têm discursos distintos sobre como os fretes devam ser tabelados;  não surpreende, de resto, que os estados reclamem da perda de receitas com a Cide, de que dependiam para as respectivas malhas estradais.
          O modus faciendi da chamada 'negociação' com os caminhoneiros, em verdade, multiplicou as pressões sobre o governo Temer. Tratando-se de matéria finita, parece óbvio que utilizá-la como fonte de benefícios para quem pressionava com a greve, iria acarretar prejuízo para as partes antes beneficiárias exclusivas de alíquotas determinadas.
           Sendo atabalhoado o procedimento do Governo, e trabalhando com matérias finitas, parece óbvio que nem todos sairão satisfeitos, com a nova distribuição, que pode inclusive afetar outros beneficiários que antes dela não participavam.
           Assim, no setor empresarial há forte reação contra a tabela de frete mínimo.  Nesse sentido, a Fiesp avisou que vai recorrer à  Justiça, por meio de mandado de segurança, com vistas a impedir o tabelamento do frete rodoviário.
            Como assinala Roriz Coelho, que assumiu no dia seis  a presidência da Fiesp: "Independentemente de qualquer coisa, por princípio  somos contra o tabelamento de preços que fere a lei da competitividade do mercado. Estamos retornado a um país de trinta anos atrás".  Nesse contexto, Wilson Mello, presidente do conselho diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação, a tabela levará a um incremento de  até 80%  no preço da logística para o setor.
             Como a economia está desaquecida, ele diz ainda não ser possível saber se o aumento de custos impactará os consumidores no caso desse segmento.  "Em vez de inflação,pode ser que se tenha perda de lucratividade e competitividade do setor", completou ele.
              Outro presidente de Associação (esta Associação Brasileira da Indústria Têxtil)  afirma que o tabelamento do frete irá prolongar efeitos negativos da paralisação na indústria da confecção.   E observa: "Isso é anacrônico, inconstitucional, fere a livre iniciativa e não vai dar certo. .Gera menos investimento, menos produção, menos oferta. No final, o caminhão vai ficar parado no meio do caminho (sic)."
              O Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins da Silva Júnior declarou que a entidade pretende acionar a Justiça se não houver mudança na tabela, que considera um "retrocesso".
               A pedido de Blairo Maggi, ministro da Agricultura, a tabela será revista: " A Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) vai buscar fazer uma readequação dos valores. Ninguém está querendo fugir do acordo que o Presidente fez.  Agora, que ele seja justo para todos os lados", disse o Ministro no anúncio do Plano Safra nesta Quarta-feira. Já o Ministro dos Transportes, Valter Casimiro agregou que essa tabela será divulgada na quinta, dia sete, e que o tema ficará sob consulta pública.
                Por sua vez, o Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, como seria previsível, defendeu o acordo: "A tabela será mantida. Erros ou omissões devidamente comprovados poderão ser corrigidos a qualquer tempo."
                 Também se prevê dificuldades na aplicação para a reserva de 30% do frete da Conab, para autônomos, sem licitação. A tal propósito, o tema está sendo examinado pelo TCU.  Muitos asseveram que a medida fere a lei de licitação.A tal propósito, o presidente do CADE, Alexandre Barreto, declarou que o órgão está estudando a matéria.
                   Nos estados, os governadores reclamam da perda de receitas por causa da redução de R$ 0,46 por litro de diesel com o fim da incidência da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico).  Parte dessa arrecadação federal é destinada para os estados.  Ao zerá-la, a União cortou R$ 722 milhões que serão retirados de investimentos para conservação de rodovias estaduais. O Consetrans, conselho que reúne as secretarias estaduais de transportes, quer abrir negociação com a União. Muitos estados dependem exclusivamente  desses recursos para a manutenção de rodovias.
                   Esta concessão feita por ocasião da greve dos caminhoneiros, teria uma influência das mais nefastas sobre as redes estaduais de muitas dessas unidades da Federação. Ao viajar pelo interior de muitos estados, ao deixar as rodovias federais, já se verifica a condição por vezes penosa de tais vias de comunicação. Esta é uma das concessões à greve dos caminhoneiros com potencial nefasto para a rede de transportes nacionais, máxime daqueles estados que mais carecem do aporte federal para a manu-tenção de sua tela rodoviária mínima.
                   Também há dúvidas legais sobre como a União vai ressarcir os estados pelo fim da cobrança do pedágio pelo eixo suspenso, quando o caminhão retornar vazio de uma entrega, que foi outro acerto de última hora com a categoria dos caminhoneiros.
                   Outro questionamento existe de empresário da cadeia dos combustíveis. Embora o Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, haja afirmado que o Governo usaria poder de polícia  para que o desconto de  R$ 0,46 por litro de diesel chegasse às bombas, poucos postos repassaram os descontos,  de acordo com levantamento de alguns Procons.
                    Tal ocorreu por razões de mercado. A medida provisória determinou o desconto na refinaria. Da refinaria até os postos, vale a livre negociação. Muitos juristas dizem que o Governo agir na bomba seria inconstitucional.
                    Ao questionar a tentativa de intervenção, Leonardo Gadotti, presidente da Plural,  entidade do setor da distribuição, chegou a dizer que "a Venezuela começou assim"...
                     Na primeira reunião com representantes dos caminhoneiros, realizada no auge da paralisação nacional, o Palácio do Planalto conseguiu resistir e não ceder ao estabelecimento do frete mínimo e à isenção do pedágio sobre o eixo suspenso. Naquele momento, a avaliação interna já era de que fazer concessões sobre esses dois pontos poderia criar um efeito cascata e criar insatisfação com outras categorias.
                      Havendo sido, no entanto, mantida a paralisação, tal levou Temer a afrouxar um pouco mais e a fazer novas concessões.
                      Nesse sentido, assessores afirmam que, para o PresidenteTemer se fazia necessária uma solução imediata para que o problema do desabastecimento não se transformasse numa revolta popular que ameaçasse sua permanência no cargo. Assinam o artigo  Gustavo Uribe, Laís Alegretti, Julio Wiziack, Ana Paula Ragazzi e Filipe Oliveira.
Da Folha - Seção Mercado -sob o título "Acordo com caminhoneiros deflagra crise" se transcreve o modus faciendi das concessões feita ao movimento, a que pretendo intentar em próximos blogs interpretações próprias.

( Fonte: Folha de S.Paulo (Caderno Mercado) ) 





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