Dadas as divisões na União Europeia, o
desafio enfrentado pela Chanceler Ângela Merkel não semelha de fácil solução,
como a boa disposição de Emmanuel Macron parecia fazer antecipar.
Depois do 'ultimatum' do líder da União Cristã
Social, Herr Horst Seehofer, que é ministro do Interior no presente gabinete
alemão - a CSU é partido estreitamente associado à CDU, a ponto de ser com ela
confundido, a Merkel tem de achar uma solução de compromisso para a questão
imigratória. A eventual saída da CSU do gabinete alemão levaria à derrocada da
atual coalizão alemã, presidida pela Chanceler. Tudo está evidentemente ligado ao desafio
colocado pelos neo-nazistas da AfD (Alternativa para a Alemanha) na Baviera,
que põe em sério risco a supremacia da dita CSU, partido irmão da CDU, que fazem da
imigração seu cavalo de batalha.
Nesse contexto, o gesto generoso (e
de muita coragem política) da Merkel, ao admitir há coisa de ano e meio atrás,
a vaga de cerca de um milhão de refugiados da guerra civil na Síria, agora está
funcionando como um ajudante dos neo-nazistas, pelas dificuldades surgidas em
lidar com esse número de pessoas. A recusa ao estrangeiro tem sido superada
pela administração alemã e pela própria sociedade, mas não há negar que lidar
com tal fluxo manifesta a coragem da Chanceler Merkel, mas as dificuldades de
adaptação de um número considerável representa um grande desafio. Não obstante,
os preconceitos permanecem e a absorção dos alienígenas será sempre um
exercício difícil, se levarmos em conta os números e a falta da indispensável
triagem, que tem sido gradualmente corrigida.
Tudo isso levado
em conta, diante das posturas fascistas do regime húngaro e das absorções
homeopáticas por muitos países europeus que se proclamam liberais, o caminho seguido
pela Merkel, pelos seus traços humanos, é dificilmente contestável se a
transparência caracterizar a respectiva discussão. No entanto, na urna
eleitoral não tem prevalecido tal sentimento humanitário, e é por isso que em
tantos países os quais se jactam de seu liberalismo social, a determinação da
Merkel não é um traço muito encontradiço
em termos de efetiva acolhida.
Uma coisa é a reação diante da foto do
menino Alan Kurdi, de cerca de três
anos, morto afogado em praia do mar Jônico (Mediterrâneo Oriental) que comoveu
o Ocidente e adjacências. Outra e bem diferente para o cidadão comum das
sociedades europeias, a de conviver com populações de refugiados em que se acha,
como em verdadeiro cadinho humano, todo tipo de etnia, em geral com farrapos
como vestimenta e a aparência que espelha amiúde o cruel peso dos padecimentos
sofridos. A Guerra Civil Síria, é objeto de meu blog de 22 de fevereiro de 2018, e a imagem desse menino é
testemunho da crueldade dos que se crêem poderosos.
Mas voltemos ao desafio que Frau Merkel enfrenta. Na engrenagem
política, pode parecer raro, mas não o é tanto, como um líder que por tantos
anos haja constado como uma simples engrenagem do esquema de poder da Chanceler
alemã, de repente projete o próprio desafio que lhe é colocado pelos
neo-nazistas para o colo de Frau Ângela Merkel, na luta desesperada para
manter-se à tona nas águas revoltas de inesperada contestação fundada em bases
sociais.
Se não devemos subestimar a
capacidade da Merkel de contornar ou resolver esse desafio, é forçoso
considerar que, de certa forma, esse repto está à sua altura, pela própria
capacidade que tem demonstrado ao longo de sua extensa carreira política, de
extrair de situações aparentemente pouco manejáveis, respostas que atendam às
dificuldades do presente.
Nesse sentido, o auxílio que lhe vem
prestando o seu sócio - apesar de muito mais jovem - que é o Presidente da
França, Emmanuel Macron, pode ser para a Merkel de grande serventia. Dada a
relevância do chamado desafio social da emigração, a solução que venha a ser construída pode vir
a ser ulterior contribuição de Ângela Merkel para os atuais desafios colocados
para a Comunidade Europeia pela problemática dos Continentes vizinhos do mundo
europeu, com tão grandes desafios sociais em uma realidade muita vez de
absoluta pobreza.
(
Fonte: blogs anteriores )
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