Maria Esther Bueno
surgiu como um cometa em país que a eles não estava acostumado. Até então sem
grandes estrelas no tênis, habituados a ver aos que ingressassem no rarefeito
espaço dos grandes torneios internacionais a serem muito breve riscados da
competição, foi com algariada surpresa que nos coube ver nos principais jornais
da terra estampada a incrível promessa de grande feito que, de repente, uma
nossa conterrânea estivesse por arrancar.
Eram os anos do Presidente JK, anos de grandes promessas e de incríveis
proezas e realizações, como a primeira conquista da Jules Rimet no ano
anterior.
Mas Maria Esther nos chegaria como se fora cometa, cuja celeste presença
não a tivessem registrado os astrônomos.
Ainda
não se vivia nesse peculiar mundo global que hoje escarnece da distância, e
traz para a telinha da tevê imagens antes inatingíveis, pelos parcos recursos então
disponíveis.
Pois foi na grama de Wimbledon que a desconhecida Maria Esther arrebata
o seu primeiro grande troféu, e o faz com a aparente facilidade que os céus
reservam aos grandes talentos.
De todos os torneios, esse clube inglês é o mais prestigioso no mundo
tenístico. Para lá, se voltam os olhos e as ambições dos tenistas, no tácito
reconhecimento que na grama de suas quadras está a maior honra que os
praticantes desse esporte ambicionar possam.
E como sói acontecer com os gênios, tudo
lhe parecia fácil, por mais empenhadas que fossem as respectivas adversárias.
Diziam que dançava na quadra, tal a facilidade com que desenvolve o próprio jogo. Como todo gênio, ela surge não se sabe bem de
onde, e com o próprio estilo tão natural, quanto gracioso que a todas as
adversárias as leva de roldão, como se fora coisa de somenos.
Era de um talento estrugente e, portanto belo, com a naturalidade de
quem possui inteiro domínio do esporte,
e que por isso tem o estilo alegre e desenvolto, cuja enganosa facilidade tudo
faz parecer natural, tanto que Maria Esther arrebataria dezenove títulos do Grande Slam.
Os gênios são cometas que não nos visitam amiúde. Se os
reconhecemos de pronto quando surgem em cena, será sempre com o olhar esgazeado
que costuma homenagear heroínas e heróis.
Como não são coisa do dia a dia,
os deparamos com expressão em que se mescla a singela homenagem do preito, e leve, indefinível sensação de
tristeza. Pois tais grandes, enormes figuras, sendo tão raras, nos fazem olhar
em torno, na esperança de que a sua falta não se prolongue demasiado, para que
não transformemos os seus eventuais pobres substitutos em ilusórias, enganosas
imagens da grande presença que nos deixou.
( Fonte: O Globo )
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