De certa forma, a
retirada americana apenas reflete um molde de negação por Washington do
tratamento dos direitos humanos pelos órgãos das Nações Unidas.
A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, anunciou a 19 do corrente a
retirada estadunidense do Conselho de Direitos Humanos. Segundo ela, há um ano Washington teria
deixado claro "que a instituição não é digna de seu nome" e que os
EUA só permaneceria no Conselho "se
reformas essenciais fossem feitas".
Consoante o Secretário de Estado Mike
Pompeo "não duvidamos de que sua criação tenha sido de boa fé, mas
temos de ser honestos: o Conselho dos Direitos Humanos é um pobre defensor dos
direitos humanos".
Essa decisão de deixar órgão que congrega 47
nações é um ulterior recuo do Governo Trump de grupos e de acordos
internacionais, cujas políticas considera fora de sintonia com os interesses
americanos, a respeito de comércio, defesa, mudança climática e, agora,
direitos humanos.
Escusado dizer
que tal decisão padece, dentre muitas falhas, de um defeito capital: deixa o
Conselho sem ator que desempenhe um papel importante na promoção e defesa dos
direitos humanos em todo o mundo. Quanto à necessária qualificação desse papel
me reservo oportunamente os indispensáveis comentários.
Os EUA estão em meio de mandato
trienal, e, portanto, se auto-limitam na defesa das próprias posições. Não terá sido decerto por acaso que o
Alto-Comissário para os Direitos Humanos,
Zeid Ra'ad al-Hussein, haja pedido a
Washington suspender sua política "impiedosa"
de manter crianças separadas de seus pais imigrantes na fronteira dos Estados Unidos com o México. Nesse
contexto, definiu a prática como "injusta"
e equivalente a "abuso infantil".
No entanto, a nova formulação
política da Administração Trump, pela mediocridade de seus representantes, e
pela dificuldade em defender Israel no contexto médio-oriental e, máxime, no
que tange às relações com a Palestina, já tende a mostrar que a retirada do
Conselho dos Direitos Humanos é apenas uma cortina de fumaça para evitar
ulteriores dissabores na defesa de um país que tem primado, máxime na
administração de Bibi Netanyahu, no sistemático desrespeito dos direitos
humanos, sobretudo no que concerne à questão do Povo Palestino.
A fraqueza
diplomática da Administração Trump - que, aliás, não destoa do restante de sua
atuação em outros campos - é, na verdade, intrínseca caracteristica de um governo,
sobre o qual pende a real ameaça de ser afastado por vícios e ilegalidades que estão sendo analisados pelo Conselheiro
Especial Robert S. Mueller III.
A defesa de Israel pelos Estados
Unidos é característica não só da diplomacia, mas também da política
estadunidense em geral. Apadrinhada por Washington, essa relação é demasiado
complexa para ser analisada pelo presente estudo. Constitui, na verdade,
reflexo de um processo em que o país cliente adquire características diretivas
desde o século passado, e se deve, também, a influências de política interna.
As características principais de tal relação surgem com o presidente Richard
Nixon e, notadamente, com o Secretário de Estado Henry Kissinger. Para quem deseje aprofundar-se nessa questão,
recomendo o livro de William Bundy, "A
Tangled Web - The making of foreign policy in the Nixon presidency".[1]
[1]
A Tangled Web (uma Rede enredada - a
formulação da Política Externa na Presidência Nixon), de William Bundy, Hill
and Wang, New York, 1998, 647 pp.
Fonte para as demais informações dessa nota: O Estado
de S. Paulo.
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