quarta-feira, 20 de junho de 2018

EUA se retira do Conselho de Direitos Humanos


             
                        
         De certa forma, a retirada americana apenas reflete um molde de negação por Washington do tratamento dos direitos humanos pelos órgãos das Nações Unidas.
          A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, anunciou a 19 do corrente a retirada estadunidense do Conselho de Direitos Humanos.  Segundo ela, há um ano Washington teria deixado claro "que a instituição não é digna de seu nome" e que os EUA  só permaneceria no Conselho "se reformas essenciais fossem feitas".
         Consoante o Secretário de Estado Mike Pompeo "não duvidamos de que sua criação tenha sido de boa fé, mas temos de ser honestos: o Conselho dos Direitos Humanos é um pobre defensor dos direitos  humanos".
          Essa decisão de deixar órgão que congrega 47 nações é um ulterior recuo do Governo Trump de grupos e de acordos internacionais, cujas políticas considera fora de sintonia com os interesses americanos, a respeito de comércio, defesa, mudança climática e, agora, direitos humanos.
           Escusado dizer que tal decisão padece, dentre muitas falhas, de um defeito capital: deixa o Conselho sem ator que desempenhe um papel importante na promoção e defesa dos direitos humanos em todo o mundo. Quanto à necessária qualificação desse papel me reservo oportunamente os indispensáveis comentários.
            Os EUA estão em meio de mandato trienal, e, portanto, se auto-limitam na defesa das próprias posições.  Não terá sido decerto por acaso que o Alto-Comissário para os Direitos Humanos,  Zeid  Ra'ad al-Hussein, haja pedido a Washington suspender sua política "impiedosa" de manter crianças separadas de seus pais imigrantes na fronteira  dos Estados Unidos com o México. Nesse contexto, definiu a prática como "injusta" e equivalente a "abuso infantil".
             No entanto, a nova formulação política da Administração Trump, pela mediocridade de seus representantes, e pela dificuldade em defender Israel no contexto médio-oriental e, máxime, no que tange às relações com a Palestina, já tende a mostrar que a retirada do Conselho dos Direitos Humanos é apenas uma cortina de fumaça para evitar ulteriores dissabores na defesa de um país que tem primado, máxime na administração de Bibi Netanyahu, no sistemático desrespeito dos direitos humanos, sobretudo no que concerne à questão do Povo Palestino.
             A fraqueza diplomática da Administração Trump - que, aliás, não destoa do restante de sua atuação em outros campos - é, na verdade, intrínseca caracteristica de um governo, sobre o qual pende a real ameaça de ser afastado por vícios e ilegalidades que estão sendo analisados pelo Conselheiro Especial Robert S. Mueller III.

              A defesa de Israel pelos Estados Unidos é característica não só da diplomacia, mas também da política estadunidense em geral. Apadrinhada por Washington, essa relação é demasiado complexa para ser analisada pelo presente estudo. Constitui, na verdade, reflexo de um processo em que o país cliente adquire características diretivas desde o século passado, e se deve, também, a influências de política interna. As características principais de tal relação surgem com o presidente Richard Nixon e, notadamente, com o Secretário de Estado Henry Kissinger.  Para quem deseje aprofundar-se nessa questão, recomendo o livro de William Bundy,  "A Tangled Web - The making of foreign policy in the Nixon presidency".[1] 


[1] A Tangled Web  (uma Rede enredada - a formulação da Política Externa na Presidência Nixon), de William Bundy, Hill and Wang, New York, 1998, 647 pp.
Fonte para as demais informações dessa nota: O Estado de S. Paulo.

Nenhum comentário: