Assistir
ao tele-jornal relativo a esta cidade, não é ocupação das mais agradáveis.
As tevês e os jornais falam do
recrudescimento da violência. Quando
empregada, em geral se reporta aos tiroteios causados por bandidos, às balas
perdidas, aos choques entre polícia e bandidos.
A área da cidade referida é a antiga
Zona Norte. Mas a atividade da bandidagem continua grande, e um estranho que
passasse por aqui, ficaria surpreso se
lhe dissessem que a cidade está sob intervenção.
Agora, o exército semelha mais discreto.
A que está muito ativa, segundo os tele-jornais, é a bandidagem.
O carioca, por sua vez, vem mudando os
próprios hábitos. Como o poder do tráfico semelha ter crescido bastante, vai
longe o tempo em que a favela se tornara uma extensão de outros bairros.
No oba-oba da chamada absorção da cidade
pela favela - ou vice-versa -, máxime na época das UPPs, muitas favelas surgiam
como extensões da cidade, e as tele-novelas refletiam esse desenvolvimento.
A Rocinha era uma parada no turismo, mas
isto foi mudando com o visível crescimento do tráfico, a presença dos
tiroteios, assim como a morte de turistas, atingidos por balas de fuzil.
Recordo-me da turista europeia que queria, porque queria visitar a romântica
Rocinha. Passeou de carro, mas isto não a salvou de um tiro nas costas.
Há um tele-jornal local da Globo em que
essa 'nova' realidade da delinquência vai reaparecendo. É uma presença decerto
incômoda, que inquieta os bairros vizinhos pela evidente repetição dos
tiroteios e das mortes (causas: invasão, muitas vezes involuntária da área do
tráfico e a consequente forte reação dos bandidos entrincheirados).
Aquilo que a imprensa televisiva
chama a violência seria a responsável
pela redução na Zona Sul das saídas noturnas. O carioca sai menos e prefere as
tardes do fim de semana para sentar-se nos bares e pôr a conversa para rolar.
Já a Zona Norte é uma espécie de
espaço para a bala perdida. Os tiroteios são tão comuns que as pessoas morrem
sem saber quem as matou.
Outra coisa que vem ocorrendo com
inquietante insistência são as mortes dos P.M.s (policiais militares), com macabra
estatística desses policiais mortos a cada ano. Elas acontecem, em geral, na Zona
Norte e podem ser resultado de tiroteios com bandidos, mas também - o que é
mais inquietante - eles são visados pelo tráfico e a bandidagem, havendo uma
macabra estatística anual dos PMs mortos.
A Cidade Maravilhosa assistiu faz
pouco um escolar, menino ainda, ser alvejado por policiais, de um carro
blindado. O garoto só queria ir à escola, e a sua mãe ainda o encontrou vivo na
UPA (unidade de pronto atendimento médico). O Prefeito Crivella abriu os salões da
prefeitura para o enterro do menino. Ele era da favela da Maré.
Creio que o blog - e faz um
pouco de tempo - já noticiou sobre o bebê que foi alvejado na Favela do Lixão.
Ele estava no ventre de sua mãe quase por nascer. Infelizmente, no entanto, ele
morreu, malgrado todo o esforço médico-cirúrgico que foi devotado à mãe e ao bebê,
nascituro que entrou o pobrezinho para a macabra estatística das chamadas balas perdidas - que na verdade
não são exatamente perdidas, porque saem das armas de PMs e bandidos. Essas
balas, elas não existiam quando vim para cá, menino ainda. Tampouco elas me parecem perdidas. São balas
que saem de revólveres, pistolas, espingardas, fuzis, etc. Não seria correto chamá-las um acompanhamento
musical de uma antiga cidade alegre, que
uma cançoneta ingênua chamou de Cidade Maravilhosa.
Não sei o que aconteceu com
essa Cidade. A gente carioca é teimosa, e ainda brinca no Carnaval. Pode ser
que me engane, mas ouço falar muito de violência e tenho medo que essa Cidade
estertore por algum canto ou beco esquecido.
Os prefeitos continuam
otimistas, mas essa é a sua função.
O Rio pode estar em articulo
mortis, e nós ainda não sabemos. A cada dia, ele vai perdendo alguma coisa.
Como a turista argentina que teimou em curtir a noite na praia de Copacabana,
só para ser morta a facadas por pivetes.
Lembro-me da foto do Walt
Disney, sorridente, com os cotovelos nas areias de Copacabana, já talvez
pensando no Zé Carioca.
Mas ora direis, muito tempo
já passou, a praia foi aumentada por firma portuguesa com certeza, há duas
pistas na Atlântica, mas por onde anda a Princezinha do Mar ?
(
Fonte: vivência )