quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Previsível impasse na eleição israelense


                        

        As novas eleições são consequência das anteriores, em que o cômputo dos votos das duas principais coalizões - a direita de Bibi Netanyahu e o centro, de Benny Gantz - não lograram obter número bastante de assentos no Knesset para formar governo com maioria.
        Por enquanto, as pesquisas de boca de urna - notoriamente inconfiáveis em Israel - não demonstram qual dos dois contendores - se Netanyahu (que precisa governar para escapar da cadeia - o procurador-geral montou já três processos distintos para mandá-lo  para o xilindró),ou o general Benny Gantz, líder do centrista Azul e Branco, qual dos dois  disporá do número de assentos necessários para formar um gabinete.
          O fracionamento dos partidos - em sistema eleitoral onde pululam os mini-partidos - é consequência de uma sociedade  em que tais mini-partidos constituem veículos para obter vantagens para as várias partes de  sociedade corporativa, em que pequenos e aguerridos grêmios existem para defender prerrogativas e mesmo privilégios (como a isenção do serviço militar para determinadas seitas). Assim ao invés da pergunta o que o cidadão pode fazer para o bem comum da sociedade, nos partidos ditos religiosos a pergunta é diversa: o que a sociedade pode fazer por esse particular segmento da crença judaica?  A dispensa do alistamento e do serviço militar obrigatório tem alto preço para um país que depende do segmento jovem para servir em exército que lá está para assegurar à sociedade a necessária defesa, dentro de quadro regional em que o exército israelense é visto como garantia de sobrevivência em um entorno desse país cercado pela presença da nação árabe.   
             Não é prognóstico fácil determinar que coalizão - se o centro de Benny Gantz, ou se a direita representada  por Benjamin Netanyahu - vai afinal chegar a que os italianos chamam de camera dei bottoni, após formar depois de infindas tratativas uma aliança de governo com os respectivos aliados políticos. Não se exclui que a longa permanência de Netanyahu no poder  tenda a criar condições para que a coalizão de Gantz possa ter a sua oportunidade perante a sociedade israelense. Por outro lado, a longa permanência no poder  de Bibi Netanyahu pode representar um fator de desgaste que abra as portas para que o general Gantz traga proposta nova para a sociedade israelense.
                Com efeito, a corrosão dos anos de poder - e da corrupção que está cinzelada nos três processos penais que incriminam o chefe do Likud - pode significar um fator não-negligenciável para debilitar Netanyahu e criar condições para que o presidente de Israel convoque o general Benny Gantz,  para formar o novo gabinete. Sem o cinismo das continuadas reeleições e da permanência ilimitada nas aras do poder, o general Gantz pode alcançar o impensável, vale dizer ser o novo primeiro ministro de Israel.

( Fonte: O Estado de S. Paulo)

Nenhum comentário: