terça-feira, 17 de setembro de 2019

Entrevista do ditador Maduro à Folha


                 

     Cumprimento a jornalista da Folha, Mônica Bergamo, bem como o jornal - que a enviou e sua equipe à Caracas, para entrevistar Nicolás Maduro, e ao fazê-lo, tenho presente, com minha modesta experiência, o que isso representou em termos de esforço de reportagem, e de perseverança, tanto da entrevistadora, quanto de seu grupo de apoio, para arrostar todas as dificuldades que hoje pressupõe uma conversação aberta com o homem forte da Venezuela, e sucessor do caudilho Hugo Chávez Frias, morto em 2013.

        Terá valido tanto esforço e tanto empenho, de parte do grupo de representantes da Folha?  Tenho para mim que, a despeito de muitas respostas que mais nos parecem panfletos que muita vez ou pisoteiam, ou deformam aquela frágil criaturinha que é a verdade, de uma certa inegável maneira, é reportagem que marca um currículo pela coragem, habilidade e pertinácia da repórter, ainda que realizada em condições adversas, i.e. no reduto do ditador, que ainda é o Palácio de Miraflores, que tantos outros presidentes constitucionais abrigou no passado.
          Todo ditador perde muito em termos de contato com a realidade, e o cerco imposto ao atual homem forte da Venezuela, por mais entrincheirado e por conseguinte afastado de contato real e permanente com a realidade de seu País,  não será exatamente um fator que contribua para a maior inserção do homem  Nicolás Maduro no dia a dia do venezuelano. Não é apenas a hiperinflação, que é uma decorrência do seu desgoverno e daquele que o antecedeu, o moribundo Hugo Chávez, que lhe daria as chaves do Palácio.
             Considerar hoje a Venezuela uma democracia já é apresentá-la noutro plano. E por aí, afora,  a sutil deformação da verdade, ou a diferenciação nos pesos da Justiça.
             É democracia um país que "congela" a eleição para a Assembleia Nacional, e a que substitui na prática por outra Câmara, eleita pelo voto  das favelas e dos bairros pobres, como a própria empresa europeia que cuidou da eleição respectiva reconhece que a fraude presidira à sua eleição?

             É difícil, por isso, determinar por quanto tempo a ditadura chavista de Nicolás Maduro irá subsistir. Há uma fabulação constante nessas ditaduras, que é cuidada pelo respectivo entorno do ditador.  Todos os ditadores vivem nessa peculiar realidade. Seu afastamento do dia-a-dia pode ser tal, que será capaz de desconhecer como vive realmente o seu povo.  Ele pode até mesmo considerar-se um democrata...

( Fonte: Folha de S. Paulo - A oposição na Venezuela é pior do que Bolsonaro, afirma Nicolás Maduro )

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