domingo, 5 de maio de 2019

Apoiar Guaidó foi erro ?


                                   
      Para os ex-ministros  Celso Amorim (governos Lula e Dilma) e Aloysio Nunes (governo Temer), segundo a coluna de Bernardo Mello Franco, apoiar uma intervenção na Venezuela seria "insensatez" e "delírio".
       Considerar esse caminho seria uma postura que se distanciaria de nossa política externa, que privilegia o consensualismo e a criação de soluções pacíficas, que evitem o derrame de sangue.

       Mas a podridão do regime chavista é evidente e agride as democracias da América Latina, sobretudo diante da corrupção perniciosa da administração de Nicolás Maduro que, cortinas de fumo e hipocrisias partidárias à parte, se vê diuturna e penosamente rejeitada pela gente pobre da Venezuela, forçada a penosamente emigrar com os pés, através das longas, árduas, amiúde perigosas, estradas do exílio, que deixam de ter o voluntarismo de outras opções, não mais apenas pelo desgoverno econômico e financeiro, mas pelo horror da hiper-inflação que se traduz na negação do essencial ao Povo, assim como o desgoverno chavista, não apenas com a sua opressão política - que se aplicaria apenas aos ricos - mas tampouco esquece os pobres, com as mortes nos hospitais desprovidos de meios básicos para assegurar a sobrevivência de infantes e de gente adulta. Tudo isso resulta da hiperinflação, que se tornada permanente, desmoraliza a todos, pois ataca sem distinção de fronte.

         Tampouco posso concordar em que o apoio a Juan Guaidó haja sido um erro. É muito cômodo apostrofar as atitudes de outrem, sobretudo se tais posturas são consequência de situações extremas, em que a coragem pessoal tem de comparecer, em não mais se tratando de anódinas atitudes de gabinete.
          O que acontecerá com Juan Guaidó é ainda um segredo da deusa Fortuna, quando adotou, depois das consultações devidas, a sua postura, que a recepção mundial veio contribuir no que concerne a quanto já amadurecera a sua coragem, a deixar a cadeira de presidente da Assembleia Nacional, democrática é verdade, mas despojada pela violência chavista de qualquer poder, ao ser entronizada a Câmara chavista, saída de  eleição ilegítima, que até a empresa européia que cuidara dos trâmites da votação não se pejara de denunciar-lhe o caráter espúrio.

             É fácil criticar a atitude de Guaidó, enquanto permanece em dúvida o êxito da empresa. Corajosa, mas constitucional, e pela própria coragem Juan Guaidó se expõe a críticas de muitas nobres cadeiras. Até agora, não se sabe como terminará a destemida e nobre tentativa do deputado Guaidó que, críticas à parte, já amealhou cinquenta e quatro reconhecimentos por esse mundo, vasto mundo de Drummond de Andrade. Se o denodo e a coragem pessoal de Juan Guaidó que, apoios de poderosos à parte, não hesitara em pôr a propria vida a perigo, não só calando as vozes vizinhas da corrupção e do cinismo, mas também criando di persona uma situação que muito contribui para expor o desfazimento moral de um regime já podre desde décadas, e que conveniências, tao inconfessáveis quanto reais, terão preponderado por demasiado tempo, a ponto de animar a certas figuras de acoimar de erradas  as decisões de apoiar Guaidó ?  Muita vez, seja na lembrança da tranquilidade dos respectivos gabinetes, seja na melancolia de que a política deles os terá afastado, algumas figuras não se dão conta de que a História não é feita de tibiezas e de posturas consentâneas aos aveludados gabinetes. A coragem alheia, até a que a deusa Fortuna se digne expor-lhe seja o erro, seja o acerto, estará sempre exposta à palavra fácil da crítica feita à distância.
           Mas será aos Juan Guaidó do passado, do presente e do futuro que muita vez dependerá que calamitosas injustiças sejam enfim arrostadas e, quem sabe?, vencidas. Já imaginaram acaso um mundo que fosse ditado pelos trépidos cortesãos?

(Fontes: Carlos Drummond de Andrade, O Globo, coluna de Bernardo Mello Franco (Apoiar Guaidó foi erro, dizem ex-ministros)

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