quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Marina: pesquisa e debate

                                     

         O primeiro debate dos presidenciáveis foi realizado ontem à noite pela Rede Bandeirantes.  Sete candidatos participaram. Além dos três principais – Marina, Dilma e Aécio – quatro dos chamados nanicos: Luciana Genro (PSOL), Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelis (PRTB) também foram chamados. Dentre esses quatro, o que deu a melhor impressão – e de longe – foi Eduardo Jorge.

        Para um telespectador ignaro das últimas pesquisas Ibope, ter-se-ía a impressão de que tudo continuava na mesma. No entanto, o quadro se alterou drasticamente depois da morte de Eduardo Campos e sua substituição por Marina. No primeiro turno, ela tem 29% das intenções de voto contra 34% de Dilma e 19 % de Aécio. Já no segundo turno, a candidata do PSB venceria com facilidade à Presidenta (45% a 36%).

       Como se previa, o candidato do PSDB é o que mais sofre com o ingresso de Marina.

       Esse crescimento da candidata do PSB/Rede Sustentabilidade já tem provocado análises contrárias e críticas de parte de colunistas simpáticos, seja à Dilma, seja ao candidato tucano.

       O analista eleitoral Merval Pereira aponta a verdadeira ‘limpa’ feita por Marina nas intenções de voto. No seu entender, sobrou até para o nanico Pastor Everaldo, entre 3% e 4% . Com o fenômeno Marina, Everaldo perdeu muito de seu pequeno cacife. Nas perdas e danos dos dois candidatos dianteiros, Dilma e Aécio perderam quatro pontos cada. Também os nulos ou em branco caíram seis pontos; e os indecisos, mais três.

       No debate de ontem, no entanto, se Aécio dirigiu críticas à candidata do PSB, ainda não se observou  o intuito de singularizar ataques à concorrente, em função de seu avanço nas pesquisas.

       Dentre os nanicos, Luciana Genro aproveitou para atacar a trinca da frente: se disse expulsa do PT pela “turma do ex-ministro José Dirceu”,  e quanto a Marina , que se vende como terceira via, mas tem banqueira tradicional na sua campanha (Neca Setúbal).

        Nos próximos debates das redes de tevê, tanto Dilma, quanto Aécio deverão tentar desconstrui-la. Como aponta Merval, Dilma montara “toda sua campanha eleitoral no contraponto com o PSDB, tentando diluir seus fracassos nos doze anos de governos petistas.  Por sua vez, Aécio Neves preparou-se para discutir os quatro anos de Dilma”. Visava apresentar-se como o meio seguro para pôr fim ao poder do PT.

        Como se sabe, a decisão do TSE – com o único voto contrário do Ministro Gilmar Mendes – denegara à Marina autorização para a Rede Sustentabilidade. O futuro, que a Deus pertence, iria, no entanto, alterar de forma imprevisível a constelação de forças.

        Dessarte, de novo, na curva do caminho, apareceu Marina, desfazendo o cenário que seria o preferido do líder máximo da constelação petista, Lula da Silva. Para Merval Pereira a marca do novo, que traz Marina, seria “fantasiosa”, pois está na política há muito tempo (vereadora, senadora, ministra de Estado) e ‘prepara sua Rede para mais adiante’.

         Para o analista Merval, desconstruir Marina será tarefa árdua para Dilma e Aécio. Tal se deve à circunstância de que se manteve fiel a seus princípios éticos na política, a ponto de transmitir a impressão a seus seguidores de que ela nunca esteve envolvida na política tradicional, que rejeita.  Antevê, por isso, que seria difícil para eles (Dilma e Aécio) desconstruir-lhe a  imagem.

           Merval Pereira, portanto, - e decerto outros analistas, interessados ou não – não semelha descartar a priori a possibilidade de que tal empresa, posto que árdua, seja acaso impossível.

           O observador político não poderá excluir tal possibilidade. Não há muito tempo, no entanto, para uma dramática reviravolta. Ela se choca, decerto, com as qualidades oratórias de Marina e a sua experiência. No debate de ontem, foi a que melhor impressionou, cometendo apenas um deslize (no que tange a Aecio Neves ela se referiu de forma crítica às condições da área de Jequitinhona, que é, por assim dizer, o Nordeste em Minas).

            Não é prudente contestar a um ex-governador de Minas particulares que devem ser de seu amplo conhecimento. De qualquer forma, como tornou a mostrar ontem à satisfação, Marina discorre de hábito nessas justas políticas com facilidade, clareza e segurança. Dos três para valer, foi quem melhor impressionou como oradora. Aécio Neves não lhe fica muito atrás. Quanto à Presidenta vem, dentro do possível, melhorando. Para Marina,  o episódio de ontem – no percalço acima referido, decerto menor – toca uma campaínha. É melhor não embarafustar-se em mata alheia, se não a conhece bem.

 

(Fontes: Rede Bandeirantes,  O  Globo)

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