domingo, 17 de agosto de 2014

A Reviravolta


                                                    
          Na antiga Grécia, terra de heróis, o que ocorreu no dia treze de agosto foi o que chamavam de peripéteia. Súbita mudança na fortuna, muita vez determinada pelos deuses.

          A peripécia de hoje teve através dos séculos e dos caprichos da linguagem o sentido um tanto atenuado, mas, de certo modo, o antigo significado ainda está presente, como que adormecido por milênios que não passam em vão.

          O acidente que vitimou  Eduardo Campos e um futuro que parecia pertencer-lhe nos surpreendeu a todos, máxime pelo que apontava a trajetória do ainda jovem político. Se as suas chances de vitória desta feita não eram das maiores, as forças políticas tinham presente que a sua caminhada o predispunha a grande destino.

          Se não se ignoram a crueldade do Olimpo e os caprichos das Parcas, mesmo assim forte tem sido a impressão diante do corte abrupto e imprevisível.

          No entanto, como sói acontecer em tais desgraças, as suas consequências podem ser múltiplas, e ir bastante além de o que se entrevê a princípio.

          Se virmos o quadro político anterior àquele dia aziago, quem se animaria a contrariar o prognóstico de que a criatura do criador tinha o futuro quase assegurado?

          O demiurgo – que chama de ‘postes’ àqueles que faz eleger -  pensara ter tudo preparado para a reeleição da presidente, cujas qualidades como grande gestora havia apresentado tão melíflua e favoravelmente em 2010.

          Mas consciente da relevância da própria tarefa, nela pensava sobretudo mais como prêmio para assegurar a permanência no poder do respectivo partido, que ao chegar aos doze anos, mira prolongar o sufocante domínio até os dezesseis.

           E tudo fora feito em tal sentido, afastando da refrega o embate direto, por ele temido, com carismática adversária, o que no seu entender deveria ser controlado e predisposto, eis que a administração da discípula vem semeando erros, como a inflação, os gastos desregrados, e os consequentes tropeços na economia, que ao invés de crescer, desencoraja os operadores, e vai corroendo as reservas acumuladas nos tempos de bonança.

          Sem embargo, os deuses são por vezes mofinos. Irrita-lhes sobremaneira que  humanos se julguem em condições de preparar o futuro, barrando o caminho de outros mortais, e desse modo alçando-se à posição que não é deles por direito.

          Na verdade, não carecem de fogo para as suas receitas. Mas de uma ou de outra forma, zombam de os que se crêem senhores do destino, enquanto lhes fazem engolir goela adentro o prato amargo da sorte madrasta.

          E a peripécia se apresenta ao pobre demiurgo, a ele que se acredita acima do comum dos mortais, com riso desdentado e malévolo, que, na verdade, é apenas o retrato das próprias artimanhas e projetos megalômanos, a que embalam ilusões de poderes por demasiado tempo tolerados.

         E  agora  José ?

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