terça-feira, 5 de agosto de 2014

Dilma, a epimetéica

                                               

         Se o termo não está acolhido pelos dicionários, o seu oposto o é.  Com efeito, prometéico está no Houaiss, mas não epimetéico. Esses adjetivos se reportam, obviamente, a Prometeu, o personagem mitológico que deu o fogo à humanidade, e a quem se volte para o passado. Tais termos foram, de certa forma, cunhados pelo grande historiador Arnold Toynbee, autor de Um Estudo da História, que foi o seu magnum opus.

         No seu entender, prometéico  é o inovador, voltado para o futuro, e epimetéico, o conservador, com as vistas no passado.

         Assumindo a presidência pela vontade de seu criador, Lula da Silva, Dilma Rousseff deveria passar a impressão de estar do lado do progresso, ou dentro de terminologia mais afeita aos tempos correntes, à esquerda.

         No entanto, o seu governo – e planos para um eventual segundo mandato – têm mais laços com o passado e certo conservadorismo, do que a grande gestora – nas melífluas palavras de seu protetor e último recurso, nos moldes do velho Maximato[1] mexicano – pensaria transmitir a impressão.

          Senão vejamos.  O bom governante é aquele que não se deixa levar pela corrente. No entanto, não é o que deparamos na administração Dilma. Em mundo que procura aligeirar o Estado, de forma a que tenha visão mais prometéica e inovadora, a nossa Presidenta cuidar de seguir pela trilha das estatais.

          O Globo de hoje nos informa que o seu Governo vai turbinar uma nova subsidiária da Infraero.  Forçada a entregar o Galeão e Confins à iniciativa privada, diante da situação criada pela Infraero – e o usuário de nossos aeroportos conhece essa paquidérmica realidade – a Presidenta apresenta o velho como se fora novo.

          Pelo visto, o PT continua a acreditar no estatismo como solução. De quê, é difícil saber, porque a Infraero Serviços que é o novo avatar de uma visão arcaica que permanece, enquanto a antiga Infraero ficará com o passivo trabalhista de R$ 213,5 milhões.           

          A dílmica movimentação, com o seu desenvolvimentismo do passado, o ônus crescente nos gastos correntes – que se deriva do peso excessivo de cargos nos dispêndios do Estado, gastança esta que não é própria de seu governo, pois também marcou a Administração Lula da Silva, em seus dois mandatos – continua a causar a inchação dos dispêndios do Governo Federal – que se eram 14% do PIB em 1997, passaram para 18,8% do  PIB.

          A compulsão da despesa em Dilma é conhecida. Não é outra a razão pela qual a Administração tem de recorrer a  série de mágicas para dissimular o peso crescente do passivo na Administração, o incremento da dívida pública e todas essas obras inacabadas.

               O muito-governo gera uma contradição, que não é benfazeja, eis que afeta a economia, e através das capitalizações e outros dúbios recursos aumenta a pressão inflacionária, pela inchação de meios de pagamento sem caução fiscal.

               Em termos de carestia, aqui não se faz o dever de casa. Em vez de sanar a economia, se aumentam as pressões inflacionárias, e não menos através de intentos de favorecer o consumo e não o investimento. Já se pensou no peso mais do que inútil, danoso, do enxame de ministérios (que beiram os quarenta) sem atribuições maiores de que a de garantir o apoio de um estamento partidário que é um escárnio ideológico, dado admitir uma pluralidade de posições políticas que não correspondem ao mundo das ideologias, mas apenas à partilha do bolo estatal até às suas migalhas?

               Dilma, no entanto, no Meio Ambiente, resolve economizar. O seu desinteresse no setor não se reflete apenas no Código Florestal, que foi aprovado com deploráveis emendas ruralistas, mas também na ausência de  defesa mais pró-ativa da Amazônia.

               Essa melancólica realidade se reflete nos fatos: no seu mandato, Dilma criou apenas três novas unidades de conservação, e nenhuma delas na Amazônia, que é a região mais ameaçada, (ainda ostenta a maior floresta tropical do planeta).

               Já os seus antecessores, com todos os reparos que se lhes possa dirigir, luzem muito mais forte: Lula, em dois mandatos, criou 54 unidades, e FHC foi o que mais fez nesse setor, com 81 novas áreas protegidas.

               Por isso, embora decerto não tenha ficado inativa, pode-se questionar a circunstância de que o ativismo de Dilma não haja aparecido nesta área do meio ambiente, cuja relevância não carece de sinalização.

               O Brasil não pode se dar ao luxo de primar pela ausência na área do Meio Ambiente. Além da discutível mega-obra da grande usina de  Belo Monte, no rio Xingu,                    com todos os problemas ecológicos que coloca, e o consequente mega-impacto ambiental, neste exemplo, como em outras bandas, a Administração Dilma parece pertencer ao passado, com as respectivas mazelas. Será por isso que, a despeito da relevância, é de gestão tão apagada?

 

( Fonte:  O Globo )



[1] Plutarco Elías Calles inventou o Maximato, quando terminou o seu mandato.  Impedido de reeleger-se por norma constitucional, cuidou de perpetuar-se no poder através dos presidentes peleles (títeres). Quem rompeu com a prática infernal foi Lázaro Cardenas, após aguentar, na década de trinta do século passado, por dois anos o mando do ‘Líder Máximo’.

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