quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Por que o Congresso americano não age ?

                               
        

        A agência de classificação de risco Fitch ameaça rebaixar a nota soberana dos Estados Unidos, hoje no nível máximo AAA. Como  agência se aventura a brandir com tal advertência, diante da maior economia do planeta? Já em agosto de 2011 a Standard & Poor’s praticara o inominável, vale dizer rebaixara a nota dos EUA.
        Existe no Congresso uma clara disfunção, que o mundo, e mormente as grandes economias têm dificuldade em entender. Como se permite   que a situação chegue a este ponto, com o status americano condicionado a jogadas políticas irresponsáveis, como refletido nesta enésima crise artificial com a Casa de Representantes ?
        Os Estados Unidos não pode e não deve ficar condicionado a uma crise artificial, provocada pela necessidade burocrática da elevação do teto da dívida fiscal da superpotência. Em consequência da eleição intermediária de 2010, o GOP assumiu o controle da Câmara de Representantes. Em função do gerrymander que se seguiu, o Partido Republicano – conforme claramente demonstrado pelos totais das eleições gerais de 2012 (em que o Partido Democrata teve mais sufrágios do que o Republicano, em todos os níveis federais) – reteve o domínio da Câmara de Deputados, com uma maioria radical de direita, que está meridianamente em contradição com a tendência política geral na União Americana. Para maiores detalhes, V. os meus blogs sobre a matéria e o artigo de Elizabeth Drew, na New York Review.
         Por força de tais condições, na Casa de Representantes está entrincheirada facção do Tea Party, de tendência radical de direita, que, na prática,  domina este ramo do congressual americano. Para tanto, tem a contribuição de um Speaker (presidente) fraco, o veterano deputado John Boehner (OH) que se recusa, por temor de ser derrubado da cadeira, em pôr em votação proposição que tem o apoio da minoria democrata e de parte da bancada republicana, estes últimos por bem saberem de o que pode acontecer-lhes no próximo pleito.
         A opinião pública não é burra e sabe muito bem avaliar as responsabilidades respectivas nesse jogo que ignora o interesse do país, e que procura por todos os meios obter ganhos sectários à custa do interesse nacional. Jogada similar, de iniciativa do então Speaker Newt Gingrich, levou à derrocada nas urnas do GOP, castigado pelo povo, que apoiou os democratas e o Presidente Bill Clinton.
        O próprio John Boehner, pela sua fraqueza, teve de recuar à última hora, compondo um tipo patético (o líder que teme assumir responsabilidades). A ‘proposta’ da Casa de Representantes, que, para variar, tentava prejudicar o ACA (A assistência médica custeável) que tratam como se fora bicho papão, tentando ignorar que é uma lei aprovada pelo Congresso (quando os democratas tinham maioria nas duas câmaras), sancionada pelo Presidente Obama, e que sobreviveu até juízo da Corte Suprema.
       Como ora se reitera, a partir da próxima meia noite, o Tesouro americano não terá mais autorização de crédito para honrar suas dívidas. Tornar os Estados Unidos refém de uma irresponsável negativa de renovar o teto fiscal da dívida – para tentar arrancar ganhos sectários da Administração Obama, à custa se diga uma vez mais, do interesse nacional, é um procedimento condenado pela maioria responsável na superpotência. Deve frisar-se uma vez mais que tal estado de coisas só se mantém ainda de pé pela debilidade do líder respectivo, o Speaker Boehner, a insensatez de uma bancada que não reflete a opinião pública americana,  e sua reiterada tendência para a cegueira no que tange a respeitar o interesse nacional.
          Nesse contexto,  a tática demencial do Tea Party  pensa obter benefícios político-partidários passando por cima de considerações como crédito internacional, perigo de causar recessão e danificar gravemente a confiança internacional na solidez da economia americana.

 

( Fontes:  O Globo, New York Times, The New York Review ) 

Nenhum comentário: