domingo, 6 de outubro de 2013

Colcha de Retalhos A 36

                            

A Surpresa de Marina

       Se é difícil engolir a escolha de Marina, enquanto a segunda candidata nas pesquisas, e aquela que tinha aberta a possibilidade de ir para o segundo turno e ganhar, há fundamentos palpáveis para a sua decisão.
       O PT e seus tentáculos tem feito avanços que tornam a comparação com o chavismo, não apenas um tropo da polêmica, mas uma incômoda e progressiva verdade.
       A realidade nua e crua não tarda muito em aparecer, apesar da força do situacionismo. Ela aparece sempre. Na sessão do TSE, para sua honra, quem a anunciou foi uma voz solitária, a do Ministro Gilmar Mendes.
        As palavras de Marina, explicando o seu gesto, não devem ser caladas: ‘Estou vivendo aqui um paradoxo, estou alegre por esse momento, e estou triste porque o que produziu esse momento foi um aviltamento da democracia’.
       Não foi por acaso que os apoiamentos faltantes para o registro da Rede Sustentabilidade vieram dos cartórios eleitorais do ABC paulista, zona de domínio político histórico do Partido dos Trabalhadores. E a impressão será de um movimento concertado e coordenado, tão grande e sustentada foi a negação da validade das assinaturas, denegadas sem sequer apontar o motivo.
       Quem não poderá ver sem tristeza esta baixaria, e partindo de quem ? Quem recorre a tais expedientes é farinha do mesmo saco daqueles que se servem de assinaturas de listas para outros fins ou até mesmo fazem defuntos participar do processo democrático. No passado, essas farsas eleitorais incluíam o bico de pena. Por mais augustos que sejam seus representantes, costumam ser indício seguro de fim de regime.
       Com a sua adesão ao PSB, Marina fez um movimento inesperado, com o que não contava a turma do Planalto. Esperavam eliminá-la, e para tanto o oficialismo encenara o que dele se esperava. Ei-la, no entanto, que surge à retaguarda das trincheiras de D.Dilma, com um ataque inesperado, que embaralha a estratégia sopesada nos gabinetes do poder.
       Sob esse rude golpe, aventa-se, mesmo, que o PT tenha de chamar para o prélio o seu campeão. Como os chavistas, eles também não gostam de perder, e a hora não seria para confiar em aprendizes. Sem embargo, os anos passam, e nem o vigor, nem a antiga credibilidade repontam no Líder Máximo e Última Esperança dos Aflitos.
      Quem pensara livrar-se com uma canetada (e umas tantas manobras por baixo do pano) de uma adversária incômoda e popular, se descobrem com as mãos abanando, e o quadro, para eles (e são muitos !) não é dos melhores. Coitados, não é que lhes assusta a perspectiva da planície ?

 
Maduro é sobrenome ou metáfora ?

 
     Cerca de sete meses depois da morte do Grande Líder, o chavismo mais parece uma nau sem rumo, que não logra avançar no caminho da prosperidade.
     Nicolás Maduro, que muitos consideram como o maior erro de Hugo Chávez, não consegue lidar com os desafios do populismo. O caminhoneiro – que até se serviu de um canário amestrado, como se fosse o espírito do grande timoneiro – se vai atolando progressivamente no chavascal da economia venezuelano, com as prateleiras vazias nos super-mercados, os apagões na rede elétrica, a inflação (45% - o triplo do ano passado) e as torpes tentativas de dar causas estrangeiras (leia-se EUA) aos males da Venezuela.
     A torpe manobra de expulsar o encarregado de negócios americano e dois outros diplomatas, como se estivessem implicados em sinistro complô contra o governo venezuelano tem a origem de sua autoria marcada pelos sinais indeléveis do primarismo de Maduro & Cia.
     Mesmo chavistas convictos sacodem a cabeça diante do sucessor de Chávez. As suas limitações repontam por todas as costuras.
     Por mais corrupto que seja um movimento, o instinto de conservação sobrepaira sempre. Quando as coisas vão mal, o barco faz água por todo o lado, não serão exatamente os maiores idealistas que tratarão de ‘consertar’  o problema.
     Chávez tinha carisma. Por isso, conseguiu se sustentar no poder, a despeito da crise generalizada e endêmica. Agora, Maduro exagera, com a própria embaraçosa ineficiência. Sem a verve do Caudilho, tudo fica mais difícil e – num prisma latino-americano – também mais fácil.

 
O  Ouro pode virar latão ?

      Não é que haja diferenças de approach entre os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff. Os erros não são apenas da sucessora, pois as práticas datam do tempo do torneiro mecânico.
      Vejam, ilustres passageiros, a gestão do BNDES. Com a sucessão de capitalizações – que o presidente Lula tanto apreciava – as carteiras desse banco não luzem como antes.  Como mostra Elio Gaspari, as jogadas de apoio à OGX – financiada pelo BNDES com R$ 10,4 bilhões – deram chabu. O mesmo se pode dizer do apoio à Supertele OI, que está agora com dívida de R$ 45,6 bilhões. Dentro da lista dos chamados campeões nacionais, há um desconfortável elenco de fracassos.
     O PT passava por amigo e defensor intransigente da Petrobrás. A sua presidente pode ser amiga da Presidenta, mas a Petrobrás merece melhores amigos. Endividada  - por participar da estratégia anti-inflacionária de D.Dilma de forma ruinosa (compra no exterior o combustível pelo preço de mercado e tem de vendê-lo no Brasil a preço político (i.e., mais barato).  Com falta de recursos, a mega-empresa se atrasa nos investimentos das plataformas e isso se reflete na sua saúde e comportamento.
      Maria das Graças Foster é amiga de D.Dilma, mas desses amigos quiçá deva pedir que a Providencia os mantenha à distância, eis que se pede à Petrobrás que sirva de remédio anti-inflacionário, só que em uma estratégia assaz estranha.
      Parece paradoxo mas não é. Excluída a tentativa de transformá-la em Petrobrax, a grande criação de Vargas se deu muito melhor obrigada no tempo do liberalismo de FHC, do que no estatismo desenvolvimentista de Dona Dilma.

 

(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, International Herald Tribune)

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