quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Harry Reid mostra o caminho das pedras

                                  
         
        O Congresso Americano, na vigésima quinta hora, logrou o que muitos já desesperavam pudesse acontecer. Os céticos tiveram que bater em retirada, como a agência de classificação de risco Fitch, que ameaçara rebaixar a nota soberana dos Estados Unidos. A Fitch, mêmore talvez da precipitação da Standard & Poor’s, que rebaixara a nota dos EUA em 2011, ficou na advertência.
        Nas pesquisas de opinião pública o Partido Republicano e, em especial, a sua bancada na Câmara de Representantes, pagavam alto preço em termos de reprovação, pela postura radical, acrescida da provada incapacidade de atingir os respectivos objetivos.
       Com os iterados embates entre a Administração Obama e o GOP, e as seguidas tentativas de extorsão política pela Câmara de Representantes, para obter concessões dos democratas (desta feita o prato forte na libra de carne exigida era a Lei da Reforma Sanitária Custeável, o chamado ‘Obamacare’ no apodo republicano à legislação sobre a saúde aprovada pelos democratas).
        Muito já foi aqui escrito sobre as causas profundas que viabilizam esta rábida campanha da direita radical – e dos setores favorecidos pelos altos preços atuais praticados pela indústria médico-farmacêutica estadunidense – contra o ACA. Decerto, a solução a longo prazo só será possível quando se lograr desfazer o extenso gerrymander praticado pelas assembleias estaduais com maioria republicana, após a debacle da tunda (shellacking) da eleição intermediária de 2010. O GOP caprichou então no redesenho dos distritos, assegurando maioria na Câmara de Representantes para os republicanos, a qual, com redução, se manteve em 2012, apesar do predomínio geral, em número de votos, do Partido Democrata.
       O cenho cerrado e os lábios comprimidos do Speaker John Boehner (Rep/OH), com que se dirigiu ao plenário da Câmara, dizem talvez mais do que as muitas linhas sobre as estapafúrdias exigências da facção do Tea Party (47 deputados na inchada bancada do GOP de 232). Boehner, por fraqueza e incapacidade de liderança, fora refém dos radicais republicanos. Não ousara antes – como lhe assinalou o Presidente Obama – pôr em votação proposta apoiada pela bancada minoritária democrata (198) e mais 87 republicanos moderados.
       A inutilidade da resistência ficou comprovada quando bateu na porta do Speaker a proposta, aprovada pelo Senado, em votação bipartidária, costurada pelo líder da maioria Harry Reid (Nev/Dem), com a ajuda do líder da minoria Mitch McConnell. Na Câmara Alta, a votação foi maciça: 81 a favor, 18 contra. Apenas a ultra-direita e o Tea Party, com Ted Cruz (Tex/Rep) dissentiram.
        A única concessão – com todo jeito de compensação pro-forma – foi a cláusula de aperto das regras de verificação de renda para os americanos que se inscreverem  nas novas câmaras de seguro médico criadas pelo ACA. Magro consolo para quem partira para tentar inviabilizar a abominada (pela direita) reforma da saúde (Obamacare).
        Diante da hora da verdade, a resistência da Câmara de Representantes desmoronou. Por 285 sufrágios a favor (todos os 198 deputados democratas e mais 87 republicanos) contra 144 do GOP, o tão postergado inelutável veio forçar a porta do timorato John Boehner.
        Essa disfunção no Congresso, que coloca a Câmara Baixa na contramão da opinião americana, cobra um preço alto, que é a erosão da confiança das Finanças e dos investidores na capacidade do Erário de Tio Sam em honrar seus compromissos internacionais. 
        Mais uma vez, logrou-se na ultimíssima hora a chancela para a elevação do teto da dívida fiscal. Nunca é demais sublinhar o caráter irresponsável - mais próprio de institutos do direito penal do que da prática financeira usual – que reside na utilização de o que no passado era acertado de forma burocrática pelos líderes congressuais (i.e., a elevação burocrática do teto da dívida fiscal). Hoje, com a deterioração do bipartidismo – na essência o entendimento de que os dois partidos têm com escopo precípuo o interesse nacional – os republicanos partem para um jogo perigoso, vale dizer, tentar obter, a todo risco da solidez financeira do Tesouro americano, ganhos políticos na prática de deslavadas chantagens.
       Como eles próprios, em determinados momentos, chegam a intuir, esta é  tática de alto risco, mais própria de lemingues políticos, do que membros de bancadas que se propõem representar a comunidade americana.
       Querer forçar goela abaixo da Presidência condições sectárias que o GOP não logra impor pela discussão e votação pelo Poder Legislativo, e pela posterior sanção do Executivo, tem-se comprovado um jogo político com exíguos benefícios para a oposição. A única exceção terá sido em 2011, quando Barack Obama vacilou, e cedeu mais do que devera aos republicanos. Recuperou-se posteriormente, resistindo às tentativas posteriores do GOP, para gáudio seu e dos eleitos democratas, com o desmentido pelo eleitorado da maldição do Senador Mitch McConnell que desejava confinar o 44º presidente a um só mandato...

 

(Fontes:  New York Times, O Globo)

 

 

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