domingo, 20 de outubro de 2013

Colcha de Retalhos A 38

                             

A Bomba Saudita

        A insatisfação da Arábia Saudita com as Nações Unidas e o tratamento dispensado a diversas questões mereceu uma ação inusitada daquele reino cuja dinastia tem sido, através das décadas, tão próxima de Washington e do Ocidente.
       Eleita a dezoito de outubro para um assento rotativo no Conselho de Segurança, o Governo saudita vem a público com uma decisão inédita: renunciou à cadeira, de que seria a titular por dois anos, e para a qual acabava de ser eleita pela Assembléia Geral.
       A iniciativa pode ser original, mas nada tem de fútil.  O desconforto saudita já fora indicado pela não-participação de seu Ministro do Exterior, o Príncipe Saud, no debate aberto cerimonialmente pela delegação do Brasil, por intermédio de sua Presidenta. 
       A irritação saudita, prenunciada pela recusa do próprio Chanceler em discursar perante a Assembleia Geral,  passa a ser expressa de forma bastante mais incisiva.
        Apesar de muito cobiçados, os postos rotativos no Conselho de Segurança, se implicam em alguma participação nas questões afetas a esse organismo, tem relevância assaz reduzida diante do quinteto dos membros permanentes.
        A insatisfação quanto à influência superficial e quase pro-forma dos membros não-permanentes não poderia ser significada de modo mais tonitruante. Desdenha a tão cobiçada participação, muita vez conseguida por intermédio de laborioso processo de troca de favores e de negociações junto aos membros da Assembleia Geral.
        Com a sua renúncia, Ryadh  sublinha várias insatisfações: o sofrível tratamento dado à revolução síria e o opaco papel do Ocidente, no que se inserem as indecisões de Barack Obama; o escândalo da questão da Palestina, e a incapacidade deste membro das Nações Unidas de se tornar independente, assim como a preocupação com o papel do Irã. 
       A crise na Síria se deteriora sempre mais, com os seus problemas conexos, dentre eles o desafio do aumento descontrolado do número de refugiados, com suas implicações políticas, sociais e de saúde pública.
       Nesse sentido, o desconforto saudita se acentua, eis que, pela inação do Ocidente, cresce a influência russa e a presença de jihadistas radicais, dando à revolução, uma conformação por inteiro diversa daquela do início dos protestos contra Bashar al-Assad.
       Ao escolher a opção inesperada mas traumática da renúncia a um posto rotativo no Conselho de Segurança, Ryadh fez sentir a sua presença de modo muito afirmativo de o que seria a sua bem-comportada participação no organismo diretor das Nações Unidas.

              
Próxima a libertação de Yulia Tymoshenko ?

 
      Cresce a probabilidade de que a pressão da U.E. pela libertação da líder da oposição, Yulia Tymoshenko, esteja a ponto de forçar a anuência do Presidente Viktor F. Yanukovich. Foi dito ao Presidente que a União Europeia não assinaria acordo comercial com a Ucrânia se a Sra. Tymoshenko, ora confinada em hospital carcerário de Kharkov, não fosse autorizada a submeter-se a tratamento médico por problema na coluna na Alemanha.
      Malgrado repetidas gestões só agora Yanukovich dá mostras de que poderá aceder à condição de Bruxelas.  Nesse sentido, o Presidente ucraniano fez saber que, se o Parlamento aprovar projeto autorizando a viagem de Yulia Tymoshenko para a Alemanha, ele apoiaria a dita moção.
      Sendo a Tymoshenko a principal rival política do presidente, a sua liberação não é mera formalidade jurídica. Não há dúvida que a atribuição ao Parlamento da iniciativa de liberar a Sra. Tymoshenko não passa de jogo de cena do presidente, a que o órgão legislativo atenderá, se esta for realmente a decisão de Viktor Yanukovich.
      É  o que se determinará em breve.

 

Calçada não é ciclovia

         Pela inoperância do Prefeito Eduardo Paes, as calçadas cariocas se estão tornando tão ou mais perigosas do que as ruas.  E por que aumenta a ameaça para o pedestre? Pela simples circunstância de que um perigo inimaginável representa risco muito maior para o transeunte.
       Se o tráfego constitui um sério risco para o carioca – pelos ônibus que sistematicamente ignoram o sinal amarelo e atravessam a faixa de pedestres já no vermelho, pelos carros que desrespeitam os sinais de travessia de pedestres, pelos ridículos oito segundos que o Detran concede ao pedestre para atravessar avenidas e ruas, e também pelos ciclistas que se servem das ruas como se elas não tivessem mão – pelo menos, o transeunte está psiquicamente condicionado para o risco de atravessar qualquer logradouro, mesmo se sob a aparente segurança do sinal verde. Por isso, ele toma todas as precauções necessárias para se pôr a salvo de riscos que não só se agravam, senão existem desde sempre.
      Não é o caso do abuso vergonhoso por muitos ciclistas das calçadas que muitos transformam não em ciclovias, mas em autênticas pistas de corrida.
      Ontem verifiquei mais uma vez quanto um pedestre está ameaçado nas calçadas cariocas. Chovia e ia à minha frente um senhor, um pouco mais idoso do que eu. Na calçada que utilizava, ele não sabia, mas o seu risco aumentara ainda mais por dois fatores, ambos devidos à inoperância da prefeitura: no trecho do passeio, ele fora encolhido de forma abusiva pela invasão das grades que não se limitaram à distância usual para os prédios fronteiros às ruas. Por isso, a calçada virou uma pista estreita em que passam duas pessoas ! O outro perigo que se conjugou foi o de um jovem ciclista irresponsável que vinha nessa pista estreitíssima em alta velocidade. O pedestre idoso estava de costas para o ciclista, que com os seus ares de dono do espaço avançava a toda. Como estava mais atrás, antevi o perigo, mas não creio que o senhor tenha sido alertado por meu grito para o  acidente que parecia inevitável.
         Desta feita, ficou no quase. O bólido apenas roçou no senhor, que teria sido jogado ao chão se o choque tivesse se efetivado. Entrevi os gestos justamente enraivecidos do idoso, enquanto o jovem desaparecia na calçada, não dando qualquer atenção ao mal que estivera muito perto de causar.
        E é neste ponto, senhor Prefeito, que se torna ainda mais nefasta a sua aparente displicência na matéria, permitindo que  ciclistas se tornem cada vez mais virtuais donos das calçadas, em que outrora os pedestres podiam considerar-se em segurança.
       É muito cômodo para ciclistas e até entregadores em triciclos optarem pelas calçadas que não lhes oferecem qualquer perigo, salvo aquele que infligem aos transeuntes.
       Por isso, não basta colocar em Manual do Detran  que os ciclistas devem obedecer a todas as leis do trânsito. Dir-se-ía, Senhor Eduardo Paes, que Vossa Excelência, como o Deputado, se está lixando no capítulo para a opinião pública, mas creio importante que saiba que, como a Autoridade Municipal, tem de zelar pelo respeito às leis, portarias e demais ordenações. São tantas as infrações praticadas pelos ciclistas nas calçadas que o Senhor deveria cuidar, através de sua polícia municipal, de criar condições objetivas para afastar os ciclistas das calçadas. No respeito das leis do trânsito, eles dispõem de muitas ciclovias e de espaço nas ruas e avenidas para circular em segurança.  

       TENHA PRESENTE, SENHOR PREFEITO, A RESPONSABILIDADE DO CARGO. NADA FAZER NESTA QUESTÃO PODE IMPLICAR NA NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO CABÍVEL NO CASO, EIS QUE SE TORNA CADA VEZ MAIS POSSÍVEL E MESMO PROVÁVEL QUE PEDESTRES VENHAM A SOFRER DANOS FÍSICOS, COM RISCO DE VIDA, PELO FLAGRANTE DESRESPEITO DAS LEIS DO TRÃNSITO POR UM NÚMERO CRESCENTE DE CICLISTAS.  

 

Horário de Verão

       Quando  implantado o horário de verão no Brasil, que é instrumento importante para a economia de energia, ele o foi em todo território nacional. Em torno da linha equatorial, no entanto, verificou-se posteriormente que constituía transtorno inútil para a população amazônida, e por isso os estados do extremo norte seriam excluídos desse horário.
       No entanto, esse exemplo serviu de pretexto para que outros estados dele se afastassem. Atualmente, o Brasil está dividido em dois em matéria de horário de verão. Todo o Norte, o Nordeste e Tocantins não participam deste relevante esquema sazonal de poupança de energia.
      Com isso o governo federal brasileiro dá lamentável exemplo de permissividade. Para que se tenha idéia do despautério, caberia a seguinte pergunta: os Estados Unidos da América e a União Européia,  duas unidades geopolíticas com dimensões igualmente continentais, dão aos estados e países-membros o alvitre de participar ou não do horário estival ?
      Como se tem presente o intuito primordial do horário – que é o de poupar energia – não se encontrará tanto nos EUA, quanto na U.E. exceções à  regra comum. Tanto os estados, quanto os países membros devem por isso integrar-se à determinação. Como as fontes de energia e a sua localização não são múltiplas, tampouco deve ser à vontade do freguês a participação ou não no horário estival.
     Nesse aspecto, a Bahia deu  triste exemplo da desordem no horário de verão. Depois de participar por um ano, como alegadamente a população se incomodara com a regra (observada no sul, sudeste e centro-oeste brasileiro), e o governador Jacques Wagner, temendo que o PT perdesse eleição na capital, cuidou de dar o dito por não dito, e no ano seguinte saíu do clube de poupança energética[1]. O Tocantins, um estado criado recentemente, também mostra o mesmo comportamento errático.
    Assim, temos no Brasil estados que não participam do esforço comum de poupança energética. Sem embargo, lembram-se de pertencerem à Federação, enquanto se trate de servir-se das fontes de energia, a maior parte procedente do Sul maravilha.
     Dada a importância da poupança de energia – sobretudo porque a ameaça de racionamento, além de efetivada no passado, constitui sempre uma possibilidade – o Brasil carece de imitar os bons exemplos. As unidades federativas fazem parte de  conjunto que deve ser harmônico, e não palco de caprichos regionais.
     Devemos assegurar que o horário de verão seja nacional, e não o conjunto de idiossincrasias estaduais. Afinal, se não devem existir barreiras para o fornecimento de energia, tampouco cada estado pode agir como lhe dê na veneta.
     Para tanto, o governo federal deve ter presente que deve zelar pelo interesse geral, e não curvar-se a injunções politiqueiras dos estados que porventura se neguem a participar de programas comuns de interesse geral.
      Tenhamos novamente um horário de verão comum e abrangente.  Como outras unidades políticas de âmbito continental.
       A construção do Brasil é um esforço conjunto. Não há lugar para comodismos e exclusões.        

 

(Fontes: New York Times; CNN)



[1] De nada serviu a tentativa in-extremis. O PT perdeu a eleição.

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