sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Os Descaminhos da Presidenta

                               

            Dilma Rousseff mostrou desde o inicio de seu mandato presidencial que não inovaria em termos de reestruturar a questão fiscal. Ao assumir, não quis valer-se da perspectiva aberta a novos mandatários de proceder seja a reforma política, seja a fiscal. De ambas o Brasil necessita. No entanto, ela optou pela timidez nesses campos, fazendo um aceno ao Congresso para que delas se ocupasse. Desperdiçou uma opção importante, deixando-as por conta do Legislativo, o que, na prática, equivale a conviver com a inoperância.
            Mas se a candidata da algibeira de Lula da Silva se tivesse pautado por manter a casa em ordem, ainda que fôssemos onerados pela brutal carga tributária de que o impostômetro é o triste símbolo, não estaríamos tão mal assim em termos econômicos e financeiros.

           Sem embargo, não tendo nenhuma experiência de voo solo em cargo executivo de magnitude, a princípio, Dilma se acomodou ao modelo do segundo mandato de Lula, com a Fazenda sob a responsabilidade do fraco Guido Mantega fazendo as mágicas das capitalizações, que acarretaram o crescente comprometimento do BNDES e os ‘empréstimos’ do Tesouro.
           Tampouco, de início, a presidenta se preocuparia muito com o eventual aquecimento da economia e o consequente surto inflacionário. Assim,  sua pesada mão forçou o Banco Central a sucessivas rebaixas na taxa Selic, tudo para favorecer, por via do consumo, o crescimento econômico.  

            Foram retomadas as chamadas desonerações fiscais de bens de consumo duráveis, como os veículos produzidos pelas montadoras-feitorias, além da série dos eletrodomésticos. Tais desonerações, no entanto, não tinham regras fixas, o que tendia a provocar incerteza no meio empresarial brasileiro – que não podia adivinhar que setores seriam privilegiados -, além da correspondente queda na receita do Estado.
           Exacerbou-se, outrossim, do empreguismo, a par do enorme incremento nos encargos correntes da União, o que seguia a orientação do governo Lula, com o aumento do assistencialismo estatal a par da inchação do ministério, que já beira os míticos quarenta. Em termos eleitorais, pode ser opção proveitosa, mas representa pesada carga para o Erário, além da consequente escassez de margens para investimentos produtivos.

           A principio, dona Dilma lidou com a inflação como se fosse coisa de somenos, contra a qual invectivava com forte retórica, mas sem nenhuma medida eficaz para contê-la. Seria o caso de perguntar-se onde a Presidenta,que semelhava desconhecer e os longos anos de estagnação que o flagelo da carestia causara ao Brasil, buscara tal estratégia.
           Desperta espécie, que ao invés de seguir a cartilha do Plano Real e do Ministro Palocci,  Dilma Rousseff – como se fora uma extraterrestre – acreditasse possível, como o seu consultor Delfim Netto, conviver com a inflação. Nesse contexto, bradava contra  o dragão ditos vazios do gênero ‘não admitiremos a volta da carestia’. Como o terrível dragão ignora ameaças desse tipo, não tardou muito para que a inflação retornasse.

           Como  sua popularidade despencou, algumas providências foram tomadas para contê-la, inclusive a licença para que o Banco Central de novo aumentasse a taxa Selic.

           No entanto, Dona Dilma parece seguir o modelo de Cristina Kirchner, com os seus malabarismos em termos de transparência fiscal, do que a prática seguida pelo seu antecessor Lula da Silva, que pelo menos teve o bom senso de não mexer em time que estava ganhando a partida.

          A recente querela com o FMI não é reprise de temporadas que muitos pensavam coisa de um passado superado e se possível enterrado.
          Com a fraqueza do Ministro Mantega que, na terra do futebol, semelha reminiscente daqueles técnicos prestigiados pela diretoria de um clube que não vai bem, a Fazenda não mais inspira ao inversor estrangeiro a confiança de outrora. Além de uma inflação que está sempre a beirar o teto máximo, as contas do Brasil parecem descambar para as da peronista Cristina Kirchner.

          Dona Dilma dá a impressão de ser alguém deslocado no tempo, eis que a presidenta parece viver um tanto fora dele. Além de um desenvolvimentismo defasado, que nota se deveria dar a uma gestora que para combater a inflação pede os conselhos de Antonio Delfim Neto e Luiz Gonzaga Belluzzo?
           O Plano Real não é obra partidária, mas um acervo a ser preservado. Desperta, por isso, estranhável assombro que os seus autores sejam ignorados, quando se trata de pôr em ordem a economia e as finanças.

           Se não queimasse os dedos com as pesquisas de opinião e a correspondente queda junto à população, a presidenta nada teria feito, pois ela deve achar, como outros no passado, que a inflação é administrável.
           Agora, o Brasil volta a sofrer reparos das autoridades do FMI. Ao invés, de brandir escudos e lanças, como era o costume – como se as censuras atingissem a soberania brasileira, quando na verdade apenas desnudam práticas reprováveis – o que se deveria fazer é voltar à ortodoxia econômico-financeira.  Não será por um estúpido ataque à Lei da Responsabilidade Fiscal (para proteger o companheiro Haddad) que vamos pôr em perigo este instituto importantíssimo. Para ajudar um mau devedor, é correto por em risco as finanças da União?

           Se nos igualarmos à Argentina de Cristina Kirchner, com as suas contabilidades fajutas (além da inflação maquiada e pesadamente), de que servirá essa fanfarronada à presidenta?  As contas vão piorar ainda mais (não há maquiagem que tapeie os fatos crus da economia), a estagnação prevalecerá e o dragão continuará pimpante.

           Para tudo isso, há um simples remédio...

 

(Fonte: O Globo)

Nenhum comentário: