sábado, 20 de julho de 2013

Renoir

                                                        
         O filme de Gilles Bourdos, de 112 minutos (2012), centra-se nos últimos anos do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir, entre 1915 e 1917 (ele faleceu em 1919), passados em sua chácara do departamento do Var, na Côte d´Azur.

         Adentramos a propriedade pelos passos da jovem Andrée (Christa Theret). A primeira impressão é de um certo abandono, em que a vegetação mediterrânea, com sua força silvestre, cresce à volta das oliveiras. Andrée vem procurar, a mando de sua esposa, o pintor. Quem ela primeiro encontra é um adolescente, mais conhecido como Coco. Como recepção não será das melhores, chegando o personagem, interpretado por Thomas Doret a duvidar da sua recomendação (se saberá depois que Aline, de quem Coco é o caçula, está morta).
           Será assim, por mão falecida, que Dedé (o apelido de Andrée) irá penetrar na mansão do grande pintor e pelas suas qualidades de modelo redespertará nele o estro da pintura.

           Atazanado pela artrite que lhe dificulta, mas não impede a pintura,  move-se pela propriedade carregado por magotes de empregadas, a ele, por inteiro, dedicadas.  Auguste Renoir busca reproduzir na tela uma antiga volúpia, em que os nus , traduzidos em um difuso amarelo, na cor de jovem, reluzente e, por isso, sedutora epiderme. No dorso e nos seios da modelo, a libido de Renoir ressurge, posto que cerceada pelas contingências e limitações da velhice. Na modelo Andrée,  sua arte, em que a cor e a luz âmbar dominam, retrata as matizes do verão mediterrâneo de que Pierre-Auguste só pode ora participar  criando na tela encantadora mulher, em que a própria admiração deve cingir-se a essa forma de contemplação.

          Com a chegada do convalescente Jean Renoir (Vincent Rottiers), que recebera baixa do exército, por força de grave ferimento, a relação se torna triangular entre o pintor, o filho e a modelo, por quem Jean se apaixona.
          Pai e filho se redescobrem, enquanto a relação entre Jean e Andrée se aprofunda, para depois entrar em crise.

          Auguste Renoir, com a sua peculiar filosofia, é muito bem interpretado pelo veterano Michel Bouquet, e tanto Vincent Rottier nos traz um Jean Renoir que é ainda esboço  do grande cineasta em que se transformará, quanto Christa Theret será a visão da sopitada luxúria personificada na modelo Andrée.

           Por fim, a direção de Gilles Bourdos nos traz a paisagem mediterrânea da Côte d´Azur como que vista pelas lentes da pintura de Auguste Renoir, em que a cor, com os seus cálidos matizes de âmbar, parece mais importante do que os riscos e a excessiva nitidez.
           São duas artes que se dão as mãos, para deleite do espectador.

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