quinta-feira, 4 de julho de 2013

Padrão Fifa nas obras públicas !

                                   
          Dada a qualidade dos elefantes-brancos levantados para receber condignamente as seleções de futebol que participaram da Copa das Confederações, e as que virão para a Copa do Mundo de 2014, o chamado padrão FIFA, de qualidade tão rara se comparado com outras obras em termos de serviços públicos no Brasil, passou a ser exigido – e de forma muito pertinente – pelas manifestações de rua que acordaram o poder nessas últimas semanas,
          Terá sido a forma impertinente utilizada pelo Secretário-Geral da FIFA, o suíço Jerôme Valcke, ameaçando aplicar pontapés no traseiro das autoridades brasileiras, que as terá assustado para o cumprimento estrito da altíssima qualidade dos requisitos exigidos para os novos estádios ? Como se verifica, a modernidade da FIFA exige estádios caríssimos, mas com capacidade de público relativamente reduzida – entre cinquenta e setenta mil -, a que se concede todo o conforto. Sem embargo, pelo custo dos bilhetes, o povão estaria excluído das arquibancadas à prova de chuva, e com assentos numerados. Como o requinte FIFA não convive com os espaços da Geral, a grande pergunta que resta no ar é como se acomodará uma parte dos espectadores – ou acaso se pensa que o padrão suíço barra a democrática e indispensável presença do povo brasileiro (que não tem nada de burguês, e muito menos a dinheirama para pagar o ingresso) ?
           Por falar em padrão FIFA, este é igualmente reclamado para hospitais e demais serviços públicos no Brasil. Fernanda Torres já havia há tempos apontado o perigo, tanto no elevado do Joá,  quanto no da Paulo de Frontin .Nos trabalhos de empresas terceirizadas para o reforço estrutural do dito elevado do Joá – em que está proibido o trânsito de caminhões e a velocidade dos carros de passeio reduzida para 60km – caíu um pobre operário que, apesar de utilizar o equipamento de proteção individual esquecera de prender o respectivo cinturão de apoio. Nesse aspecto,  sente-se o caráter indispensável da fiscalização, que evitaria o esquecimento de parte do operário, que lhe custou uma queda de dez metros.
           Por outro lado, o mui utilizado Elevado da Paulo de Frontin – e não nos esqueçamos do desabamento no tempo do governador Chagas Freitas, que tantas vidas cobrou – está com as suas estruturas expostas, com mostras por toda a parte de ferrugem nos pilares do viaduto.  Dados os antecedentes, e o pesado tráfego que por ele passa a caminho dos túneis Rebouças nos dois sentidos do trânsito entre Zonas Sul e Norte, é de toda necessidade que o Padrão Fifa dê as caras também na prefeitura do senhor Eduardo Paes.
          A esse respeito, o que aconteceu com o jovem Marion Jean de Matteo, de dezoito anos, que teria tido a maior parte do cérebro afetada por um pedaço de reboco que se desprendeu do Viaduto de del Castilho (enquanto ele, ontem de manhã, esperava a supervia para ir ao seu trabalho de telemarketing).  Marion Jean está em estado grave, com 85% do cérebro comprometido.
          A manutenção das inúmeras obras existentes no Rio de Janeiro exigem providências oportunas e constantes das autoridades e, em especial, do Senhor Prefeito Eduardo Paes. A nossa gente carece da mesma atenção que foi dispensada aos elefantes brancos das Copas (e da Olimpíada).  Prevenir é a outra face da medalha. E para tanto a atenção minuciosa e que não deixa para esse grande amanhã que caracteriza a atitude das autoridades é obrigatória.
          Se a ameaça do pontapé no traseiro do suíço Valcke funcionou, o padrão Fifa tem de ser aplicado para tudo, inclusive na indispensável mas tantas vezes negligenciada manutenção.

 

(Fonte:  O  Globo)

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