segunda-feira, 8 de julho de 2013

Inflação: Patacoadas do Governo

                                  
         A inflação continua a subir, mas se anuncia para o próximo mês a sua queda. O velho truque da luz no fim do túnel também se aplica em matéria financeira. Em termos de carestia, o governo Dilma Rousseff tem pesada responsabilidade.
          Os leitores do meu blog terão presente que desde muito cedo neste terceiro mandato petista alertei para o estranho modo com que a presidenta se propunha combater o dragão. É difícil admitir que uma pessoa com preparo econômico-financeiro admita a possibilidade de enquadrar a inflação pela retórica. Frases vazias, do tipo ‘não admitirei a volta da inflação’, ou cousas do gênero, não é maneira séria de lidar com a questão. Muito menos desenvolvendo  política de incentivo ao consumo, o que só tem agravado o endividamento das famílias.
           Basicamente, o principal instrumento para o controle da inflação cabe ao Banco Central. Durante meses a fio, a despeito da pressão sobre os preços e a volta do efeito da sopa dos índices, o único guarda que poderia atuar contra a elevação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), vale dizer o Banco Central, ficou impedido de fazê-lo por determinações do Planalto.
           Uma das regras básicas para garantir a boa gestão econômico-financeira está na autonomia do Banco Central. Ela existe nas grandes economias, como nos Estados Unidos, no Reino Unido e em diversos outros países. Em má hora, FHC se opôs a que se estabelecesse por lei esta autonomia no Brasil, e já no segundo mandato de Lula começamos a pagar por tal laxismo, quando atualizações necessárias na taxa Selic não foram feitas a pretexto de que a elevação na curva dos índices inflacionários correspondia a pressões sazonais. O segundo ministro da Economia de Lula, Guido Mantega, já brandia argumentação de circunstância. Daí as pressões inflacionárias herdadas pelo governo Dilma, em que a novel presidente preferiu que o BC se abstivesse de controlar o aquecimento do crédito. Não foi por acaso, decerto, que Henrique Meirelles, ao solicitar fosse mantida a ‘autonomia’ (de resto bastante relativa, como está implícito pela influência de Mantega) teve denegada a sua continuação à testa do BC.   
         A luz vermelha inflacionária será a causa principal do despencar do índice de aprovação de Dilma. Enfraquecida a presidenta, vários fenômenos que antes não se viam surgiram. Talvez o mais importante é a recuperada franqueza das forças aliadas que integram a famigerada base de apoio (costurada por Lula e alimentada por empreguismo desenfreado, com um ministério fraco em termos de capacidade e inchado em matéria da sua multiplicação, sobrecarregando os custos correntes). Pois não é que essa gente principia a reclamar dos erros políticos de Dilma ? É óbvio que tais erros serão sempre discernidos no quintal alheio, e nunca no próprio, malgrado a generosidade da suserana petista.
          Mas voltemos à alta dos preços. De novo, foi superada a ‘meta’ do BC – na verdade, o teto da meta – com 6,70% (que é o IPCA dos últimos doze meses).  A sociedade brasileira de novo vê surgir o espectro inflacionário – que lhe infernizou a vida e inviabilizou o crescimento econômico durante décadas a fio. Se a eleição de Lula em 2002 reacendera os temores da carestia – o PT sempre combatera o Plano Real, como se fosse mais outro plano heterodoxo – e a apreensão da sociedade tinha, portanto, muito fundamento. Por sorte, então havia gente de pulso na gestão da Fazenda, e após a inevitável turbulência, foi possível manter a política anterior na consolidação do Plano Real. Se tal ocorreu com Antonio Palocci, por infortúnio ele teve de afastar-se da administração, com as infaustas consequências, comprovadas em duas ocasiões, a segunda já no dílmico governo.
               Quiçá se tenha imagem esclarecedora da capacidade da Presidenta de controlar a inflação (que ela trouxe de volta) pelo famoso almoço no Planalto, em que cometeu dois erros reveladores. Se o ágape era para dar-lhe idéias de combater a carestia, nos causa estranhável assombro que os convidados fossem economistas, decerto de nome, mas que não se assinalaram por grandes feitos nesse campo, como Luis Gonzaga Belluzzo e Antonio Delfim Netto. Por outro lado, no segundo equívoco, Dilma não convidou o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas sim um seu alto funcionário, Arno Augustin, Secretário do Tesouro Nacional, que tem sido distinguido por repetidas mostras da atenção presidencial.
               Ideias para combater a inflação a Presidenta terá no Banco Central, através de seu presidente, que é a autoridade competente na matéria. Por outro lado, não passa uma boa mensagem o desprestígio do Ministro da Fazenda. Se ele não está satisfazendo, a quem aproveita mantê-lo enfraquecido no cargo? E por outro lado, é um pouco constrangedor que, à cata de idéias para combater o dragão, a senhora vá buscá-las com pessoas que notoriamente nada acrescentaram de útil no capítulo. E ao invés, a turma do Plano Real  não foi chamada... Será que o preconceito do PT perdura, e ficamos nós privados das indicações de quem mostrou competência no capítulo ?
              É tudo muito melancólico, senhora presidente. Eis-nos obrigados – e não por nossa culpa - a reviver um pesadelo que nos visitou no século passado, e de que a sociedade, pelo instrumento do Plano Real, afinal pensara ver-se livre. Será que além do comércio às moscas, dos supermercados vazios, do aparecimento das notas graúdas que valem sempre menos, teremos que reviver o retorno das maquinetas e toda a sua cauda de estagflação ?

 

( Fonte: O Globo )

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