quarta-feira, 31 de julho de 2013

Dilma está em fim de linha ?

                                       
         Dilma Rousseff decifrará o enigma eleitoral e logrará viabilizar a candidatura à reeleição?

         O que se pensava, há meses atrás, fossem favas contadas, as manifestações de junho, a sua confusa e atabalhoada resposta, e a incômoda presença de altos índices  de  inflação – tudo isso junto e misturado bagunçou o quadro, e ao invés da branca tela da quase formalidade do bilhete carimbado para outro quadriênio, irrompe  confuso cenário em que tudo é possível.
         Na dissonância dos erros, a carestia se afigura como o mais grave, mas não é decerto o único. Dilma encontrou a economia relativamente em ordem, porém com Guido Mantega na Fazenda, o continuado aumento dos gastos correntes, o truque das capitalizações tão do agrado de Lula da Silva, e o consequente incremento da dívida bruta, as desonerações fiscais para enfrentar a ‘marolinha’, tudo isso a refletir estado de coisas assaz diverso do prevalente na gestão de Antonio Palocci, com a respectiva exação no respeito ao dever de casa.
          Desde cedo a presidenta julgou que poderia controlar o dragão com declarações bombásticas do tipo ‘não admitirei que a inflação retorne’. Sem embargo, Dilma mostrou pouco discernimento, ao negligenciar nas medidas indispensáveis para manter a carestia sob controle. Dir-se-ía que ela chegara de outro planeta, tão ignara se provou em comportamento a beirar o irresponsável.
          Depois das décadas perdidas na inflação e hiperinflação pelo descontrole dos preços, é espantoso que alguém assuma a presidência e na prática desconheça as medidas elementares que deve tomar para manter a casa em ordem, e sobretudo o que não deve fazer para evitar surtos inflacionários.
           Se Lula da Silva teve juízo bastante de capacitar-se de que o êxito do Plano Real não era  adereço partidário, mas conquista de toda a sociedade, é estarrecedor que a sua pupila, na prática, haja ignorado os avisos de elementar cautela, e, sob o estandarte de  confuso desenvolvimentismo, desembestado no pântano de erros e do voluntarismo dos néscios.
           Nesse sentido, à cata de percentuais mais altos de desenvolvimento, manietou o Banco Central – nosso único fiscal ativo da inflação – não permitindo qualquer elevação de juros. Por outro lado, a sua escolha de ativar o crescimento pelo consumo – a par das desonerações fiscais e do controle de preços da Petrobrás e de outras estatais – trouxe para a economia muita ambiguidade e pouco crescimento. Dentre desse voluntarismo, não tendo os empresários bolas de cristal para saber aonde investir, o resultado não poderia ser outro que o marasmo dos pibinhos.
            Na equipe da Fazenda em que a figura do Ministro se vai tornando mais patética, aumentam os malabarismos fiscais – que como todo remendo só tendem a ressaltar os próprios defeitos. Será que Dilma Rousseff deseja imitar a Cristina Kirchner, que em termos de economia é uma pária internacional? Nesse sentido, como interpretar a gestão de Mantega ao FMI de que ao invés da dívida bruta, se utilizasse no caso brasileiro a dívida líquida? Pensam acaso que o FMI é bobo? Nada espelha mais o vexame fiscal de nosso país que esta pretensão, se me permite a palavra, um tanto torpe, por presumir que o Fundo possa desconhecer das lambanças fiscais da Administração Dilma.
              Junto com a crassa calinada de provocar – por incompetência ou húbris – a disparada da inflação, o governo Dilma tem acumulado erros que agora assomam, ou se tornam verdadeiros elefantes na sala de jantar, agressivos pela própria presença.
              Os ridículos trinta e nove ministros que existem para alicerçar a chamada base de apoio constituem, na verdade, um apêndice terceiro-mundista, a personificação do empreguismo desenfreado, a par de sua ínsita mediocridade.
             A inabilidade de Dilma, o seu menosprezo pelos rituais da política, fizeram com que se abrisse enorme fosso entre a base aliada e o Planalto. Multiplicam-se por falta de diálogo as derrotas da Presidenta, e não há veto seguro, nem Medida Provisória que possa ser blindada por algum inexistente dispositivo.
             Por outro lado, os dois tombos sofridos por Dilma nas pesquisas a fragilizaram bastante.  O PT, atemorizado pela incrível e inesperada probabilidade de que o tão decantado período petista no poder venha a ser nada cerimoniosamente interrompido, lembrou-se nesse brejo das almas de seu nume tutelar. Lula tem adotado a respeito uma atitude política, incentivando rumores de sua candidatura, enquanto reitera inabalável confiança nas perspectivas da pupila em reeleger-se.
             Na recente entrevista da Presidenta a Mônica Bergamo o que mais sofreu foi a lógica e a verdade. A frase que não haverá a volta de Lula, porque Lula nunca saíu é um malabarismo verbal que mais revela do que oculta.  Ao patentear-lhe a subordinação nada republicana, cria mais problemas do que resolve. Se ele está tão vinculado assim, porque tantos erros foram cometidos?  E querer a volta de Lula não significaria reconduzir ao Planalto o responsável por toda a situação? Se Lula errou ao indicar pessoa despreparada, vamos premiá-lo por isso?
             Os fatos nus e crus apontam a vertiginosa caída de Dilma Rousseff.  Essa queda a fragiliza e anima não só os mouros da costa, mas muitos aventureiros de última hora.
             Por outro lado, Dilma parece ter perdido a noção do real e do crível. Ao cabo de sua entrevista a Monica Bergamo disse, como sublinhou Miriam Leitão, que além dos cinco pactos que propôs, iria propor um sexto, o pacto da verdade.
            E numa frase em que a ironia parece transmutar-se em sarcasmo, a colunista de O Globo frisa: “em seguida, disse que a inflação está baixa, a dívida pública está caindo, os gastos estão sob controle, e o déficit da Previdência é pequeno”.
            Diante do aparente despautério presidencial, pergunto-me, com todo o devido respeito, se não hão de crescer  dúvidas sobre o contato com a realidade brasileira da Senhora Presidente da República.

 

(Fontes:  O Globo,  Folha de S. Paulo)

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