sábado, 27 de julho de 2013

Os Três NÃO

                                                 
        De certa forma, tudo começou em São Paulo, com o movimento do passe livre, no mês de junho. Os políticos – tanto na Paulicéia, quanto no Rio, para não dizer nos palácios do faz-de-conta, em Brasília – estavam noutra, na alegre arrogância de um poder que não acredita dever satisfação ao Povo, salvo a pontual e quadrienal farra das urnas.
        Vivendo nas delícias do mundo corporativista e nefelibata das aras palacianas, suas excelências se julgavam acima do bem e do mal, e para tanto lhes serviam as notas entoadas pelos burocratas e arapongas a seu serviço.
         Daí a descrença das primeiras horas e as ríspidas negativas que brotavam do pântano chapa-branca. Para quem só está acostumado com armações, como não reagir daquela maneira, como se muxoxos de menosprezo bastassem para a gentalha.
        Não percamos tempo, no entanto, com a reação dos diversos postes e do bando político. Bem cedo, eles se dariam conta de que era mister engolir as próprias ilusões e cair na real.
        Como todo movimento contestatório que irrompe no momento certo, ele se espraia com os cruéis caprichos do fogaréu nos campos maltratados por longos meses de estiagem. Assim, não é que repontou no lotado estádio Mané Garrincha, construído sob os padrões Fifa, a vaia para Dona Dilma ?
        Assim, de São Paulo, com escala em Brasília, o despertar chegou ao Rio de Janeiro, e da antiga Corte se espraiou, como se fosse um coro grego, por todos os cantos desses Brasis, com seus pontuais clamores e reclamos, todos adornados do verde e amarelo do Ipiranga, acrescentadas as fundas queixas da sofrida gente dos municípios.
        O segundo não caminharia para o Leblon, onde demora o governador Sérgio Cabral. A despeito da empáfia, o inegociável aumento do preço das passagens, logo desapareceu diante de força mais alta que se alevantava. Para Cabral também chegara a hora. Por causa das viagens a Paris, da turma do lenço, dos alegres vôos de helicóptero com cachorrinho et al., pela decrepitude do metrô, da negligenciada saúde nos hospitais (que Gabeira não pôde visitar por injunção da justiça), e de um vastíssimo etcetera chegara a hora de outra prestação de contas, muito diferente da blindagem amiga das comissões parlamentares de Brasília.  
        O terceiro não nos aconteceu quase por acaso. Tudo começou com uma renúncia imprevista de um papa muito letrado é verdade, mas um tanto dissociado da realidade. Se tivesse continuado no sólio pontifício, as Jornadas não teriam a repercussão que ora tem, e se adequariam ao nome latino dado ao vasto campo de Guaratiba.
        O colégio cardinalício nos trouxe agradável surpresa, e em tal momento houve realmente motivo o magno gáudio da ritual frase do cardeal diácono. Papa Francisco, pelo nome, pela simpatia e simplicidade, pela firmeza, e pela nova abertura de janelas, nos recorda o seu distante predecessor João XXIII.
         A esse pontífice argentino, que fala português com sotaque portenho, tanto a turma do palácio,quanto e sobretudo o povão, já entronizamos no coração. A espontaneidade dos braços estendidos, dos acenos frementes, dos bebês entregues na autenticidade da ansiada bênção, não se explicam apenas nos seus mergulhos na multidão, e nem na própria simplicidade.
        Pois Francisco não visita apenas a pontual favela, mas trata aquela gente com respeito, e reclama para eles não só a frágil pacificação, mas condições de trabalho e de ambiência que lhes respeitem a respectiva dignidade. Ao valorizar aquele pessoal humilde e trabalhador, ele repete o que fazia em Buenos Aires e em Roma.
        Nós católicos temos de saudar com alegria o não de Papa Francisco, que se estende às drogas e à corrupção. Para a idade, se alguns colecionam rancores, há um emprego mais proveitoso. O também jesuíta Padre Karl Rahner, o  teólogo do Concílio e o maior do século passado, não teve a ventura de vivenciar o fim do inverno na Igreja.
         A nós, que não temos a erudição desse grande teólogo, Papa Francisco vem trazer a alegria de uma Igreja que volta à planície, e onde o Santo João XXIII – a quem, para nossa felicidade, o atual Pontífice tanto se parece – voltará a sentir-se em casa.
  

 
( Fonte subsidiária:  Rede Globo )       

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