quarta-feira, 27 de março de 2013

O Engenhão e a Vergonha Nacional

                                 

            O que é o  Engenhão ? perguntarão muitos dos não cariocas.  É o estádio João Havelange, construído para o Pan-Americano de 2007, pela Administração do Prefeito Cesar Maia.  Arrendado posteriormente pelo Botafogo, para os jogos de futebol, está também preparado para abrigar eventos de atletismo.
           O Engenhão [1] é o principal legado do Pan-Americano e no momento atual constitui o único estádio disponível para os jogos de futebol, seja no corrente campeonato regional carioca, seja no vindouro campeonato brasileiro.
           Sem embargo, o Prefeito Eduardo Paes ontem convocou os responsáveis de futebol e os presidentes dos grandes clubes para informa-los de uma constrangedora realidade: por problemas estruturais com a sua cobertura, a prefeitura se viu obrigada a fechar o estádio.
           De repente, o Rio de Janeiro fica apenas com Sâo Januário, que é oitenta anos mais velho do que o Engenhão, foi construído com dinheiro privado, sendo orgulho da cidade e da torcida do Clube de Regatas Vasco da Gama.
            São Januário, ao lado de sua firmeza estrutural, conserva as dimensões e eventuais problemas das torcidas modernas, v.g. segurança e acesso, assim como o número insuficiente de catracas. Por isso, por laudo da Polícia Militar, o estádio do Vasco – que antes da Copa do Mundo de 1950 abrigara partidas do Arsenal contra o clube local – se acha desqualificado para os clássicos. Nada exclui, no entanto, que diante de uma situação de força maior, um esforço seja feito para que sedie jogos do campeonato do Rio de Janeiro.
           Será que realmente surpreende que as grandes obras recentes tenham vida curta isenta de problemas ? Alguém se lembra de algum problema maior que tenha afetado o Maracanã, inaugurado em 1950 ? Criança ainda assisti com meu tio Antonio Mendes Neto da arquibancada do Maracanã o jogo Brasil x Iugoslávia. Ganhamos de dois a zero, e pude ver com emoção o gol de Ademir, de sem-pulo, que abriu a contagem.
           Os públicos que lotaram o Maracanã – e houve diversas lotações acima dos duzentos mil – não lhe afetaram a estrutura. Se no passado subsequente, as lotações encolheram, tal se deve a preocupações ligadas ao maior conforto das torcidas.
           Se não tivessem, sob as prescrições da FIFA para a Copa do Mundo, posto abaixo o Maracanã – é bom lembrar a sucessão de atrasos por que passa a sua inauguração, com data ainda imprecisas – haveria dúvidas de que o velho Maraca estaria até hoje de pé, e bem obrigado, em termos de segurança estrutural ?
           Quanto às obras do PAN, feitas por Cesar Maia, o povo do Rio de Janeiro não estará esquecido os prazos não respeitados, o considerável atraso na sua terminação, a par de diversos problemas que tiveram de ser resolvidos de última hora, como a Vila Olímpica e o Conjunto Maria Lenk.
           No que tange ao Engenhão, como disse o Prefeito Eduardo Paes, ‘ é um problema de estrutura. (...) Não ficaremos apenas no laudo (apresentado por engenheiros do consórcio e da RioUrbe).  A questão da origem do problema vai ser apurada para que as pessoas possam  responder por seus eventuais equívocos (o grifo é do blog). Desde a inauguração, em 2007, o Engenhão apresenta problemas. Por isso, monitoramos com frequência.  Se ficar provado que é erro de projeto, a prefeitura arcará com as despesas.’
           Nesse contexto, é interessante assinalar  que o estádio teve a conclusão acelerada depois que a Delta desistiu das obras, inicialmente orçadas em R$ 60 milhões. Com mais gastos e menos qualidade do que o previsto, o Engenhão sofreu com a transição.
           Como o Engenhão já vinha apresentando problemas – e agora há risco de que a cobertura venha a ruir – é estranhável que somente às vésperas  da Copa, sem na falar na Olimpíada, o Rio se encontre com um único estádio de futebol, que infelizmente não pode preencher os requisitos da FIFA e da Liga Olímpica, que é São Januário.
           Ao invés do Engenhão, o oitentão São Januário está firme. Retrato, sem dúvida, de outros tempos, quando havia um pouco mais de vergonha na cara.
           E agora  José ?

 

( Fonte:  O  Globo )    



[1] Há um arraigado costume no Brasil de que os nomes dos estádios pouco tenham a ver as suas designações oficiais. São exemplo disso, além do Engenhão, o Maracanã, o Mineirão e o Pacaembu.

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