sábado, 9 de março de 2013

Disfunções Executivas

                                      

         Ontem apareceu, uma vez mais, no horário nobre da televisão, a Presidente Dilma Rousseff. Tal não pode ser comparado à deslavada invasão da telinha por essa sopa de letras em que se transformou a política brasileira. Transformados em balcões de negócio pela absurda negativa do STF em admitir o limite do bom senso à representatividade partidária, a física quântica virou norma não só de representação eleitoral, mas também de presença no ministério.
        Vivemos no reino do faz-de-conta. No passado, havia a esperança de que os excessos trouxessem no próprio bojo o germen que levaria à sua extinção futura. Hoje, no carrossel dos absurdos passam diante de nós imagens de assassinos confessos que, apesar de condenados, ficam ao largo, por disporem de hábeis advogados, por mais de uma década, enquanto a de um miserável que arranca casca de árvore porque está com fome vai para a cadeia.
         Agora nos cabe dar espaço ao gosto que a presidenta tem em aparecer na hora do Jornal Nacional. Cercada pelo temor dos círculos palacianos e ministeriais, não surgirá ninguém nesse áulico círculo, que venha sussurrar-lhe da conveniência de não abusar do espaço que lhe é concedido pela absoluta liberdade de utilização do tempo televisivo, de que se apropriou o Estado brasileiro ?
         O fato de a cancela estar aberta não significa necessariamente que se deva passar por ela. Atendida a relevância da data para a mulher, não  teria sido quiçá melhor  evitar-se a polêmica aparição anterior, mantendo-se por mui compreensíveis razões, a alocução de ontem ?
         Antes de contestar-me, senhora Presidente, permito-me recomendar-lhe que mande algum assessor seu fazer levantamento das intervenções televisivas de seus predecessores imediatos. Tanto Lula da Silva quanto FHC as utilizaram com moderação, e se agiram de tal forma, o fizeram por que sabem – ou alguém lhes ponderou -  que não é inteligente baratear a própria presença na telinha. Se estamos longe do tempo em que chefes de estado valorizavam pela raridade as respectivas aparições, o que levou seus antecessores a optar pela discrição terá sido a preocupação de não banalizar as suas falas televisivas.
         Há outro aspecto que gostaria de assinalar. Não há negar o aspecto meritório do corte dos impostos federais sobre a cesta básica. A iniciativa está na linha da desoneração fiscal, encetada de forma episódica por Lula (& Mantega), em bens automotivos e de consumo durável. Foram ações pontuais ao ensejo da crise financeira internacional (marolinha no Brasil).
         Talvez tais ações coubessem em um momento dado. Mas elas correspondem a uma estratégia fragmentária e segmentada.
          Não se faça ilusões, Senhora Presidente. Não será através de um enfoque varejista que se combaterá a inflação, e que se alavancará o PIB. De que nos serve a micro-economia para confrontar problemas macro-econômicos ?
          Na terra do impostômetro, não será com boas mas isoladas ações de cortar impostos federais em campos laterais, que iremos combater de forma eficaz a carestia. De que adianta cingir-se a cesta básica e conta de luz, enquanto não se dá ao Banco Central a licença de valer-se da taxa Selic, seu único instrumento para controlar a inflação - que já bate no teto dos 6,5% ?
          A despeito de sua linguagem de que não admitirá o retorno da inflação, lamento dizer-lhe que a retórica não impressiona o dragão.  Se fosse bastante, muito antes do Plano Real ela já estaria morta, prostrada pela força ensurdecedora de uma pluralidade de planos heterodoxos.
           Todos sabemos que não foi assim. Só quando o poder executivo resolveu aprender economia e finanças, e tirar as consequências desse aprendizado, é que o flagelo foi controlado.
            Quero crer que não tenha sido por sua vontade, mas a inflação voltou. Ainda não tem a força de antes, mas cumpre não se fazer ilusões sobre a sua irrupção. Por mais que a senhora a negue, ela está aí, e a sua vinda só pode ser atribuída ao seu governo.
            Como na Antiguidade, não basta gritar que Haníbal está nas portas de Roma. É preciso enfrentar o desafio antes que ele nos leve de roldão. Pois nesta matéria há dois pontos capitais que não devem ser esquecidos: a inflação concerne a todos e a tudo corrói. Porém se ela vier, como se anuncia, ninguém terá dúvida em apontar quem é dela responsável.

 

( Fontes subsidiárias:  Folha de S. Paulo,  O  Globo )

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