segunda-feira, 25 de março de 2013

Guerra na Síria : Perspectivas

                                   
                                       

              Ao contrário do levante de Benghazi que levara  à rápida queda do ditador Muammar Kaddafi,  os rebeldes na Síria não dispõem de acesso equivalente em termos de fornecimento de armas.
              Uma das causas da extensão da guerra civil síria, que já está no seu terceiro ano, é o apoio recebido pelo ditador Bashar al-Assad por dois aliados. Putin tem favorecido bastante o regime alauíta, malgrado as respectivas afirmações sobre a sua crescente fragilização.
              Por causa da base naval de águas quentes de Tartus, assim como todos os fundos empenhados na salvação do cambaleante Bashar, o Kremlin não tem poupado esforços, a começar por blindar Damasco contra qualquer intervenção significativa de parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
              A par disso, o Irã dos ayatollahs consideraria um desastre de grandes proporções a queda do domínio da seita alauíta, próxima dos  xiitas, na Síria. Não é a toa que Teerã montou um virtual corredor aéreo diário para Damasco, com fornecimento de armas e de homens para o exército sírio, que deles não pode prescindir em função das pesadas perdas experimentadas no dia-a-dia, assim como para suprir o equipamento de que a evolução do conflito  tem feito passar para o controle da Liga Rebelde.
              A queda de Bashar representaria derrota para o campo xiita, eis que, além do consequente maior isolamento do regime dos ayatollahs, também sofreria o movimento do Hezbollah, no Líbano, que se descobriria privado da útil intermediação de Bashar na Síria. Por isso, o clérigo Nasrallah não escatimará esforços para auxiliar o aliado Bashar nesta sua difícil hora.
              É necessário igualmente ter presente que o corredor aéreo de abastecimento de Bashar subsiste por causa do Primeiro Ministro iraquiano, Nuri Kamal al-Maliki, que é xiita, e por conseguinte aliado de Ali Khamenei  no  Irã e de Bashar na Síria.
              Em visita a Bagdá,  o novo Secretário de Estado John Kerry aumentou a pressão sobre o Primeiro Ministro Nuri  al-Maliki, para que detenha o fluxo de armas, enviadas por Teerã para Assad. Se o governo do Iraque deseja participar das deliberações sobre o futuro da Síria, Maliki teria de fechar esse conduto. Como o chefe do governo do Iraque tem boas relações com o estamento em Teerã, e não dispõe de meios aéreos comparáveis aos dos ayatollahs – que lhe daria mais condições de interromper tais fornecimentos -,  semelha muito improvável  que o Primeiro Ministro iraquiano venha a ajudar o campo sunita, pertencendo ele de resto ao tabuleiro xiita.
               A Liga Rebelde se queixa das dificuldades que encontra para abastecer-se de armas. Muitas dessas são arrancadas do próprio exército de Bashar. Por outro lado, os fornecimentos aos rebelde se tem limitado a envio de armas da Croácia – às expensas da Arábia Saudita – e de outras remessas menores.
                Ainda pesa sobre os partidários do apoio aos rebeldes a relutância de Barack Obama em fornecer-lhes armas. Teria ele presente as armas que no passado quando da jihad no Afeganistão foram parar em mãos de terroristas islâmicos e eventualmente  de o que depois viria a ser a al-Qaida.
                A discussão no campo dos amigos da Liga Rebelde continua, e por ora Assad se prevalece da gritante disparidade no apoio por ele recebido.
                Nessas circunstâncias, será inteligível que haja uma certa perplexidade no Exército rebelde. Para eles, a cautela de Obama – que contrariara as recomendações dos então maiores expoentes de seu gabinete -  poderia redundar em favorecer aquilo que justamente se deseja evitar, i.e., a sobrevivência de Bashar al-Assad.  Em fim de contas, certos riscos têm de ser corridos, mormente se se tiver presente que é muito complicado fazer omelete sem quebrar ovos.

      

 ( Fonte:  International Herald Tribune  )

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