sexta-feira, 29 de março de 2013

Dilma e o Crescimento da Inflação

                        
                                 

      Basta uma rápida análise de meus blogs econômicos para que se perceba que nunca  acreditei na firmeza da postura anti-inflacionária da Presidenta. Os seus ditos se ressentiam da oca ênfase dos ministros da fazenda nos tristes tempos do dragão. Dilma repetia com seus bordões  suposta estratégia verbalista que não tem eficácia alguma. O que preocupava, na verdade, não era o emprego de tais pajelanças, mas o uso de linguagem que presumia  projeto que desafina dos padrões de ortodoxia financeira.
      Não sei em que cartilha D. Dilma encontrou compatibilidade entre inflação e desenvolvimento. Nas palavras de mestre de Míriam Leitão, o quadro é bem diverso: ‘por sua natureza, a inflação, quando sobe, consome renda e capacidade de consumo, desorganiza a economia, aumenta a incerteza e isso leva à retração dos investimentos. Uma inflação baixa e previsível é o melhor ambiente para a construção de um projeto de crescimento.’
      Não vamos por ignorância ou estultícia repetir erros do passado. A economia brasileira, depois do dito milagre, se arrastaria por anos a fio no ramerrame da década perdida. A inflação começaria embalada pelas cantigas de ninar do desenvolvimento fácil, e pelos projetos pagos com dinheiro sem lastro. Como na frase célebre, a tragédia inicial se iria repetir em farsa, e o cemitério dos planos heterodoxos, com seu rastro de raiva,espoliação e miséria, está aí para todos verem.
       O que mais confrange não é a experiência em si, mas a efetiva possibilidade  de que o trabalho de uma geração, epitomizado pelo Plano Real, possa ser ferido de morte pela imprudência nascida da húbris de governante.
       Que não se iludam, porém, com as negativas repetidas. Se se continuar a exorcizá-la com votos retumbantes, a carestia – que infelizmente já aí está no incessante recuo das metas de estabilização, como melancólica retirada de exército derrotado – há de envolver o que resta da economia saneada.
        Não há erro maior em política do que malbaratar o legado recebido. E com voz grossa ou fina, com chamadas no horário nobre da tevê, nas ruas e nos jornais a ácida verdade se estenderá à túnica e há de transformá-la de incômoda carga nas letras indeléveis de que até os analfabetos sabem da maldição que trazem consigo.

         

( Fonte:  O Globo )

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